Com o passar dos dias,Alexandre recebeu alta do CTI e foi transferido para um quarto particular,o que facilitou receber a visita de todos juntos e por um período de tempo bem maior. Na casa do pai de Alexandre,apesar de haver outros quartos vazios,Raquel ficou junto com Rosana,elas eram amigas e se entendiam muito bem. Todos se acostumaram com a presença de Raquel em pouco tempo.Ela parecia já fazer parte da família há muito tempo. Sei jeito recatado e discreto agradava á mãe de Alexandre que a casa dia,se afeiçoava mais á moça. Em pequenos detalhes,a mulher entendia que fora a delicadeza e a generosidade de Raquel que agradara o filho,que se dispôs a tudo por ela. Mas Raquel ainda não se sentia tão á vontade. Sem conseguir um emprego ,junto com a impressão de ser dependente por estar vivendo ali de favor,ela estava constrangida,mesmo sendo muito bem tratada. - Não fique assim,Raquel - consolava Rosana. - Gostamos tanto de você! Não gosto de vê-la deprimida. - Rosana,veja a situação! Como se não bastasse eu invadir a vida do Alex,de repente me tornei uma obrigação para vocês! - Eu não vejo desse jeito. - Estou me sentindo tão mal com essa situação. - Pare com isso,Raquel! Meus pais adoram você! Eu então... - Preciso arrumar um emprego. - Você vai arrumar,mas se ficar assim será difícil.O humor, falta de fé,a insegurança e o pessimismo criam vibrações pesadas ruins,que nos deixam como cegos para as coisas boas da vida. Após pensar um pouco,Raquel insistiu: - Eu sei que nos últimos tempo ando deprimida,choro á toa e tenho até me irritado ,coisa que dificilmente acontecia.Nem sei como o Alex vem me suportando. - Você precisa pensar em Deus,Raquel. Tirar alguns minutos,todo dia para Ele e se deixar envolver por uma prece sentida,do fundo do coração. Acredito que não conhece o poder da oração nem do contato abençoado que fazemos com Deus nesse momento. - Eu sei que você tem razão,mas ando sem ânimo.Acabo até esquecendo. Empolgada,Rosana sugeriu: - Amanhã,vem comigo ao Centro Espírita. Raquel ficou pensativa e por fim disse: - Vou.Vou sim. - Ah! Que legal! - exclamou Rosana eufórica,abraçando-a com alegria. Naquela noite,quase no início da madrugada,Raquel,num sono turbulento,revirava-se de um lado para o outro. Rosana acordou e a ouviu resmungar sem entender o que a amiga dizia. Ela se levantou,sentou na cama de Raquel e tentou despertá-la. - Raquel,acorda. - Por não obter sucesso,Rosana insistiu mais firme,balançando-a com cuidado: - Raquel acorda.Você está sonhando. - Não!!! - gritou a moça ao se sentar violentamente na cama. Ofegante,com os olhos assustados,ela fitava Rosana,que procurou abraçá-la. Raquel recostou-se chorando no ombro da amiga,momento em que dona Virgínia entrou no quarto para saber o que estava acontecendo ,pois ouvira Raquel. - O que houve. - perguntou a mãe de Alexandre. - A Raquel teve um sonho mãe - explicou Rosana,com voz piedosa. Dona Virgínia se sentou na cama e puxou Raquel para envolvê-la num abraço ,qual mãe que aconchega um filho querido quando assustado. - Vem cá,Raquel. Constrangida,a moça se deixou conduzir entregando-se ao carinho que nunca tivera. - Rô,vai arrumar um pouco d'água para Raquel,vai filha. Passando a mão no rosto da jovem,ela dizia para confortá-la. - Está tudo bem.Já passou. Com a voz fraca e trêmula,pausadamente Raquel respondeu: - Não,dona Virgínia,isso nunca passa. - Chorosa,ainda revelou: - Esses pesadelos ocorrem até quando estou acordada,através de lembranças.É horrível. Apoiada,a mulher argumentou: - Raquel,se eu puder ajudar,por favor,me diga como. Quando a moça foi se afastando o abraço,a mãe de Alexandre insistiu: - Não.Fique aqui . - Pediu a senhora,ajeitando-a e fazendo com que Raquel apoiasse a cabeça em sua perna ao mesmo tempo em que,com carinho afagava seus cabelos. Raquel,encolhida,trazia o olhar perdido e com lágrimas que lhe escapavam vez ou outra. - Desde quando você tem esses tormentos,filha. Envergonhada,Raquel perguntou: - A senhora sabe de tudo,não sabe. - Sim,eu sei. - Então,tenho esses pesadelos desde os quinze anos. A mãe de Alexandre se curvou e beijou-lhe a cabeça,aparando com as mãos algumas lágrimas de Raquel,enquanto esta permanecia acuada. Depois ela perguntou: - E sua mãe,ela sabe. Contou para ela. Raquel pensou e revelou: - Quando aconteceu... Na primeira vez... Meu pai estava muito doente e ela pensou que fosse por causa do acidente que ele sofreu.Algumas vezes depois,quando acordei chorando durante a noite... Raquel silenciou e diante da pausa,dona Virgínia perguntou com generosidade,ainda afagando-lhe o rosto. - O que aconteceu. - Minha mãe não entendia.Ela não tinha muita instrução e... Chegou a me dar tapas fortes no rosto para eu acordar e... - Os soluços a interrompiam,mas ela prosseguiu: - Meus irmãos se irritavam comigo. Escondendo o rosto,Raquel chorou sentida. Dona Virgínia ficou incrédula. Rosana,parada perto já há algum tempo com o copo com água que fora buscar,trocou olhares com sua mãe,que trazia os olhos banhados de lágrimas. Inconformada,mas mantendo uma postura discreta sobre seus pensamentos,a mulher curvou-se e puxou Raquel sustentando-a num abraço carinhoso,dizendo-lhe baixinho ao ouvido: - Isso não vai acontecer mais,filha. Eu vou cuidar de você. Se aquela pobre mulher não soube ser sua mãe,eu serei. Raquel a agarrou num abraço forte e um choro compulsivo se fez de imediato. Rosana sentou-se ao lado certificando,em seu íntimo,que sua mãe entendera definitivamente a situação e iria ajudar sua amiga. Dona Virgínia,a partir de então,se colocaria como mãe de Raquel,pois estava nítido que a jovem era crente de afeto e jamais tivera a ternura,o contato e o toque de um carinho de mãe,e se acaso o teve,fora tão pouco que não lhe significara muito. A senhora percebeu que Raquel era meiga,atenciosa e educada por índole,por seu coração puro, e não exemplo de vida que tivera.
No dia seguinte,conforme o combinado ,elas foram ao Centro Espírita e Raquel logo de imediato,verificou a diferença do que vira e lhe fora proposto em outro lugar. Após passar pelo plantão de orientação, a moça aceitou a assistência espiritual oferecida,onde haveria de se dispor a uma série de passes magnéticos e a ouvir palestras especiais em dias específicos. Raquel sentiu-se muito bem naquela Casa de Oração onde,por todos,foi recebida com carinho e atenção. Rosana,animada e alegre,fez questão de apresentá-la ao conhecidos como sendo namorada de seu irmão. Raquel agora parecia não se importar com esse anúncio. Ela conheceu as várias repartições da casa e Rosana logo percebeu seu interesse para com o departamento que assistia as gestantes carentes e sem provisões. A irmã de Alexandre pareceu brilhar com a ideia de ver Raquel como futura tarefeira dessa area. Contudo,não disse nada,mas ficou pensando: - "Como uma tarefa naquela area faria bem a Raquel,que poderia refazer e harmonizar muito de sua vida ali!".
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Um motivo para viver
SpiritualeRaquel nasceu em uma fazenda,numa pequena cidade do Rio Grande do Sul.Morava com o pai,a mãe,três irmãos e o avô,um rude e autoritário imigrante clandestino da antiga Polônia russa. Na mesma fazenda,mas em outra casa,residia seu tio Ladislau,com a m...