Ruínas - Capítulo 117

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- Onde está Sophia? – Jorge perguntou quando abriu a porta e Micael entrou com a cara mais amarrada do mundo.

- Em casa. – Foi só o que disse.

- Ela não pode estar em casa, vamos viajar amanhã cedo. – Ele balançou a cabeça.

- Pede reembolso, a Sophia não vai mais. – Deu de ombros e Jorge arregalou os olhos. Micael caminhou para a cozinha, onde viu sua mãe colocando a mesa. Ela sorriu ao vê-lo.

- Oi, filho. – Micael se sentou à mesa antes mesmo de responder. – Cadê a sua namorada?

- Micael, o que você fez pra Sophia? – Jorge chegou na cozinha, já brigando com o filho. – Porque aqui ela parecia bem empolgada para rever os pais.

- Eu não falei nada, tá legal?! – Suspirou. – E isso também não é da sua conta.

- É claro que é da minha conta, eu sei o quão grosso você é quando está com raiva. A Sophia não merece ouvir desaforo só porque quer visitar os pais dela. – Jorge tinha a voz tão irritada quanto Micael.

- Ela que começou a brigar comigo quando chegamos em casa e foi também ela que desistiu de ir, eu não a tranquei em casa se é o que você quer saber. – Antônia olhava os dois com atenção. – A única coisa que eu fiz foi perguntar a ela que saudade repentina é essa, já que não me falou nada.

- Saudade repentina? – Ergueu uma sobrancelha. – São os pais dela, até onde eu sei a maioria sente saudade dos pais quando não os vê. A exceção a essa regra é você, que não está nem ai.

- A Sophia nem fala dos pais dela. – Rolou os olhos. – Parece quem nem existem, ai do nada, resolve viajar assim?!

- Você não está enxergando o quão egoísta está sendo. Você nunca foi assim com ela, está bem mudado.

- Egoísta? – Ficou de pé. – Eu disse pra ela ir.

- Você fez a garota perder toda vontade de ir com o turbilhão de coisas que deve ter falado pra ela. – Sentia raiva por Sophia. – Você vai acabar perdendo a Sophia se não mudar as suas atitudes, Micael.

- Claro que não, a Sophia entende muito bem porque eu estou desse jeito. A culpa é dela! – Se irritou e acabou gritando novamente. – Será que dá pra parar de me encher com esse assunto?

- A culpa é dela? – Debochou, após ignorar completamente o pedido de Micael. – Que idiotice é essa?

- Eu confiava nela de olhos fechados, ela destruiu toda essa confiança, então agora ela aguenta. – Antes que a resposta desaforada de Jorge viesse, Antônia se manifestou.

- Jorge, será que você pode deixar eu conversar um pouco com o Micael? – Ele não respondeu, pegou o celular e saiu dali bufando. Micael voltou a se sentar e a mãe se sentou de frente pra ele.

- Vai brigar comigo também? – Ele disse com a voz bem mais baixa e Antônia negou com a cabeça. – Falta só você pra completar.

- Eu não tenho muita propriedade pra falar, já que não convivi com vocês antes que tudo acontecesse. – Micael escutava atentamente. – Mas você não acha que agindo desse jeito, provavelmente vai acabar perdendo a sua namorada.

- Eu não vou perder ninguém, mãe. – Rolou os olhos. – Ela devia estar mais preocupada com isso do que eu, foi ela que me enganou por meses.

- Micael, o que é a insegurança senão o medo de perder quem a gente ama? – Ele não respondeu. – A sua insegurança é normal, acontece depois de uma traição. A impotência, achar que sua parceira está o tempo todo com outra pessoa, que a qualquer momento vai fazer de novo. Isso tudo é normal depois do que aconteceu, agora, se você realmente ama a Sophia e quer que dê certo, você vai precisar se esforçar pra deixar todos esses sentimentos pra trás.

- E você não acha que eu já tentei? Eu tento o tempo todo, mas é só ela sair que a paranoia aparece e faz eu brigar com ela. – Abaixou a cabeça na mesa. – Eu não sei o que fazer pra tudo ser normal de novo.

- Você precisa descobrir, porque não tem amor que resista a isso. – Faz carinho na cabeça do filho que ainda estava abaixada. – A prisão que você vai criar em torno da Sophia vai sufocar ela e tudo vai acabar, ai você vai enxergar que estava exagerando, mas já vai ser tarde demais.

- Eu não consigo me controlar. – Resmungou. – Quando eu vejo já estou falando coisas desagradáveis pra ela e jogando na cara dela que fui traído, como se fosse desculpa pra ser grosso com ela.

- Meu amor, talvez vocês tenham reatado rápido demais, sem dar o tempo que você precisava pra superar isso sozinho. Você precisa se entender consigo mesmo, porque enquanto isso não acontecer, você vai seguir magoando a Sophia e uma hora...

- Ela não vai me deixar. – Levantou a cabeça, seu olhar era um tanto desesperado. – Ela não pode fazer isso. A gente mora junto tem um mês, mãe. Ela não pode desistir da gente.

- Será que vocês não botaram a carroça na frente dos bois com essa decisão de morar junto logo de cara? – Ele estava tão convicto de que nada atrapalharia os dois quando a chamou pra morar com ele. – Vocês tinham que ter voltado aos poucos, retomado a amizade primeiro, pra depois dar um passo desse.

- Eu não sei mais o que fazer. – Suspirou. – Eu realmente não sei. – Jorge saiu do quarto e passou perto deles, pegou a chave do carro e ia saindo.

- Onde é que você vai? – Antônia ficou de pé. – A comida está na mesa, vai ficar fria.

- Vou buscar a Sophia. – Micael se virou para o pai com uma sobrancelha erguida. – Ela vai sim pra São Paulo amanhã.

- E por que ela ligou pra você e não pra mim? – Estava indignado.

- Porque você é um idiota quando quer. – Debochou. – Mas fui eu que liguei pra ela e a convenci a ir, não é justo que a menina fique em casa chorando ao invés de ir ver os pais só porque você foi ignorante. – Bateu a porta da casa antes de ouvir a resposta de Micael.

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