Bem mais tarde,ao chegar em casa, Raquel estranhou ver aquela vela de grosso calibre acesa em lugar bem elevado na cozinha. Após o jantar, enquanto ajudava a cunhada a arrumar a cozinha e assegurando-o de que Alice não iria se irritar com sua curiosidade, Raquel perguntou,um tanto cautelosa: - Para que aquela vela, Alice? - Ah! É uma simpatia que estou fazendo. Quero arrumar um emprego,para ter algum dinheiro,manter-se ocupada e ter mais valor para o seu irmão. - Ora,Marcos a valoriza. Mas,se quer arrumar um emprego,creio que ele ficará mais contente,por que a situação de vocês se estabilizará mais rapidamente. - Não tente adular,Raquel. Marcos nunca me valorizou - retrucou a cunhada em tom de ironia. - Para mim,já. Outro dia mesmo ele comentou do seu capricho com a casa. Sabe, Alice,meu irmão a quer muito bem. Você e os meninos são a única família que ele tem. Quanto a mim... bem, eu sou irmã,estarei aqui por pouco tempo. Marcos só tem vocês. Deixando-se envolver pelos modos mansos que Raquel naturalmente usava, mais branda, Alice perguntou: - Não sei por que brigamos tanto. O que será que posso fazer? Pensativa e cuidadosa com as palavras , Raquel arriscou: - Sabe,quando a situação é crítica , se os sentimentos dos outros estão enervados e,se eu vejo que posso tumultuar ainda mais com uma pequena opinião,eu me calo. Fico quietinha. Depois quando tudo se acalma,eu posso até arriscar um palpite ou esclarecimento de forma mansa. - Ah! Isso é você. Eu não sei ser assim,não - reagiu Alice rapidamente. - Sabe, Alice, para tudo na vida precisamos treinar. Tente! Quantas vezes forem necessárias. Quanto você verificar os bons resultados,a mudança estará ocorrendo naturalmente. A cunhada ficou pensativa até que o espírito Sissa aproximou-se dela e interferiu a fim não deixá-la branda para refletir sobre o que é bom, pois se isso acontecesse Alice não mais se deixaria envolver por ela. - Ela está querendo ditar normas para você? - perguntou Sissa como se debochasse - Pelo visto já começou a mandar na sua vida! Repentinamente,Alice transformou a face serena em um rosto franzino e sisudo. Arrematando o assunto , falou quase arrogante: - Quem quiser conviver comigo tem que me aceitar como sou. Raquel emudeceu,sentindo seu rosto aquecer por uma sensação de vergonha e um misto de mágoa pelo que ouvia. Como uma dor,guardou no peito aquela sensação de desapontamento,sem nada comentar. Tinha prometido a si mesma não discutir com Alice,então não o faria,nem daria qualquer conselho ou opinião que não fosse bem-vindo.
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Um motivo para viver
EspiritualRaquel nasceu em uma fazenda,numa pequena cidade do Rio Grande do Sul.Morava com o pai,a mãe,três irmãos e o avô,um rude e autoritário imigrante clandestino da antiga Polônia russa. Na mesma fazenda,mas em outra casa,residia seu tio Ladislau,com a m...