Ruínas

Ruínas - Capítulo 64

- Eu já disse isso a ela algumas vezes, Branca. – Micael entrou no quarto sem as duas perceberem, ele tinha as duas mãos no bolso da bermuda e caminhou pra perto da cama. Branca ficou sem graça, mas não tanto quando Sophia que estava completamente vermelha. Ela se ajeitou na cama.

- Estava ouvindo essa conversa há quanto tempo? – Perguntou com a voz baixa.

- Ouvi quase tudo. – Ela conseguiu ficar ainda mais corada. – Não estava exatamente espionando, se é o que quer saber.

- Ah, é claro que não. – Sophia fez um bico, estava levemente irritada.

- Eu vou tomar um café e volto depois. – Branca pediu licença. Micael pegou o banco que antes era ocupado por Douglas e se sentou perto da cama. Soph cruzou os braços e não encarou o rapaz, não sabia o que dizer agora que sabia que ele tinha ouvido tudo.

- Responde a pergunta que sua mãe te fez, por favor?! – Ele pediu calmo, tão calmo que nem parecia Micael. Sophia franziu a testa.

- E de que importa? – Ela o encarou. – Nós já tivemos essa conversa antes, eu não quero tê-la de novo. Eu não quero ouvir as mesmas coisas de novo, eu não estou bem pra isso hoje.

- É tão difícil de entender as coisas, os sentimentos... – Mantinha sua voz no mesmo tom. – Vamos ser sinceros um com o outro, mais sinceros do que antes de ontem. Ok? – Sophia assentiu. – Você gosta dele?

- Não! – Fez uma careta, já tinha repetido aquilo mil vezes. – Já te disse que nunca passou de sexo. Já disse infinitas vezes.

- Então por que você não se afasta dele? – Micael agora tinha os braços cruzados. – Se você diz que me ama tanto e se importa comigo, por que não desfaz os laços que você tem com ele?

- Porque eu não tenho um motivo pra fazer isso. – Ela deu de ombros e despertou curiosidade em Micael. – Você não vai voltar comigo, sempre diz que não vai me perdoar. Eu não tenho motivo pra me afastar.

- Então se eu te pedisse pra se afastar, você se afastaria? – Ergueu uma sobrancelha enquanto aguardava a resposta da loira. – É isso? Esse tempo todo era só eu pedir? Simples assim?

- Onde você quer chegar com isso? – Seus olhos não se desgrudavam. – Eu não estou entendendo. Douglas virou um amigo, ele é gente boa.

- Gente boa demais. – Micael bufou. – Estou sabendo.

- A gente vai acabar brigando se o assunto continuar. – Avisou.

- Não quero brigar com você. – Ele suspirou. – Eu queria que a gente se entendesse um pouco. Queria entender os seus motivos.

- Isso tudo é pena de mim por causa que eu perdi o bebê por culpa sua? – Ele ficou de pé num pulo. – É culpa?

- Ficou doida, a culpa não foi minha. – Tinha os olhos arregalados. – Eu não tinha como imaginar que a louca da Fernanda ia na sua casa fazer o que fez. Se eu soubesse eu a teria impedido.

- Eu sei. – Ela recomeçou a chorar. – Eu só estou procurando desculpas. Eu amava minha Maluzinha.

- A gente supera. – Ele segurou sua mão. – A gente consegue superar bastante coisa.

- Até mesmo uma traição? – Ele ficou mudo, o silêncio completamente desconfortável. – Foi o que imaginei.

- Eu não sei se até mesmo uma traição. – Ele deu de ombros. – Acho que só vamos descobrir tentando. – Sophia levou alguns instantes para processar o que ele havia dito. Ela se sentou e virou o corpo de modo que ficasse de frente para Micael.

- O que isso quer dizer? – Ele tinha o sorriso de lado que sempre a cativou. Sophia o amava com todas as forças, precisava tanto dele, principalmente nesse momento. – Não brinca comigo...

- Eu não sei mais como agir com você. – Seu sorriso agora se abriu.

- Sempre fui sua, nada mudou. – A mulher se jogou pra frente iniciando um beijo. Ela estava tão feliz que algumas lágrimas escorriam por seu beijo durante o beijo, sentiram o gosto salgado e então o beijo foi encerrado.

- Para de chorar. – Ele tentou secar as lágrimas, mas era impossível, outras as seguiam. – Eu nem estou brigando com você. – Brincou e ela sorriu, mas a corrente continuou a escorrer por seu rosto. Ela o abraçou, sua cabeça apertada no peito ouvindo os batimentos acelerados de Micael. Ele apertou os braços ao redor da mulher. Ficaram bastante tempo assim, Micael deu um beijo no topo da cabeça dela e a afastou. – Ei, eu não vou fugir. – Ele brincou ao ver a careta que ela fez ao ser afastada.

- Quem sabe quanto tempo dura isso?! – Deu de ombros e Micael continuava achando graça. – Você é a pessoa mais bipolar que eu conheço. Nunca vi homem pra mudar de humor que nem você.

- Isso foi porque eu estava confuso, agora eu não estou mais, eu me decidi. – Passou os polegares pelas bochechas da mulher. Dessa vez conseguiu secar, o surto de choro tinha parado. – Eu cometi tantos erros tentando acertar o meu caminho...

- Shhh. – Ela colocou dois dedos na boca do moreno. – Eu amo você!

- Eu também amo você. – Sorriram um para o outro antes de iniciarem outro beijo. Mas foram interrompidos pelo médico que entrou no quarto e pigarreou alto, chamando a atenção dos dois.

- Eu preciso lembra-los de que estão em um hospital? – Ele deu bronca de leve e o rosto de Sophia estava vermelho de novo. – E você Sophia, não pode fazer sexo por pelo menos uma semana. – Sophia fez uma careta engraçada. – Fique de molho algum tempo e depois pode retomar sua vida normal. Eu vim assinar sua alta. – Entregou um papel assinado. O médico saiu do quarto em seguida. Logo Micael começou a rir encarando Sophia.

- Isso não foi engraçado, que constrangedor. – Ela brigou. – Ninguém merece tomar bronca de médico. – Se descobriu pra sair da cama.

- Ninguém mandou você me agarrar! – Ele seguiu rindo. – Ih, você não tem roupa pra ir embora. – Fez uma careta ao olhar a mulher vestindo aquela roupa verde de hospital. Vou ter que ligar pra Lua e pedir a ela pra trazer.

- Como assim ninguém pensou em trazer uma muda de roupa pra mim? – Fez cara de brava. – Vocês são foda hein.

- Mas a pessoa já tá brigando comigo mesmo? – Ele cruzou os braços. – Você nem mora tão longe daqui assim, Lua chega aqui rapidinho.