Alguns dias se passaram após os últimos acontecimentos,mas Alice e o esposo não conseguiam se harmonizar. Irritada com a difícil situação financeira , a pobre mulher exibia insatisfação e longas queixas eram dissertadas com modos até furiosos no falar e no agir. Mais uma vez o casal iniciava outra discussão. - Eu não vou sair daqui e me submeter à tamanha humilhação de ter que ir morar na casa da sua irmã! - afirmava Alice veemente. - Se Raquel tem tanta boa vontade em ajudar, que se mude para cá e ajude você a pagar o aluguel. Andando de um lado para o outro, sentindo a fronte como a queimar pelo excesso de preocupações e problemas, Marcos ocultava seus pensamentos,agora tenebrosos. Alice não parava de se queixar com modos que irritaria qualquer um. Após alguns passos negligentes até próximo da pia da cozinha, o homem desesperado, pensou,ao fitar uma faca de cozinha: " É por isso que muitas tragédias acontecem. Não suporto mais Alice. Bem que eu poderia acabar com essa desgraçada agora mesmo e depois dar um jeito na minha vida". Quase se apoderando do utensílio doméstico,que agora se transformara em uma arma, Marcos imaginava,enquanto a esposa continuava com suas reclamações. " Alice é o motivo de todo esse inferno que vivo!" imaginava. E com as mãos trêmulas e geladas,ele apanhou a faca e olhou para a esposa,pensando: " Já chega! Vou terminar com isso!" Um tarefeiro espiritual que desempenhava a função de proteção e amparo aos queridos encarnados,conhecidos como espíritos protetores,já envolvia com amor e bondade o pobre Marcos, que não podia vê-lo,ouvi-lo nem senti-lo. Esse espírito fazia tudo para afastar aquela ideia de consequências trágicas. Sentindo a dificuldade de alertar o pupilo,o tarefeiro espiritual,lançou vibrações de amor e socorro a um dos filhos do casal que, mais espiritualizado e flexível ao envolvimento elevado, saiu de onde estava e foi até a cozinha. Sem saber muito bem o que queria, Elói abriu a geladeira,encontrou uma maça.a pegou e se dirigiu até o pai,pedindo: - Empresta a faca! Surpreso,Marcos olhou para o filho e, num gesto automático , entregou-lhe o utensílio. Elói cortou a fruta e ofereceu: - Quer? Toma! - Não,obrigado - o pai respondeu atordoado. Alice,ainda resmungando , não deu conta do que ocorria. Mas Marcos, ao encarar o filho , se alertou para o que ia fazer,como se despertasse de um pesadelo para a realidade. Seria uma loucura! Alice não parava de reclamar. Marcos , por sua vez,retirou-se sem dizer nenhuma palavra. Mais tarde,depois de andar muito e tentar se distrair ,ele chegou até a casa de Raquel e passou a contar o ocorrido. - Alice não quer vir morar aqui,como eu já disse. E só tenho mais duas semanas para resolver essa situação com o aluguel. Os pensamentos de Raquel, ligeiros e preocupados,trabalhavam na sombra de suas dúvidas. Deveria deixar aquela casa e ir morar com Marcos,conforme Alice propôs? Suas coisas não caberiam na casa de irmão. Teria de se desfazer delas. Se não fosse pela dolorosa situação em curso, e por tudo o que Marcos já fizera por ela,jamais tomaria aquela decisão. Raquel temia que seu irmão cometesse alguma loucura contra a vida de sua esposa ou contra a própria vida.
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Um motivo para viver
EspiritualRaquel nasceu em uma fazenda,numa pequena cidade do Rio Grande do Sul.Morava com o pai,a mãe,três irmãos e o avô,um rude e autoritário imigrante clandestino da antiga Polônia russa. Na mesma fazenda,mas em outra casa,residia seu tio Ladislau,com a m...