Ruínas - Capítulo 30

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Sophia saiu, quase que correndo para o lado de fora novamente, agora não tinha nada que a prendesse ali, já tinha cumprido todas as suas obrigações de madrinha, podia chorar a vontade e borrar sua maquiagem, não importava mais. Com os braços apoiados numa mureta que tinha perto da porta ela ficou ali parada olhando para o céu.

Alguns convidados passavam por ela a olhando, mas não se importava muito. Não ligava para a opinião de ninguém, só queria ir pra casa e deitar em sua cama. Se surpreendeu quando alguém escorou ao seu lado, o perfume reconhecível até de longe. Ela passou a mão no rosto, como agora pouco se importava com a maquiagem. Os dois ficaram isso silêncio olhando para as estrelas.

- O que veio fazer aqui fora? – Perguntou um pouco rude.

- Nem eu sei. – Ele deu de ombros.

- Então volta lá pra dentro, certeza que a não vai gostar de te ver aqui. – Falou o nome com certo deboche. – Ainda mais sozinho comigo.

- Ela não tem nenhum motivo pra ter ciúme de você. – Foi rude como ela. – Embora eu não tenha contado nada do que aconteceu a ela, ela sabe muito bem que eu a...

- Ama? – Perguntou interrompendo Micael. – Você saiu do salão e veio aqui tirar a minha paz pra dizer que ama outra mulher. É isso?

- E se for? – Ergueu uma sobrancelha.

- Micael, quem vai te pedir agora sou eu, faz um favor pra nós dois e não fala mais comigo não. – Ela pediu, usando quase as mesmas palavras que ele usou naquele dia que sumira. – Eu estou tão exausta disso tudo.

- Disso o quê? – A sobrancelha se manteve erguida. - Eu não vejo nada demais.

- Chega, tá legal?! – Falou um pouco alto. – Eu sei que eu errei, eu já assumi que errei!

- E...? – Não entendeu onde a mulher queria chegar.

- E que eu não aguento mais. – Suas lágrimas agora ainda mais frenéticas. – Eu venho me sentido um lixo desde que tudo aconteceu, eu não tenho ânimo pra trabalhar, pra comer, pra sair. Eu estou um caco e tudo porque eu sei que fui eu quem fodi com tudo. – Ele se manteve em silêncio. Algumas pessoas ali já se aproximavam pra ver a briga. – Mas eu me arrependi.

- E você se arrepender muda o que você fez? – Sua voz era debochada.

- Não muda, nada vai mudar o que eu fiz. – Falou entre soluções. – Mas eu já implorei pra você, eu já supliquei, eu já me humilhei e eu deixei você me humilhar muitas vezes, mas isso acaba agora! Eu não vou viver o resto da vida assim, eu não vou viver o resto da minha vida me martirizando por um homem que esfrega uma namoradinha na minha cara porque sabe que eu ainda mexo com ele.

- Não foi por isso que eu trouxe a Fernanda aqui hoje. Você está ficando louca. – Ele se defendeu e Sophia bufou. Agora as lágrimas tinham cessado, estava possessa.

- Pra que inferno você veio atrás de mim? – Seu tom de voz agora muito mais alto chamou a atenção de quase todo mundo. – Some da minha frente, Micael. Porque você pode ter certeza que eu não vou mais ficar correndo atrás de você não. Essa última foi imperdoável.

- Eu trazer a minha namorada pra festa foi imperdoável? – Ele falou no mesmo tom. – Imperdoável foi o par de chifre que você colocou na minha cabeça. Não vem reverter as coisas, não vem se fazer de vítima porque pra mim não cola. Você esfregou esse cara na minha fuça duas vezes ainda.

- Eu não sabia que ia te ver nenhuma das duas vezes, senão eu não teria feito. Ao contrário do que você pensa, eu realmente me importo com o que você sente. Quero dizer, me importava. Agora eu quero é que se foda. – Sophia gritou e Lua entrou no meio, já cansada de assistir aquela confusão.

- Você disse que sabia se comportar! – Cobrou da amiga. – Não estou vendo isso.

- Eu estava aqui quieta no meu canto, ele apareceu pra fazer sabe-se lá que inferno. E eu estou cansada de me deixar humilhar por todo mundo, Lua. Cansada dos olhares de acusação. Eu já sofri demais e com certeza muito mais que você. – Gritou pra Micael por cima da amiga baixinha. – Eu tenho certeza que muito mais porque eu tive remorso.

- Chega, Sophia! – Entregou a bolsa carteira a ela. – Eu chamei o Douglas pra vim te buscar, vai embora. Você precisa descansar.

- Ótimo, o garanhão vem ai. – Sophia se irritou ainda mais com o deboche.

- Fez muito bem Lua, porque eu não fico aqui nem mais um segundo. – Virou as costas e saiu esbarrando nas pessoas, em direção a saída. Mel, Lua, Chay e Arthur seguiram correndo atrás da loira, que claramente estava transtornada. Micael deu a mão a namorada e acabou seguindo os amigos, assim como alguns curiosos.

Um barulho alto de freada de carro e de um corpo rolando no asfalto ecoou pelo lugar. Micael encarou a namorada e os dois apertaram o passo dando uma corridinha até o portão. Sophia estava no chão, desacordada. O para-brisa do carro quebrado, Lua desesperada segurava a mão da amiga. Sangue escorria de sua cabeça.

- Essa maluca se jogou na frente do meu carro. – O motorista falou com a mão na cabeça também machucada. – Ela literalmente se jogou. – Se agachou colocando dois dedos no pescoço dela e verificando que ainda tinha pulso. – Já chamaram uma ambulância? – Arthur assentiu. Micael puxou o braço de Mel pra perto, sabia que ela tinha visto o que aconteceu.

- Que história é essa? – Perguntou baixo e a namorada dele também prestava atenção. – Como assim ela se jogou?

- Ela estava andando descontrolada, mas na calçada. – A voz de Mel era falhada devido as lágrimas. – Ela viu o carro vindo, olhou pra gente com um olhar de despedida e entrou na frente quando o carro chegou perto o suficiente pra não desviar.

- Você está me dizendo que a Sophia tentou se matar? – Ele tinha os olhos arregalados. Não era possível que aquilo era por sua causa. – Puta que pariu.

- Ela não andava muito bem ultimamente, estava bem deprimida, mas eu não achei que fosse tentar se matar. – Ela completou. - Deus queira que fique tudo bem.

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