Com o tempo o quarto de Bruna estava sendo preparado no apartamento de seus pais e a menina já fizera algumas visitas com a permissão do juiz. Raquel estava maravilhada e experimentara uma alegria que jamais pensara em ter. Ao dividir com Alexandre as alegrias e as esperanças que tivera com Bruna Maria,Raquel se aproximava do marido sem perceber. Deixando-se ficar em seus braços,recebia seus carinhos sem aquela tensão que antes apresentava. Eles escreveram para a mãe de Raquel ,e ela contou que estava bem e havia se casado com um homem muito bom. Contou á mãe que havia superado muitas dificuldades,mas agora sua vida era maravilhosa. Raquel falou sobre Bruna Maria e que graças á ajuda de Alexandre,ela passou a olhar a menina como sua filha como parte dela mesma,sendo a filhinha ,alguém que necessitava do seu amor,do seu afeto e da sua atenção,ela reconheceu que a pequena querida era uma dádiva sagrada que Deus lhe confiara aos cuidados. Arrependida pelo ato do abandono do passado,ela aceitara a ajuda de Alexandre e deu seu pai,senhor Claudionor,que cuidavam de tudo para que ela recuperasse a filha. Alexandre intitulava-se pai de Bruna Maria e que niguém dissesse o contrário. Raquel ainda disse á mãe que Deus olhara por ela e que todas aquelas experiências de dor e sofrimento que experimentara no passado estavam sendo substituídas por alegria e amor verdadeiro. Ela lamentava a aus~encia da mãe,reclamando da distância e da saudade Dona Tereza ao ler a longa carta ,interrompia seu feito pelas fortes emoções e para olhar,inúmeras vezes,a foto de Raquel,Bruna e Alexandre. A mulher agradecia a Deus a filha estar tão bem,ao mesmo tempo em que deixava o orgulho dominá-la,pois tinha em sua mente o êxito da filha como uma forma de vingança áqueles a quem não queriam bem. Dona Tereza tinha seu coração repleto de mágoa e ódio,transformando-se agora em uma criatura cruel,tal qual aqueles que de alguma forma,lhe ofenderam no passado. Mais uma vez a mulher procurou pelo sogro que na cadeira de rodas,fora deixado na larga varanda da Casa Grande,praticamente abandonado á visão da linha do horizonte e aos próprios pensamentos ,que começavam a lhe cobrar algumas atitudes que praticara no passado. - Boleslau! - Chamou a nora,com voz irônica. - Vejameu sogro,olhe a foto da minha Raquel.Esse ao lado é seu marido. Um homem de verdade! - Após pequena pausa,em que segurava a fotografia na frente do homem,ela continuou: - E sabe quem é essa guria aqui? Loirinha e de olhos azuis? É a Bruna Maria.Essa menininha linda e tua bisneta e também tua neta! Ela nasceu nove meses após tu explusar a Raquel desta casa maldita,depois que teu filho a brutalizou. Ela silenciou,depois continuou: - Eu me lembro muito bem que o tal namoradinho ,com quem vocês disseram que a Raquel tinha fugido e se deixado bolinar. Ela era um negro! Bah!!! Ele era um piá,coleguinha de escola da Raquel,ajudava-a com compras quando ela ia buscar algo para mim,carregava as coisas e isso até gerou um ciúme dos irmãos. Mas,sabe,sogro - continuava Tereza com voz irônica-,não sou entendida ,não,mas se essa guria fosse filha daquele neguinho,ela não seria assim,não.Tu não achas?! Chê! Andando vagarosamente em torno da cadeira de rodas ,propositadamente Tereza batia o salto nas tábuas do assaolho de madeira provocando um som irritante que marcava o compasso de seu caminhar ás vezes sobre tábuas que rangiam estridentes como um gemido.Tereza,agora,falou sem expressões graves na voz: - Sabe,Boleslau,o teu filho,é um verme.Raquel é filha dele,tu sabias? O homem arregalou os olhos e tentou murmurar algo ,mas Tereza não se importou. - Apos ter traído o Cazimiro,eu qis morrer.Quando eu soube que tinha engravidado,não tirei a criança por que o vigário da paróquia me disse que esse era um pecado maior do que a traíção.Da forma como ele falou,eu tive medo e deixei a Raquel nascer. Só que pela segunda vez,enganei o Cazimiro,dizendo que aquela criança era dele. Meus esposo em vida nuncaa soube. Em sua cdeira de rodas,o sogro ficou perplexo com o que ouvia,mas não conseguia se manifestar.Boleslau estava preso,á mercê do que a nora lhe propunha. - Certa vez - continuou Tereza-, Raquel era gurai ainda e me reclamou dos carinhso do tio,que era seu pai.Fui falar com ele e deixei naquela conversa uma suposta indicação de que Raquel poderia ser sua filha. Ele nunca me perguntou a verdade,era um covarde,mas eu sei que Ladislau entendeu.Contudo,Boleslau,o crápula e asqueroso do teu filho não teve moralnão foi homem,pois só um animal faria o que ele fez! Barbaridade! Quando Raquel,naquele dia chegou aqui,bem aqui ó! - disse ela,apontando para o degraus que desciam da varanda ao terreiro - toda machucada e chorando,dizendo o que aquele verme tinha feito com ela,tu não acreditastes! Miserável! Velho desgraçado! Tu bateste " de couro" na minha filha e a tocou daqui como um cão,chê! Fiquei tão desesperada e em choque que não sabia o que fazer. Nem tive a iniciativa de ir junto com ela,o que deveria ter feito. Tereza não percebeu,mas o sgro trazia lágrimas correndo em seu rosto enrugado e torcido.Como um desabafo,ela continuou: - Tempos depois,tu nem sabe,mas Raquel me procurou e contou que estava morando nas ruas e que achava que estava grávida.Pensei que eu fosse morrer. Passei mal e me afastei de Raquel. Bah! Miserável que fui! - recriminou-se. - Mais uma vez eu não tive coragem de ajudar minha ilha. Eu a entreguei á crueldade do mundo.Sabe-se lá o que aconteceu depois. O silêncio se fez por alguns minutos,mas logo Tereza continuou: - Sabe por que tudo isso aconteceu,velho miserável? Foi porque tu criaste o teu filho ensinando-o valorizar a masculinidade,ensinou-o que pra ser homem deveria bolinar e dominar uma mulher.Foi tu,velho desgraçado,que ensinaste aquele verme a ser sujo,imundo,nojento! - gritou Tereza impiedosa. A nora silenciou um pouco e observando as lágrimas que corriam no rosto de seu sogro ,falou: - Chora,desgraçado! Arrenda-te de tudo o que fez para mim e para minha filha.Foi esse o resultado de tudo o que tu ensinastes para o teu filho! Além de conquistar a mulher do irmão,ainda violentou a própria filha. - Tereza estava furiosa e cuspiu no chão com semblante enojado. Com mágoa no olhar,ela ainda lembrou: - Um dia o Tadeu,meu filho ,estava com o piá dele no colo,o guri menor,e perguntado onde ele ficava "isso" e "aquilo",depois disse ao guri que tinha que ser macho! Chê! E tinha que mostrar que era homem! Num minuto de loucura ,eu levantei e dei um tapa na boca do Tadeu na frente de todo mundo! Por ser criado para me respeitar,Tadeu não falou nada. E eu disse que o homem " que fez o que fez" com a irmã dele tinha sido criado daquele jeito tedno que mostrar que era macho! Aquilo que estava fazendo não riai firmar o caráter do guri. Ele estava era pondo em dúivda se o piá era homem ou não.Barbaridade! Sabe,Boleslau,eu não poso só culpar aquele verme por tudo o que ele fez para minha filha,eu culpo também a ti,que o educou. Deus foi tão justo que deu á minha filha Raquel uma filha perfeita e como castigo,o imundo do Ladislau perdeu as três gurias naqueles acidente em que perdeu uma perna e metade da outra,mas viveu para saber que matou as gurias. Agora,como louca,a mulher o inferniza o tempo todo dizendo que é ele o assassino das filhas. Tereza riu e anunciou: - A minha neta tem um pai de verdade.Minha filha tem um marido digno! Um homem mesmo! Um afamília que a trata bem! Eu sei disso porque o Marcos me contou. Ele dissse que a família do mardio a trata tão bem que nunca viu igual. Encarando o sogro,ela ainda disse com o olhar vingativo: - Deus é tão bom que te prende nessa cadeira só para me ouvir pelo resto da tua vida,porque tudo o que tu me fizeste padecer,tu não vai lembrar só quando morrer e for para o inferno,não. Vai começar a lembrar desde já e começar a pagar agora enquanto vive aí. E lembre-se,velho,que aquela guria que tu espancou tantas vezes e deixou sem teto,a Raquel é única filha de Ladislau e tem o direito de metade desta fazenda e ainda a o outra parte que eu tenho direito .Ela herdará mais do que os irmãos! Chê! Terezaquando mais nova,chegou a apanhar do de seu sogro por não cumprir suas exigências com algumas tarefas ou até os costumes da família. Era comum,o forte e autoritário Boleslau,agredir os filhos ,a mulher,as noras e os empregados com brutalidade. Seria difícil Tereza perdo=a-lo,pois se sentia muito magoada. Apesar de tudo,nada justificava aquela tortura emocional que ela ,erreneamente,praticava contra o velho ,agora indefeso. Um erro não justifica o outro e Deus não nos faz porta-vozes da Sua justiça.

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Um motivo para viver
SpiritualRaquel nasceu em uma fazenda,numa pequena cidade do Rio Grande do Sul.Morava com o pai,a mãe,três irmãos e o avô,um rude e autoritário imigrante clandestino da antiga Polônia russa. Na mesma fazenda,mas em outra casa,residia seu tio Ladislau,com a m...