Ruínas - Capítulo 189

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- Soubemos que você passou mal na semana passada. – Sophia interveio também. – Não acho uma boa ideia ficar sozinha assim logo de cara.

- Ai ai, vocês acham que eu virei uma invalida né? – Ela alternou olhares entre os três. – Eu sou capaz de me cuidar sozinha.

- A gente sabe, mãe. – Micael estava pronto pra alfinetar o pai mais um pouco. – Mas o meu pai adora fazer isso por você. – Soltou uma boa gargalhada com a expressão de Jorge. – Deixa o velho ser feliz.

- Micael! – Ela disse sem graça. Eles foram interrompidos pelo toque do celular de Antônia que estava sobre a mesinha de centro. – Pega pra mim?! – Apontou para a mesa. Micael se virou e pegou o celular, mas antes de entregar a mãe, leu o nome no visor.

- Joseph? – Franziu a testa pra mãe. – Pensei que você não falasse mais com esse cara. – Antônia deu de ombros.

- De uns tempos pra cá ele passou a me ligar. – Ela pegou o telefone e enviou a chamada pra caixa de mensagens. – Mas eu não atendi a nenhuma das chamadas.

- E ele continua ligando? – O moreno parecia bravo. – Mãe você não está dando confiança pra esse cara de novo não né?

- Me respeita, Micael. – Disse brava. – Eu sou sua mãe e não uma adolescente por ai.

- Esse papo está super estranho! – Seguia desconfiado. – Se você não atendeu a nenhuma chamada, por que ele continua ligando?

- Não sei, Micael. – Ficou de pé. – Eu não atendo. – Saiu da sala um pouco apressada, resmungando algo sobre aquele monte de perguntas.

- E você, como está com isso? – Micael perguntou ao pai, que estava bem quieto depois do telefonema. – Não parece que está bem, mas também não parece surpreso.

- Eu já tinha percebido sua mãe cochichando por ai no telefone e que era claramente pra eu não ouvir. – Deu de ombros. – O que eu posso fazer? É a vida dela.

- Ingrata do caramba! – Estava um pouco irritada. – Ela não pode aparecer na nossa vida depois de mais de quinze anos, doente, sem teto, ai quando fica boa começa a se engraçar com esse gringo idiota de novo.

- Micael, fala baixo. – Sophia pediu. – A sua mãe pode ouvir.

- Mas ela tem que ouvir, Sophia. – Manteve o tom. – Ela acabou de dizer que está quase boa, aguenta umas verdades. – Bufou. – Isso não é justo nem comigo e muito menos com ele. – Apontou para o pai. – Meu pai parou metade da vida pra ficar cuidando dela, pra ficar acompanhando em médico, em sessões de quimioterapia. Pra agora ela chamar o bonitão e ir embora pra puta que pariu.

- Ela não é obrigada a ficar. – Jorge enfim se manifestou. – Eu ajudei porque ela estava doente e precisava de alguém, mas isso não faz ela ter obrigação de ficar comigo.

- Mas é uma puta falta de consideração. – Estava revoltado. – Ela usou nós dois.

- Gente, pelo amor de Deus, vocês estão tirando conclusões precipitadas. – Falou para os dois. – Antônia nem falou nada.

- Ela falou que já estava na hora de "caçar um rumo" e logo depois o telefone toca e é o gringo. Isso não me parece muita coincidência. – Disse ainda com raiva. – Ela vai dar no pé e sumir por outros quinze anos.

- É isso que te preocupa? – Ele se sentou no sofá e colocou as mãos na cabeça. – Ela não vai cometer o mesmo erro. – Sophia se sentou ao lado de Micael e passou as mãos pelas costas do noivo. – E além do mais agora você é um adulto.

- Se a gente sobreviveu uma vez, sobreviveremos outra. – Jorge deu de ombros como se não ligasse, mas a expressão no rosto dele o entregava.

- Eu não preciso dizer de novo que vocês estão se precipitando né? – Alternou olhares entre os dois. – Vocês três tem que conversar pra saber o que está acontecendo.

- É que parece que tá bem claro o que está acontecendo. – Ele ergueu a cabeça. – Eu não preciso ir até lá gastar a minha saliva.

- Meu Deus, vocês dois são muito cabeça duras, não é atoa que vivem brigando, ninguém aguenta isso. – Bufou e saiu de perto deles, indo em direção ao quarto que Antônia ocupava. A porta estava entreaberta e Sophia entrou devagar, viu a sogra deitada na cama com o que parecia ser uma foto na mão. – Antônia?! – Chamou a atenção da mulher que não demorou a esconder o retrato embaixo das cobertas. – Me desculpa, a porta estava aberta, eu não queria atrapalhar.

- Encosta pra mim? – Pediu com a voz baixa, apontando pra porta e não demorou a Sophia fechar e logo se sentar junto a ela. – Aconteceu alguma coisa?

- Vim ver como você está. – Sorriu. – Micael e Jorge são demais as vezes.

- Eu ouvi as coisas que o Micael falou de mim quando eu sai da sala. – Tinha os olhos cheios de lágrimas. – Não adianta eu tentar me redimir pelo que passou. Eu marquei o Micael pra sempre, não posso fugir disso.

- Ele só tem medo de te perder de novo. – Segurou a mão de Antônia. – Ele não quer que você vá embora, e ao invés de dizer isso e pedir com carinho dizendo que se importa com você, ele vai te atacar com as piores palavras que você já ouviu. É o jeito dele.

- Me parece que você fala por experiência própria. – Soltou uma risadinha. – Imagino que esses quatro anos não tenham sido fáceis.

- Já ouvi tanta coisa. – Fez uma careta. – Não posso dizer que não mereci, mas é duro, ele sabe ser cruel quando está com raiva. – Antônia assentiu, tentando ao máximo prender as lágrimas. – Ele já vai se acalmar e te pedir desculpas.

- E será que eu mereço esse pedido de desculpas? – Sophia franziu a testa sem entender. – Eu não sou mesmo uma "ingrata do caramba"?

- Está realmente pensando em ir embora de novo? – A loira tentava se manter neutra. – Sabe que eu até pensei que você e o Jorge iam se entender de novo.

- Existem coisas mais importantes do que os meus sentimentos por ele. – Secou algumas lágrimas que insistiam em escorrer por sua bochecha. – Esses meses que eu passei aqui, ele fez eu me lembrar do motivo de ter casado com ele. – Tinha um sorriso no rosto. – Alegre, brincalhão, atencioso, carinhoso...

- Brincalhão. – Ela riu. – Eu vejo muito mais ele sério do que brincalhão.

- É porque sempre tem algo estressando ele, Jorge trabalha demais. – Justificou. – Eu me recordei do motivo de ter vivido bons momentos, antes do batalhão de brigas começar e eu não aguentar mais.

- Fala a verdade, você o ama ainda. – Encarou a sogra. – Você já teria dado entrada no divorcio se não amasse. Quando eu vejo vocês dois juntos, o jeito como ele te olha e te trata, o olhar de admiração que você tem por ele, é o que eu quero pra mim no futuro. Essa cumplicidade.

- Vocês tem isso. – Passou uma das mãos no rosto de Sophia. – Mesmo com todas as turbulências, é possível ver isso no olhar de vocês.

- Então por que você não admite que ainda o ama e fica por aqui?

- Como eu disse, as coisas vão além dos meus sentimentos por Jorge. – Antônia suspirou e pegou a fotografia que estava olhando quando Sophia invadiu o quarto. A loira olhou e não entendeu nada. Era um menino, com cabelos castanhos tão claros que beirava o loiro. Os olhos negros em contraste com a sua pele clara. Tinha um sorriso banguela que contagiava. O menino lhe parecia familiar. – Esse é Anthony, meu filho.

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