Ruínas - Capítulo 62

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- Não é possível que está me dizendo uma coisa dessa. – Voltou a gritar. – Você é louca, precisa se tratar!

- Eu não sou louca! – Abaixou os braços. – Era um feto, tinha três meses. – Micael seguia a encarando, completamente incrédulo. – Eu posso te dar quantos filhos você quiser.

- Eu não quero nem olhar na tua cara, quem dirá ter filhos com você. – Disse com o máximo de nojo que conseguiu. – Junta tuas coisas e sai da minha casa, agora!

- Pelo amor de Deus, Micael! – Ela tentou se aproximar. – Eu achei que aquela piranha estivesse mentindo!

Micael não sentiu o movimento que fizera. Observou a mulher cair no chão, sentada com a mão no rosto. Ele tinha lhe acertado um tapa. Nunca tinha passado pela sua cabeça realmente agredir a mulher, tudo era pensado na hora da raiva, mas ele sabia que não devia fazê-lo. Aquilo fora completamente inevitável, pensou em pedir desculpas, mas ela não merecia.

- Pega suas coisas e sai da minha casa. – Ele disse baixo, agora com a voz tranquila.

Fernanda ainda com a mão no rosto e com mais lágrimas escorrendo, se levantou e se pôs a pegar as coisas caídas no chão. Colocou em bolsas de mercado antes de sair dali, sem dizer mais nenhuma palavra a Micael. Ele não a perdoaria por aquilo, e nem ela o perdoaria pelo tapa. Estavam quites.

O moreno ficou deitado na cama por muito tempo, ele chorou todas as lágrimas que não tinha chorado na noite anterior e se esforçado pra não deixar escapulir na frente de Sophia. Por mais que não tivesse tido cem por cento de êxito, seria muito pior se ela o visse neste estado.

Não sabia quanto tempo se passou até se levantar pra ir tomar um banho, precisava ver Sophia. Diante de toda confusão, não tinha colocado o celular pra carregar, decidiu levar o carregador e conectar em alguma tomada que tivesse no quarto que Sophia estava.

Não demorou a estar de volta ao hospital e viu o quarto cheio, ao que parece Sophia tinha avisado Lua, Arthur, Chay e Mel. Ele passou pela porta e o silêncio reinou. – Por acaso estavam falando de mim? – Perguntou com um sorriso enquanto procurava uma tomada.

- A gente sente muito pelo bebê! – Lua foi a primeira a se manifestar, em seguida todos prestaram seu apoio.

- Obrigado, gente! – Suspirou. – A gente vai superar, não é Sophia? – Apertou os pés da mulher, que estava com uma cara não muito boa. – Já falei que você pode engravidar outras vezes.

- Isso mesmo! – Mel se intrometeu. – Micael vai te ajudar nisso, não é mesmo? – Ela recebeu um olhar fuzilador dos dois. Mas o restante dos amigos riu.

- Mas é tão engraçadinha! – Micael bufou. Encontrou a tomada e ligou o celular.

- Como foi a conversa? – Estava curiosa desde que ele tinha saído.

- Péssima. – Respirou fundo. – As coisas saíram muito do controle, houve gritaria, houve estresse, mas no final, ela se foi.

- Ela admitiu que me deixou lá sofrendo no chão de propósito? – A raiva de Sophia só passaria quando pudesse acertar uns bons socos em Fernanda.

- Não! – Balançou a cabeça pra dar ênfase. – Ela disse que achou que você estivesse fingindo. Ela jurou que pensou que você mentia.

- Mentira é o cu dela. – Disse com raiva. – Eu tenho tanta raiva dessa vagabunda que quando eu a ver eu vou arrancar os cabeços um por um.

- Desde quando você é boa de briga? – Micael perguntou com um sorriso de canto. – Não sabia dessa novidade!

- Ela não tinha direito nenhum de mexer com o meu bebê. – Sophia recomeçou a chorar. – Ela não podia ter feito o que fez, nada justifica.

- Eu sei. – Micael suspirou, não queria mais pensar naquilo.

A visita mais inesperada apareceu pela porta puxando sua mala antes que Micael mudasse de assunto. Branca Abrahão abriu caminho pedindo licença aos amigos da filha, deixou suas coisas em um canto e parou perto da cama, de frente pra Douglas.

- Você sofre um acidente, engravida, perde o bebê e eu não sou avisada em nenhum momento? Que filha desnaturada você é Sophia? – Estava brava, mas fazia carinho nos cabelos da filha. – Eu quase morri de preocupação no caminho pra cá.

- Mãe, já está tudo bem. – Ela secou as lágrimas. – Não precisa mais se preocupar.

- Quem vai cuidar de você? – Rangeu os dentes. – Você vai embora comigo assim que receber alta, eu não vou mais deixar você sozinha aqui nessa cidade. Eu e seu pai vamos ficar felizes de te ter em casa de novo, meu amor.

- Sem chance, eu não vou voltar pra São Paulo, minha vida agora é aqui! – Rangeu os dentes, não queria ter aquela conversa agora. – Eu tenho trabalho, tenho meus amigos, não vou largar tudo. – Branca olhou em volta reconhecendo os amigos de Sophia.

- Oi, gente. – Sorriu aos quatro. Rolou os olhos quando viu Micael escorado na parede. – Oi, Micael. – Sua voz era completamente rude.

- Oi, Branca. – Micael respondeu um tanto quanto sarcástico. – Simpática como sempre.

- Eu tento. – Ela tinha o mesmo tom rude. Se virou e encarou Douglas a sua frente. – Ei, você eu não conheço! – Encarou o rapaz de cima a baixo. – Quem é você?

- Eu sou Douglas. – Ele se apresentou e estendeu a mão para cumprimentar a senhora. – Fui eu que falei com a senhora ao telefone.

- Ele está mais perto de você do que Micael, devo presumir que você finalmente mudou de namorado? – Ela sorriu esperançosa e arrancou risos de Douglas e amigos. Micael bufou tão alto que foi ouvido pela senhora, Sophia revirou os olhos. – Que foi?

- Dá um tempinho mãe. – Pediu sem paciência alguma. – Por favor!

- Ok, não está mais aqui quem falou. – Ergueu as mãos. – Mas por favor, pensa um pouquinho sobre voltar comigo.

- Não vou ir, mãe. – Balançou a cabeça. – E a gente está num hospital, quando eu for pra casa a gente conversa, tá.

Sophia ficou conversando com a mãe e Douglas saiu de perto. Ele caminhou pra falar com Lua. Tinha as mãos no bolso.

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