- Não sei se já lhe disse,mas eu também moro sozinho e, quando minha irmã resolve ficar alguns dias no meu apartamento,eu acho estranho. Parece que não me acostumo mais. Ela dorme na sala,tira a minha privacidade,entende? Mas por que você não procura outro lugar e se torna independente novamente. É simples. - Não,Alexandre. Não é tão simples assim. - Por quê? - Eu morava numa casa de aluguel e, para ajudar meu irmão, saí de lá e fui morar com ele. Meus móveis, minhas coisas não couberam na casa dele e... Bem,acabei vendendo tudo.Nem cama tenho. Estou dormindo no sofá da sala. Alexandre ficou perplexo,mas nada comentou,uma vez que teve medo de magoar a colega, que dificilmente falava sobre si. E ela continuou: - A pouca economia que eu tinha no banco, junto com o que arrecadei com a venda de minhas coisas,entreguei ao Marco para que ele pagasse os aluguéis em atraso. Alexandre não suportou e perguntou: - Você está brincando? - Não. Pior que não. Agora,depois de alguns meses, a situação deles se estabilizou. Mas eu ainda continuo ajudando com as despesas da casa. De imediato eu não tenho para onde ir. Para alugar outra casa preciso fazer depósito de um a dois meses de aluguel , e em alguns casos, pedem até fiador. Não tenho dinheiro para esse depósito e, como se eu arrumasse, precisaria mobiliar a casa novamente e ajudando-os como estou,não consigo fazer nenhuma economia. Alexandre a ouviu e depois de refletir um pouco decidiu opinar: - Desculpe-me, Raquel, eu mal a conheço e... Puxa! Fale com seu irmão. Diga a ele que você quer voltar a morar sozinha,pois agora ele já está estabilizado. - Marcos não quer abrir mão da minha presença em sua casa. Diz que está feliz comigo lá,eu acredito. Mas o problema maior Alexandre,nem é esse. - Qual é então? - perguntou o rapaz,diante da pausa que se alongara. Raquel contou tudo sobre sua cunhada e as tais simpatias e lugares frequentados. No final acrescentou: - Eu não quero mais ir la. Não gosto disso. Ela vive insistindo e eu não posso me indispor por causa disso. Nas vezes em que me recusei a acompanhá-la, Alice ficou nervosa,irritou-se e começou a bater em móveis e objetos propositalmente. Isso durou quase uma semana. - Contou a seu irmão? - Não. Não quero que ele brigue com a Alice. Sabe,eles já tiveram momentos difíceis. Já discutiram muito e hoje vivem mais tranquilos.Se eu contar,serei motivo de novas divergências.Temo que Marcos seja fraco e faça alguma besteira. - Sabe Alexandre - continuou ela - ,eu nunca acreditei nesse negócio de espírito ajudar ou atrapalhar os vivos. Mas agora... - Agora o quê? - Eu não gosto de ir lá. A Alice fica pedindo isso ou aquilo e depois volta para entregar o que eles solicitam. Cada vez que eu a acompanho volto tão mal,nem sei explicar o que sinto. Minhas coisas não dão certo,levo bronca no serviço,não consigo deixar em ordem meu trabalho e até meu dinheiro desaparece. Às vezes até um mal-estar físico e tudo aumenta a medida que vou lá para acompanhar a minha cunhada. - Não entendo nada sobre espíritos nem sobre ajuda que eles podem nos dar. Nunca acreditei nisso. Mas, de uma coisa tenho certeza,não se envolva com o que você não conhece. Saia dessa, Raquel.Procure se afastar. Dê um jeito de sair da casa do seu irmão. Mas, enquanto isso,procure separar a situação. Quando estiver no trabalho,concentre-se no que você tem a fazer aqui. Procure se organizar.Em casa, pense nas soluções que terá de providenciar para ajeitar situação. - Não é fácil. - Sim. Não é.Mas você tem capacidade. Após conversarem por mais alguns minutos, ambos retornaram para a seção e Raquel já se sentia um pouco melhor. Alexandre,não resistindo ao impulso,convidou: -Vamos almoçar juntos? Assim conversamos melhor. - Quando ele entendeu que Raquel poderia convidar a colega,pediu: - Só que ,por favor, não chame a Rita. Ela fala muito e... se tentarmos resolver um assunto conversando a repeito dele, Rita não é uma boa companhia. Raquel se viu numa situação difícil. O que ela poderia dizer à colega para justificar não tê-la convidado para almoçar? Alexandre,inteligente,logo percebeu seu embaraço e sugeriu: - Vamos almoçar bem mais tarde,certo? Eu vou na frente e a espero naquele lugar onde tomamos lanche outro dia. Raquel ofereceu um leve sorriso ,lembrando-se da cena,e perguntou: - Onde levei aquele susto? Alexandre riu junto e confirmou: - Lá mesmo?
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Um motivo para viver
EspiritualRaquel nasceu em uma fazenda,numa pequena cidade do Rio Grande do Sul.Morava com o pai,a mãe,três irmãos e o avô,um rude e autoritário imigrante clandestino da antiga Polônia russa. Na mesma fazenda,mas em outra casa,residia seu tio Ladislau,com a m...