Ruínas - Capítulo 102

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- É... você não ligou num bom momento. – Falou sem graça, ouviu um grunhido da mulher ao telefone.

- Eu ouvi ele dizendo que não quer falar comigo. – Ela conseguia sentir a decepção na voz da sogra. – Avise a ele por favor, que eu vou voltar ao Brasil, e que irei visita-lo. – Desligou sem que Sophia pudesse dizer nada.

- Eu disse que era sua mãe. – Jorge quebrou o silêncio. – Não tem tanta gente assim fora do Brasil querendo falar com você.

- Querendo falar comigo não, porque até ontem nem ela queria! – Andava de um lado pro outro. – O que ela queria?

- Ela disse que está vindo pro Brasil e que vem visitar você. – Sophia deu de ombros e se sentou no sofá. – Mas também não disse nada sobre datas.

- E ela por um acaso sabe onde que eu moro? – Cruzou os braços. – Quem essa mulher está achando que é pra surgir do nada assim e achar que tem direito de falar comigo.

- Micael, querendo ou não, ela é a sua mãe. – Jorge tinha o tom de voz baixo. – Pode ser a desnaturada que for, mas pariu você.

- Única coisa que ela fez mesmo. – Bufou. – Porque na hora de me abandonar pra fugir com macho rico por ai ela não pensou duas vezes. – Jorge fez uma careta, era notável de longe que ele ainda gostava de Antônia.

- Ela não fugiu, nós estávamos separados e ela se casou novamente com um gringo. Não foi uma fuga. – Micael manteve a cara fechada e encarou o pai. – Não me olha assim, não fui eu que dei seu número a ela.

- Você está defendendo demais essa mulher, pai, ela sumiu por quinze anos. – Falava alto. – Não é possível que passou esse tempo todo e você segue gostando dela.

- Micael, deixa o seu pai em paz, vocês acabaram de ficar bem e se continuar falando desse jeito, vão brigar de novo. – Sophia tentou intervir. – Se ele gosta ou não da sua mãe, é problema dele.

- Eu quero ver se ela voltar aqui com o rabo entre as pernas, cara de arrependida e pedir mil perdões pra você, se você vai perdoar. – Ignorou o que Sophia tinha dito. – Ai vai ser ótimo que seremos uma puta família feliz de novo, não é mesmo?

- Micael, você está perdendo a razão, chega! – Sophia disse alto e Micael respirou fundo. – Por favor, para de ser cruel com o seu pai. – Ele encarou a namorada e respirou fundo algumas vezes.

- Me desculpa, pai. – Ele falou consideravelmente mais baixo, Jorge ficou de pé e deu de ombros.

- Eu vou pra casa. – Comunicou ao casal. – Espero você as dez e meia no restaurante amanhã. Tchau Soph. – Deu um beijo na testa da nora antes de caminha para a porta, Sophia correu até ele.

- Não fica chateado com ele. – Pediu ao sogro que já estava do lado de fora do portão. – Dessa vez eu tenho certeza que ele não falou por mal.

- Está tudo bem! – Forçou o sorriso e Sophia observou o sogro entrar no carro. Trancou o portão e caminhou pra dentro, fechou a porta com o pé e viu o namorado ainda no sofá, em silêncio, um tanto quanto pensativo.

- Pegou pesado. – Foi só o que disse e caminhou para o quarto, procurando uma roupa para vestir após o banho. Quando saiu do banheiro, Micael entrou para tomar banho também. Ela se deitou na cama e trocou algumas mensagens com Mel, perguntando se poderia ir à casa dela no dia seguinte. – Já está mais calmo? – Perguntou quando Micael saiu do banheiro e se deitou na cama, ao lado dela.

- Não sei. – Suspirou. – Eu realmente não sei.

- Vem cá. – Ela puxou o namorado pro colo e o abraçou, depois ficou fazendo cafuné. – Me desculpa por ter brigado com você, mas você foi estupidamente grosseiro com o seu pai.

- Eu sei. – Ele tinha os olhos fechados aproveitando o carinho. – Amanhã eu vou pedir desculpas de novo, mas é que é tão surreal essa mulher aparecendo depois de quinze anos.

- Essa mulher, querendo ou não, é a sua mãe. – Sophia falava bem baixo, não queria comprar uma guerra com Micael por causa de Antônia.

- Você reclama tanto da sua mãe porque ela te trata como uma criancinha, mas na verdade eu ficaria bem feliz se eu tivesse tido a minha mãe sempre comigo. – Ainda não tinha aberto os olhos. – Eu sempre me fiz de forte, mas sempre me doeu muito não ter a minha mãe por perto nas datas especiais, ela não teve coragem de ligar uma vez se quer. Ela não tem moral pra aparecer agora e dizer que quer falar comigo, ela já perdeu muito tempo e já se foi há anos a vontade que eu tinha de falar com ela.

- Amor, você não quer nem dar chance dela explicar as coisas? – Se afastou pra encarar a loira. – Explicar porque sumiu... Sei lá, vai que tem alguma explicação.

- Não existe explicação nenhuma pra isso, ela foi irresponsável, ela abandonou eu e o meu pai e não ligou pra saber se a gente estava vivo. – Balançou a cabeça. – Não quero saber dessa mulher e vou pedir a você pra por favor não defende-la.

- Eu não vou me meter nessa história. – Prometeu. – Só vou pedir pra você não ser grosso com seu pai. – Micael rolou os olhos. – Da pra ver de longe que ele gosta dela independente dos anos. Ele nunca superou e você precisa ser compreensível.

- Compreensível? – Sophia assentiu. – Ele devia ter mais raiva dela do que eu! Ele foi traído por ela, ela nos abandonou! – Falou alto.

- Na sala ele disse que eles já estavam separados. – Cruzou os braços e Micael bufou. – E você tinha dez anos, não tem como saber disso!

- Eles terminaram, ai semanas depois ela conheceu um gringo e viajou com ele? Isso não existe, eles deviam ter um caso há muito tempo, isso sim!

- Micael, você está julgando sem saber! – Repreendeu. – Isso não é legal.

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