Raquel chamou Rosana para a cozinha,onde foi preparar um lanche para elas e um chá para Alexandre,que estava restrito a alimentações leves. Não suportando o silêncio da amiga,Rosana comentou: - Ontem falei para minha mãe e soube o que ela conversou com você. Eu queria dizer que... - Rosana - interrompeu a moça-, não tente argumentar a meu favor.Sua mãe tem toda a razão. - Minha mãe é um tanto coservadora.Ela ainda não consegue entender o que se passa,mas com o tempo... - Não haverá muito tempo. Pretendo sair daqui o quanto antes. Nesses últimos meses,reservei uma quantia satisfatória e creio que já seja o sufciente. Na próxima semana,vou procurar uma casa,e... - E com o coração partio deixar o homem que você ama ,respeita e que gosta de você? Rosana imediatamente e verdadeira,deixou Raquel sem palavras .Sensível,a amiga abaixou a cabeça,procurando controlar a voz que tremia: - Você não entende .Jamais poderei ser feliz. -Por que Raquel? Quase sussurrando,ela revelou nervosa: - Tenho medo. - Medo do quê? Alexandre jamais iria maltratá-la. - Mas eu não posso. - Por quê? O que aconteceu,Raquel? Escondendo o rosto,envergonhada ,ela respondeu timidamente: - Pergunte a seu irmão.Ele sabe e por isso me compreende. - Não - disse Rosana,sentando-se ao seu lado segurando seu rosto para olhá-la melhor. - Quero ouvir de você.Se confiar em mim,poderá me contar. Mesmo chorando,Raquel contou tudo o que Rosana já sabia,inclusive sobre sua filha. A irmã de Alexandre ouviu como se não soubesse de nada e ficou observando a angústia e a tristeza da amiga por tudo o que lhe acontecera. No final estavam abraçadas e Rosana emocionada com o relato ,dizia: - Raquel,tudo isso já passou.Você tem o direito de ser feliz ao lado de alguém que lhe quer bem. Meu irmão a ama.Acredite! -Eu não disse a sua mãe,mas o Alexandre ficou nervoso e saiu de casa porque... - Por quê?... Raquel contou sobre o beijo que huve antes do irmão de Rosana sair de casa,como se a mesma não soubesse.Ela ignorava que a amiga já sabia de tudo por Alexandre. -Você também o ama,Raquel.Isso é certo. -Não. - Como não? Você só não está admitindo isso porque sofreu muito.Diga-me uma coisa: ele a tratou com carinho? Raquel afirmou com acabeça e Rosana aproximou-se perguntando,quase sorrindo ,com um jeitinho delicado,muito especial: -Não foi bom sentir-se amada? De ficar nos braços de quem a gente ama e confia? - Pare com isso. - Por que Raquel? Estamos falando de algo bonito,verdadeiro.Não é nada indecente.O que tem de mais falarmos sobre o amor,sobre uma troca de carinho meigo,puro? Ela não respondeu,e Rosana continuou: - Por que você não se deixou envolvar mais? - Eu não consigo. - Como não? Se no começo se deixou beijar foi por se sentiu bem,sentiu segurança nos braços dele. - Eu não sei o que aconteceu,Rosana. -Eu sei. Você só tem lembranças trsites,lembranças que a magoam.Eu imagino o quanto deve sofrer quando as recodações amargas surgem. Toda moça tem um sonho.Quer ser amada,protegida,bem tratada por um príncipe encantado.Só que seu sonho ,Raquel é um pesadelo.Você não foi amada,foi violentada.Não foi protegida,foi agredida. Não foi bem tratada e não respeitaram sua vontade. Raquel caiu em um pranto compulsivo e ROsana falou,ao abraçá-la com carinho: - Chore,minha querida.Colque para fora ,de uma vez por todas,essas lembranças tristes. Depois abra seu coração para a oportunidade feliz de hoje. Se alguém destruiu seus sonhos,não o deixe vitorioso.Reconstrua-se,Raquel! Permita-me ,no mínimo,ter um carinho,um amor. - Não consigo - disse ela,entre soluços. - Tente quantas vezes forem necessárias.Eu sei que meu irmão é um homem bom,decente. Além disso,por amá-la,ele vai entender e ajudar sempre. Procurando olhar no olhos da amiga,Rosana perguntou: - Você o ama,não é? Com voz baixa e tímida,Raquel admitiu: - Acho que sim. Rosana sorriu satisfeita,envolveu-a novamente e falou: - O meu irmão a compreende e a respeita muito. O Alex a ama quer tê-la a seu lado. Ele vai ajudá-la a vencer esses medos e esse traumas ,até se for preciso procurar ajuda de um profissional.Pode contar que o terá a seu lado. A chegada de Alexandre pa cozinha interrompeu a continuação da conversa. Ao ver Raquel chorosa e abraçada á sua irmã,ele perguntou preocupao: - O que foi ,Raquel? O que está acontecendo? -Nada - respondeu Rosana,firme e insastisfeita com aproximação do irmão. Raquel secou as lágrimas e tentou se recompor,meio sem jeito pea observação do amigo. O toque do interfone os surpreendeu.Alexandre atendeu e depois informou: - É o Ricardo.Ele está subindo. - Ah! Nem deveria tê-lo mandado subir.Já estou indo - avisou Rosana. - O que é isso,Rô? Mande-o entrar.Vamos tomar um lanche. - E ficar noivando aqui? - respondeu ela,com seu modo irreverente e brincando como sempre. - Não mesmo.Além dissso,vocês tem muito o que conversar. Raquel precisa falar com você. A amiga sentiu-se corar e Alexande ficou na expectativa,curioso. Despedindo=se rapidamente de Raquel e de seu irmão,ao toque da campainha Rosana,abriu a porta e disse: - Ricardo,está é Raquel? -Oi,Raquel ! Tudo bem? Interrompendo-o com seu jeito especialmente alegre e irreverante,Rosana falou: - Tá tudo bem com ela. O Alex nem precisa cumprimentar.Ele está ótimo e sob os cuidados da Raquel ficará melhor ainda. Enquanto estendia a mão cumprimentando Ricardo,Alexandre reclamava da irmã: - Deixe de ser maluca,Rosana! Mas Rosana se fez de surda e não os deizou conversar e uxando o noivo, saiu do logo do apartamento. Alexandre olhou para Raquel,balançou a cabeça negativamente e sorrindo ,disse: - É bom se acostumar com ela.Rosana não tem jeito. Eles riram e logo Raquell foi buscar o chá que havia preparado junto com as torradas e levou pra Alexandre. Ele a olhou e pensando no que Rosana hava dito,perguntou: - O que minha irmã quis dizer sobre termos algo para conversar? Raquel se viu embaraçada e não sabia o que responder. Sentando-se ao lado ddele,ela ensaiava para falar a respeito da conversa que teve com Rosana,porém ideias contraditórias começaram a invadir seus pensamentos,fazendo-a perder a coragem,até que Alexandre perguntou: - O que está acontecendo,Raquel? Você nao está satisfeita aqui? - Não é isso.Ainda não me acostumei com a ideia de morar aqui.Creio que sou tão conservadora quanto sua mãe. Você me trata muito bem,sempre me respeitou,mas não posso continuar vivendo desse modo. Nesses últimos meses reservei certo valor e creio que na próxima semana vou procurar um lugar pra morar. Preciso levar a mesma vida de antes.Acho que você entende,né? Alexandre sentiu como se estivesse levado uma punhalada,mas não demonstrou.Ele não conseguia aceitar a ideia de ficar sem Raquel. Amargurado,tenntando fazzê-la refletir ,ele arriscou: - Saindo daqui,você sabe que terá de enfrentar muitos comentáros desagradaveis sobre essa separação. Abaixando o olhar,Raquel não disse nenhuma palavra,e ele continuou: - Acredito que você vai querer procurar sua filha. Sua conduta moral,seu comportamento contarão pontos a seu favor ou não. Além disso,terá custos com honorários de um bom advogado,precisará de apoio,amigos e... - Não é assim - disse ela. - A filha é minha e eu poderei pegá-la quando quiser. - Lamento,Raquel,mas não é assim.Conforme o caso,será necessário atestado de saúde física e mental, atestado de idoniedade moral, comprovação de residência e domícilo,estabilidade familiar e talvez até situação finaneicra estável. Pelo menos é assim que funciona no caso de adoção.Como a Bruna foi abandonada e você nunca a procurou ,eu acho que talvez não seja diferente. Haverá ,inclusive,exames para a comprovação da maternidade. Creio que será um processo muito longo,principalmente se sua filha já estiver... Alexandre começou a passar a Raquel todas as informações que acreditava,principalmente o fato de Alice oferecer informações negativas sobre sua moral. Raquel ficou desalentada.Inúmeros pensamentos chegaram com ideias catastrófricas sobre seu futuro.Ligada pelo nível de pensamento a espíritos ignorantes,ela se deixava desanimar e contaminar com a s piores reflexões. Alexandre ,que estava sentado no sofá e a observava atento,chamando-a para perto de si,disse: - Sente-se aqui.Vamos falar sério. Raquel obeedeceu quase que automaticamente.Ele colocou o braço sobre seu ombro e falou: - Eu quero lhe oferecer toda a minha ajuda,todo o meu apoio.Farei tudo o que puder por você. Confie em mim. Chorosa,ela lamentou: - Parece que vivo só para sofrer. Eu não deveria ter nascido. - Não diga isso. - Nunca tive sorte.Nunca consegui ser feliz.São poucos os momentos que me lembro de ter experimentado alguma alegria.Tenho tanta vontade de morrer. Alexandre a deixou desabafar,percebendo que ela necessitava. Raquel agora não chorava mais. Ela estava diferente,parecia fria,desalentada e sem forças. - Não perca seu tempo comigo.Você é uma pesoa vitoriosa e de muita sorte.Sua família o ama,o respeita.Eles se preocupam com o que lhe ocorre.Quanto a mim,nem mesmo minha mãe se importa,meus irmãos jamais me procuraram.Hoje mesmo,quando vi você e a Rosana,abraçados,emocionados,eu lembrei que nunca tive um abraço de um de meus irmãos.Você sabia. Eu vi o quanto sua mãe se preocupou por causa do seu estado. Só hoje ela ligou três vezes por não poder vir até aqui,por causa de seus parentes que chegaram lá e ela não queria trazê-los.Não tenho o direito de ficar aqui na sua casa estragando sua harmonia,sua tranquilidade.Como sua mãe falou... - Não se importe com minha mãe! Ela não sabe o que diz - interrompeu,quase irritado. - A Rosana me contou que vocês duas conversaram.Minha mãe sempre foi ciumenta e... - Ela tem todo o direito de ser assim! - cortou-lhe Raquel,sem deixá-lo terminar. - Ela demonstra o seu amor de mãe. Mas,como ela me disse," Se eu não faço parte do problema,devo fazer parte da solução". E isso eu não estou conseguindo fazer. Por essa razão tenho que ir embora. Alexandre abaixou o olhar e sentindo um nó na garganta ,decidiu não dizer nada. Raquel estava ferida e parecia decidida também.
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Um motivo para viver
EspiritualRaquel nasceu em uma fazenda,numa pequena cidade do Rio Grande do Sul.Morava com o pai,a mãe,três irmãos e o avô,um rude e autoritário imigrante clandestino da antiga Polônia russa. Na mesma fazenda,mas em outra casa,residia seu tio Ladislau,com a m...