Ruínas - Capítulo 191

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- O que está acontecendo aqui? – Micael perguntou quando saiu do transe. Sua voz já era bem hostil. Sophia encarou Antônia e o menino abraçados, a mãe deu um beijo na cabeça da criança e se abaixou.

- Meu amor, preciso que você dê uma volta com a Sophia. – Antônia olhou pra loira que assentiu. – Depois a mamãe te explica tudo.

- Mas nós acabamos de chegar. – Franziu a testa. – Eu quero ficar um tempo com você.

- Nós vamos conversar, assunto de adulto. – Explicou com a voz calma. – Eu juro que quando vocês voltarem a gente fica junto. – O menino assentiu. Sophia esticou uma mão pra ele e os dois saíram. Um silêncio bem desconfortável pairou sobre a sala. – O que você está fazendo aqui, Joseph?

- O que eu estou fazendo aqui? – Ele falava português, mas seu sotaque era bem carregado. – Eu te liguei muitas vezes e você não atendeu a droga do telefone. Eu estava tentando te avisar que estava vindo trazer o Anthony.

- Do nada? – Cruzou os braços. – O que foi que aconteceu?

- Você está há meses aqui, Antônia, seu filho sente sua falta. – Estava irritado. – Ou você acha que falar com ele no telefone é suficiente?

- Pelo menos com ele, ela falava no telefone. – Micael sussurrou, só Jorge o ouviu.

- Será que a gente pode conversar depois? – Olhou pra Jorge e Micael. – Por favor.

- Você que sabe. – Rolou os olhos. – Eu vou te mandar o endereço do hotel que estou hospedado e você leva o Anthony lá depois, pode ser? – Ela assentiu e ele saiu da casa sem falar mais nada. A mulher andou até a porta e a fechou, deu um longo suspiro antes de encarar o olhar do filho e do ex marido.

- Eu... – Não sabia como começar.

- É uma abandonadora de filhos. – Micael começou a acusar. – Quantos anos esse menino tem? Dez também? Deve ser sua especialidade criar os filhos até os dez e depois ir pra puta que pariu.

- Micael, você nem ouviu o que eu tenho a dizer e já está falando barbaridades. – Rolou os olhos. – Eu não abandonei ninguém.

- Mudou de nome agora. – Ele debochou olhando pra Jorge. – Como chama?

- Micael, larga de ser debochado. – Brigou. – Quando eu decidi vir pra cá, pra rever você, eu ia trazer o Anthony. Acontece que ele não quis.

- Ele não quis? – Ergueu uma sobrancelha. – Essa vai ser a sua desculpa?

- Que desculpa o que, Micael. – Rolou os olhos. – Eu estou falando a verdade, eu dei essa opção pra ele, eu perguntei se ele queria vir comigo. Ele escolheu ficar com o pai e com a vida dele lá. Eu respeitei a decisão dele.

- Ótima, mãe. – Seguiu debochando.

- Joseph também tinha me dito que não nunca permitiria que eu trouxesse o nosso filho. Eu sentei e conversei com ele, disse que se quisesse vir comigo, eu brigaria na justiça pela autorização.

- Entendi. – Foi só o que respondeu.

- Eu só quero saber como é que esse cara sabe o meu endereço. – Jorge parecia bem tranquilo, mas eles sabiam que não estava bem. – Porque eu com certeza não dei.

- Ele descobre tudo o que quiser. – Deu de ombros, como se aquilo não importasse. – Quem você acha que me deu o telefone do Micael? O endereço atualizado do restaurante? – Bufou.

- Já deu pra mim, eu vou pra casa. – Comunicou. – Vocês que se resolvam. – Não encarou nenhum dos dois.

- Você não vai sair daqui com raiva de mim de novo. – Se colocou na frente de Micael. – Filho, eu amo você, entende o meu lado, por favor. – Soltou um longo suspiro. – A gente passou ótimos meses juntos, a gente já tinha se entendido. Não fica com raiva de mim por causa disso.

- Você podia ter contado que eu tenho um irmão. – Cruzou os braços, mas sua voz era bem mais branda. – Eu teria gostado de saber.

- Ok, eu reconheço que errei, mas por favor, não vamos brigar de novo. – Juntou as mãos como se tivesse implorando. – Além do que o Tony vai adorar te conhecer, ele sempre quis.

- Ele sabe que tem um irmão? – Ergueu uma sobrancelha.

- Eu não apaguei você da minha vida quando fui embora. – Ela bufou. – Claro que ele sabe.

- Você e esse cara estão... – Tentou formular uma frase mas não deu muito certo. Antônia conseguiu ver a careta se intensificar ainda mais no rosto de Jorge. – Juntos de novo.

- Claro que não e nem vamos estar. – Suspirou. – O único motivo pelo qual eu estava pensando em voltar, era pelo Tony. Eu não podia ficar aqui pra sempre, por mais que eu quisesse. – Saiu da frente de Micael e caminhou um pouco mais pro lado de Jorge. – E eu quero, mas não dá pra deixar ele lá pra sempre, desconfio que Joseph não seja tão bom pai quanto você. – Jorge deu uma risada.

- Isso significa que se eu tivesse sido um péssimo pai você teria voltado antes? – Seus olhos brilhavam. – Por que eu não pensei nisso antes?

- E você foi um bom pai? – Micael alfinetou. – Não estou lembrado. – Os dois encararam Micael sério e ele ergueu as mãos em sua defesa. – Foi só uma brincadeirinha. Azar do Anthony que não tem um paizão que nem eu tenho. – Debochou.

- Micael, eu juro que eu vou te dar a surra que nunca dei. – Jorge ameaçou e arrancou uma risada do filho. – Só isso que faltou pra eu ser um bom pai.

- Eu vou deixar vocês ai conversando e vou atrás da Sophia. – Os dois assentiram. – Não exagerem aqui na sala, vamos chegar a qualquer momento. – Piscou um olho pro pai e saiu da casa rindo.

- Micael é tão idiota. – Antônia disse com vergonha. – Talvez você não tenha feito um trabalho tão bom assim.

- Claro que fiz, responsável, trabalhador, formado, educado... – Fez uma pausa. – Educado nem tanto e as vezes é irresponsável também, mas fora isso... – Os dois começaram a rir, mas logo o momento voltou a ficar sério. – Eu criei o nosso filho com todo amor do mundo, por mais que quando ele completou seus doze anos e começou a entrar na adolescência a gente brigasse direto. Fiz o melhor que pude e sabe, eu tenho muito orgulho do homem que ele se tornou.

- Eu também tenho. – Se aproximou um pouco mais. – Eu sinto muito por não poder ficar, eu não sei se você vai me entender, mas eu não posso cometer o mesmo erro, eu quero estar ali pro Anthony e fazer as coisas certas dessa vez. Eu só vim por causa da doença, eu precisava me desculpar com ele. – Jorge colocou as mãos no pescoço de Antônia e fez carinho nas bochechas com os polegares.

- Eu ainda amo você. – Antônia sorriu. – Todo esse tempo e eu nunca deixei de amar.

- Eu também amo você. – Ele também sorriu. – Já refleti tanto sobre nós, se tivéssemos tentando mais um pouco antes da decisão de separar, se eu não tivesse feito a maluca e ido embora com o Joseph. As coisas seriam tão diferentes agora.

- Não fala mais nada. – Colou as testas. – Mesmo que vá embora depois, agora, não fala mais nada. – Antônia assentiu e logo o beijo foi iniciado. 

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