Ruínas - Capítulo 24

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- Mas eu preciso falar com ele. – Tentou sair e mais uma vez foi impedida. – Douglas!

- Sophia, sair daqui e falar que "não é nada do que você está pensando" só vai fazer o povo ficar com mais raiva. – Ela suspirou. – Deixa que a Lua fala com ele. – Fechou a porta e assentiu. – Vou te levar pra casa e depois você liga pra Lua pra saber o que aconteceu, pode ser?

- Tá bom. – Recostou a cabeça no banco e fechou os olhos, ouviu o motor ganhando aceleração e não falou mais nada pelo caminho até sua casa.


- Bonito. – Micael bateu palmas pra Lua quando ela chegou perto. – Muito bonito!

- Eu? – Ela ergueu uma sobrancelha. – Arthur diz isso sempre. – Apontou para o marido escorado no portão da casa deles.

- Você sabe muito bem do que eu estou falando. – Ele estava bravo, realmente bravo. Lua não lembrava de tê-lo visto assim alguma vez. – Por que você saiu daquele carro?

- Porque me ofereceram uma carona. – Ela deu de ombros. – Queria que eu viesse andando?

- Lua! – Arthur a repreendeu.

- Arthur! – Ela rebateu no mesmo tom. – Eu não cometi nenhum crime, tá legal? Os dois bonitos estavam aqui a sabe-se lá quanto tempo, os dois tem carro e nenhum dos dois pensou "nossa, tá na hora da Lua largar, vou lá dar uma carona pra ela." – Fixou os olhos no marido. – Né, Arthur?!

- E agora você só volta de carona? – Micael continuou rebatendo. – Não sabe falar "não"?

- Eu não quis rejeitar a carona, bom que eu economizo. – Sorriu. – E o que tem demais afinal? – Ela sabia que o amigo estava morrendo de ciúmes.

- Você vai ficar desfilando por ai com a Sophia e o amante como se fosse uma coisa normal? Sem nem se importar com o que eu penso? – Lua viu os olhos do rapaz começarem a brilhar. – É isso que você vai fazer?

- Primeiro de tudo, ele não é mais amante dela, porque você terminou com a menina. – Ele bufou. – E se você terminou com ela, não devia se importar com quem ela namora ou deixa de namorar, Micael!

- Eles estão namorando? – Sua voz foi bem mais baixa e a expressão de tristeza era bem mais nítida em sua face.

- Não. – Suspirou. – A Sophia não quer saber dele.

- "Não quer saber dele" – Repetiu com a voz debochada. – Eu vi os dois passarem hoje na hora do almoço entre risinhos. Ai agora ele está levando ela pra casa e o pior é que você está junto ainda!

- Você viu? – Ela franziu a testa. – Ela tinha dito que não encontrou com você na rua.

- Ela não me viu. – Escorou no muro e olhou para o céu, começava a anoitecer. – Eu estava na porta do restaurante com o Rael e eles passaram. Pareciam estar se divertindo bastante, já que nem se deram o trabalho de olhar para o outro lado da rua.

- E então você veio aqui reclamar com o Arthur que a Sophia foi almoçar com o Douglas? – Ela sorriu.

- Isso é engraçado? – Encarou ela novamente. – Porque pra mim não é nem um pouco.

- Por que você não perdoa ela? – E foi a vez dele rir. – Tá na cara que você ama essa mulher.

- E como que eu vou confiar nela de novo? – Ergueu uma sobrancelha. – Eu não aguento olhar na cara dela de novo. Quer saber, que se danem os dois. – Jogou os braços pro alto e foi para o seu carro. – Eu não quero saber de mais nada! – Bateu a porta e arrancou com o carro sem dar tempo de Lua responder. Ela ficou olhando por onde o carro se foi com um sorriso no rosto.

- Que sorriso é esse? – Ele perguntou com uma sobrancelha arqueada.

- Ele vai perdoar ela, mais cedo ou mais tarde.

- Você acha? – Os dois entraram em casa. – Eu tenho minhas dúvidas. Ele chegou aqui tão transtornado pra contar que viu os dois juntos.

- Ele tem que perdoar ela. – Seu sorriso morreu. – Sophia não anda nada bem, ela está meio depressiva, sabe? – Jogou a bolsa em um sofá e se deitou no outro. Arthur sentou a seus pés e tirou o salto da mulher.

- Pelo que ele contou ela não parecia depressiva. Estava bem felizinha. – Começou a apertar os pés da esposa.

- Por mais que eu odeie admitir, Douglas a faz rir, e isso tá bom pra mim no momento. – Deu de ombros e fechou os olhos.

- E então agora você apoia ela namorar com ele?

- Não sei, eu só acho que se não vai rolar mais com o Micael, e se ela sente tanta atração por esse homem que fez ela traí-lo, que mal tem?

- E você não pensa no que vai sofrer o Micael se ela assumir um romance com ele? – Ergueu sua cabeça e encarou Arthur.

- Será mesmo que vai sofrer tanto assim? – Ela perguntou retoricamente. – Todas as vezes que eu encontro o Micael ele parece estar ótimo, parece que não dava a mínima pra Sophia. Que não ficou nem um pouco abalado com a situação. Diferente da Sophia que está se enfiando num poço de mágoas sem fundo, cada vez descendo mais e mais.

- E se ele finge estar bem pra gente? – Arthur franziu a testa. – Ele brincou no sábado, mas tinha razão. A gente não o vê na hora de dormir, quando ele finalmente está sozinho. A gente não tem como saber o que acontece de verdade com ele, porque com certeza essa fachada de durão e esse monte de insulto que ele fala da Sophia é só pra disfarçar, só uma barreira.

- Pode ser que você tenha razão, talvez o melhor mesmo sejam eles se afastarem um do outro, pelo menos enquanto a ferida que foi aberta não fechar. – Ele suspirou e largou os pés da esposa e começou a engatinhar por cima dela.

- E que tal a gente parar de falar dos outros e falar um pouquinho da gente? – Sussurrou em seu ouvido.

- Eu acho muito bom. – Sorriu maliciosa e se envolveu num beijo com o marido.


Sophia estava deitada na cama ainda com a roupa que havia trabalhado. Ela segurava forte o celular no peito e tinha a perna encolhida. Lagrimas nervosas escorriam por seu rosto molhando todo o travesseiro, mas ela não se mexia, não tinha vontade de secar o rosto, não tinha vontade de levantar daqui, a única coisa que tinha vontade de fazer era chorar toda a impotência que tinha quando o assunto era Micael.

Seus pensamentos eram dominados por ele, ela não tinha pra onde correr. No celular a foto dos dois em um dia qualquer brilhava na tela com a alegria nos olhos dos dois. Aquela foto revirava seu estômago de tal maneira que a fazia sentir um mal estar toda vez que observava por um certo tempo.

Cansada de apenas chorar e não ter nenhuma resposta das mensagens enviadas a Lua, a loira decidiu ligar para Micael. Sabia que não era uma boa ideia, sabia que as palavras dele provavelmente iam magoá-la ainda mais, mas precisava daquilo, precisava dizer a ele que não tinha nada com Douglas, que não queria nada com ele e nem com nenhum homem que viera a cantá-la em algum momento da vida. Tudo o que precisava era dele.

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