Naquele instante,Alexandre beijava o pai cumprimentando-o e logo após o seu sobrinho,que se divertia. Passaram a observar o garoto,que correu na direção do balanço para brincar. - A mãe falou que você queria falar comigo. - É.Quero sim - respondeu o pai,um pouco sem jeito. - O que foi. Aconteceu alguma coisa. Sem muito rodeio, o pai o chamou para que ficassem a certa distância do menino e indicou ao filho que se sentasse num banco que ficava jeitosamente acomodado sob uma frondosa árvore,e sentando-se ao lado falou: - Filho,eu queria deixar esse assunto para mais tarde,mas já que estamos á vontade aqui.. Eu e sua mãe estamos preocupados com você e a Raquel. Alexandre se curvou apoiou os cotovelos nos joelhos,cruzou as mãos na frente do corpo e inclinou a cabeça para ouvir já adivinhando o assunto. - Sei que você vai dizer:" Sou maior.Independente", mas,Alexandre,você não pode nos tirar o direito de amá-lo ou de nos preocuparmos com o que lhe acontece.Você é nosso filho! - É por causa da Raquel estar morando na minha casa,Pai. - Nós estamos acreditando que essa moça está lhe usando. -Pai,eu... - Espere,Alexandre.Deixe-me terminar,filho.Depois você fala. Ele suspirou,ficou em silêncio ,e o pais prosseguiu: - Filho,essa moça apareceu do nada.Trabalhou com você,descobriu que mora sozinho,é independente,estabilizado. Reparou,por acaso,que ela não tem uma amiga para ajudá-la. Já que perdeu o emprego,por que ela não volta para o interior,onde está a família.O que ela fez,de tão grave assim,para o irmão não querê-la na casa dele. Você tem que pensar em tudo isso,Alex. Após pequena pausa,em que o rapaz não reagiu,o pai continuou: - Eu e sua mãe somos experientes. Sabemos que está gostando dela e... Sabe Alex,por ter saído muito ferido da experiência com Sandra,talvez esteja se sentindo só e tenha se apegado a Raquel para... - Não! Não é isso,pai. - Alexandre,espere. Eu sei que Raquel é muito boazinha,educada,mas primeiro essa moça foi morar com você porque não tinha ninguém que ajudasse,depois perdeu o emprego e agora você ficou com o encargo de ajudá-la ainda mais. Todas as evidências mostram que el está lhe usando,filho. Ela esta se aproveitando dessa situação e se acomodando lá. - Não diga isso. Não é verdade. - Não se iluda novamente,Alexandre. O filho estava irritado e quase ofegante. Ele nunca desrespeitara o pai,que sempre fora eu amigo. Agora,com aquelas colocações,o pai o agredia. - Enxergue a realidade,Alexandre! Essa moça está enganando-o e,quando você acordar,vai se decepcionar tanto quanto a última vez. Eu e sua mãe vamos conversar com ela... Com os olhos brilhantes ,enrubescidos pelos sentimentos que se afloravam,Alexandre se levantou ,o interrompeu e com voz pausada,falou firme mesmo com lágrimas a correr em sua face: - Espere,pai.Eu sei que você cuidou de mim a vida inteira. Ofereceu-me educação,amparo,orientou,deu-me oportunidade de estudar,de ter uma boa profissão... Perdoe-me pai,mas isso tudo não pode lhe dar esse direito.Vocês não sabem o que está acontecendo e não vão falar com ela. Eu amo Raquel e estou disposto a tudo. Alexandre virou as costas,e após alguns passos,voltou-se e completou: - O que mais me magoa,pai é que jamais ,jamais pensei que um dia eu pudesse ser obrigado a falar assim com você. Alexandre olhou para seu pai por alguns segundos ,secou o rosto com as mãos e depois entrou. Procurando por Raquel,após ouvir vozes que vinham do quarto de Rosana,a passos rápidos ,foi até lá e disse,firme: - Vem Raquel. Preciso ir embora. Todos ficaram em silêncio e sem entender o que estava acontecendo. Alexandre com voz firme e grave, repetiu o pedido,franzindo o semblante ao estender a mão,chamando: - Venha Raquel.Preciso ir! Surpresa e assustada,ela se levantou,olhou para as outras sem saber o que fazer. Alexandre a tomou pela mão sem dizer nada,conduziu Raquel quase que a puxando. - Alex! - chamou Vilma,que se levantou e logo foi atrás do irmão. - Espere,Alex! O que aconteceu. - perguntou Rosana,seguindo-os. No meio da sala,Alexandre se virou e parecendo mais branco,exibindo mágoa em seus sentimentos ,falou: - Eu não gosto de surpresas.Tão menos de ser enganado.Quando me chamarem aqui deveriam ter dito o motivo. - O que está acontecendo - perguntou Rosana,apreensiva. O irmão não lhe deu importância e ainda disse,olhando para dona Virgínia que parecia desapontada. - Mãe, eu amor muito,mas tenho o direito de feliz a minha maneira. Gostaria de ser respeitado por você,mas... - Filho! Você não entendeu! - Entendi,sim. Eu falei com o pai. Você não precisa me explicar mais nada. Num impulso por estar contrariada devido á tensão do momento,e por ignorar os fatos,dona Virgínia quase gritou: - Que inferno,para todos nós,essa moça ter aparecido na sua vida! Alexandre não disse nada e virando-se foi embora. A caminho do apartamento,o silêncio imperou. Raquel não se sentia bem. Novamente aquele mal-estar junto com pensamentos cruéis,ela acreditava ser um incômodo para todos. Isso a torturava imensamente e ela precisava fazer grande esforço para se dominar. Ao estacionar o carro na garagem do prédio,Alexandre debruçou-se ao volante por alguns minutos. - Você está bem - perguntou Raquel,com voz enfraquecida. - Não - sussurrou ele. - E seus remédios. Alexandre não respondeu nada.Pálido,o rapaz desceu do carro,e amparou-se em Raquel,chegaram até o apartamento,onde ela o levou para a suíte.Ajudando-o a se deitar,tirou-lhe os sapatos e abriu-lhe a camisa,pois ele parecia não respirar normalmente. Aflita,perguntou: - Onde estão seus remédios! - Não sei - murmurou ele. Raquel saiu a procura dos mediamentos e após alguns minutos ,trazendo os vidros nas mãos ,perguntou: - Qual . Alexandre estava tonto,fraco,sentindo-se como se fosse desmaiar. - Qual,Alexandre! - gritou ela desesperada. - Os dois - balbuciou ele. Raquel o ajudou a se curvar para beber a água com os comprimidos. Depois falou: - Vou chamar a ambulância! - Não! - disse ele baixinho. - Então vou ligar para a Rosana. - Vem cá - pediu ele,estendendo-lhe as mãos. - Alex - murmurou Raquel,sentando-se a seu lado e segurando sua mão. - Estou com medo. Nunca o vi assim. - Por favor,não chame ninguém.Isso vai passar. - Mas... - Não chame ninguém... - sussurrou ele novamente. - Por favor,não chame. O nervoso a fazia tremer.Aflita,Raquel afagava-lhe vagarosamente os cabelos e resolveu fazer sua vontade,não chamando ninguém. Por um instante,Alexandre quieto e pareceu ter pedido os sentidos. Quando o viu naquele estado,Raquel gritou: - Deus! Ajude-o ,por favor! Ela entrou em pânico. Curvando-se e agitando-o ela falou: - Pai do céu! Salve-o! Tome minha vida pela dele. Pegando o rosto de Alexandre e segurando em desespero,apertou-o contra si enquanto chorava.Breves minutos se passaram e ele fez leves movimentos. Com lágrimas correndo em sua face,Raquel o amparava ,chamando-o: - Alexandre,está me ouvindo. Vagarosamente ele abriu os olhos,fitou-a por poucos segundos,depois tornou a cerrá-los suavemente. Sua respiração já parecia quase normal. Em soluços,banhada de lágrimas,Raquel encostou sua face na dele e beijou-lhe o rosto seguidas vezes ,dizendo baixinho: - Não faça isso comigo. Aos poucos Alexandre reagia vagarosamente.Talvez ele demorara para se exibir animado por que nunca tivera Raquel tão perto e acarinhando-o como naquele momento. Bem depois,ela perguntou ainda chorosa: - Você está melhor. - Estou - afirmou ele,com voz fraca. Raquel o olhou por algum tempo,depois perguntou: - O que houve. - Não sei. Fiquei nervoso.Talvez seja por isso. - Vamos ao médico - pediu ela. - Agora não. Na próxima semana eu tenho horário no especialista. Passados alguns minutos,o rapaz sentou-se na cama e Raquel olhando-o e sentindo-se ainda angustiada,não conteve o impulso e o abraçou,chorando novamente. - Não faça mais isso comigo - pediu ela,entre o choro comovido. - Pensei que fosse morrer. Alexandre sorriu,levantou seu rosto com carinho, e disse: - Ainda não é a hora. Lembre-se ,eu tenho um motivo para viver:você. Raquel o fitava ,parecendo invadir sua alma com aquele olhar.Nervosa,ela aproximou seu rosto de Alexandre e beijou-lhe rapidamente nos lábios.Alexandre ficou parado.Ele não sabia como deveria agir,temendo assustá-la,caso expressasse seus sentimentos com algum gesto de afago. Procurando se aproximar delicadamente ,ele se curvou e conseguiu retribuir àquele carinho. Logo ,porém,Raquel se afastou,fugindo-lhe o olhar. - Fica comigo,Raquel - pediu com voz generosa. Ela se levantou e dissimulando ,perguntou. - Você está melhor. Mesmo sentindo que ainda não estava bem,ele afirmou que sim. Nesse instante o telefone começou a tocar. Alexandre pediu a Raquel que não atendesse e ela assim fez.
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Um motivo para viver
SpiritualRaquel nasceu em uma fazenda,numa pequena cidade do Rio Grande do Sul.Morava com o pai,a mãe,três irmãos e o avô,um rude e autoritário imigrante clandestino da antiga Polônia russa. Na mesma fazenda,mas em outra casa,residia seu tio Ladislau,com a m...