Indo até a cozinha e procurando algo para beber,logo observou que Raquel havia deixado a alimentação adequada para Alexandre,que se recuperava ainda e não podia comer qualquer coisa. Rosana ria sozinha quando Lourdes a surpreendeu. -Viu como a dona Raquel é preocupada.Deixou até a comida arrumadinha para ele. - É mesmo. - Sabe - prosseguiu a empregada-, não é que estou reparando,mas antes quase não via boa coisa para comer aqui. O seu Alexandre parece que comia fora ou qualquer coisa. - A Raquel cozinha,e bem - afirmou a moça. - E quando ia saindo,levando um refrigerante ,a senhora falou: - Rosana não é da minha conta,mas porque a cama de solteiro no outro quarto. A irmã de Alexandre se surpreendeu,mas não se intimidou e para não alongar explicações pensando rápido,falou: - Meu irmão ronca muito alto. Para que a Raquel não fique sem dormir ,pois ela tem o sono leve,ele dorme no outro quatro. Dizendo isso,Rosana se retirou,segurando o riso por sua molecagem. Ao tentar telefonar novamente,conseguiu avisar sua mãe que estava no apartamento de Alexandre,para que ela não se preocupasse. Quando ia á direção do quarto,o telefone tocou. - Atende Rô! - gritou Alexandre,de onde estava ,que não queria se dar aquele trabalho,pois naquele quarto não havia extensão do aparelho. - Alô. - Rosana - perguntou Raquel. - Oi,Raquel! - Rô... - disse a moça,interrompida por um soluço. - O que foi,Raquel. A amiga emudeceu e Rosana percebeu que ela abafava o choro. - Raquel o que aconteceu . - insistiu a amiga. Alexandre aguçou a audição, e percebendo tratar-se de Raquel,foi até a sala,procurando saber o que era. - É a Raquel - perguntou para ter certeza. Rosana sinalizou que sim e perguntou novamente,por causa do silêncio que se fez do outro lado da linha. - Raquel,não chora.Fale o que aconteceu. - Dá aqui - pediu o irmão sem muito rodeio,pois estava preocupado.E logo falou: - Raquel,sou eu.O que houve. Com a voz pausada,pelos soluços,ela avisou: - Eu... fui demitida. O rapaz sentiu-se gelar.Imaginou como ela estaria se sentindo. - Calma! Tudo bem! - tentava dizer,ao ouvi-la chorar.Para ter maiores informações e saber como deveria agir,perguntou: - Você ainda está no serviço. - Estou. - Fique aí. Eu vou pegá-la. - Não. - Raquel,não seja teimosa - disse ele firme. - Não vou ficar aqui para todo mundo fica me olhando. - Então faça o seguinte. Vá para o estacionamento e me espere lá onde eu sempre deixo o carro. Ela não disse nada e Alexandre insistiu: - Raquel,você me ouviu. - Ouvi. - Então vá para o estacionamento.Daqui a uns vinte minutos eu estarei aí. - Os irmãos se entreolharam e Rosana perguntou: - Ela foi demitida. - Foi - respondeu Alexandre chateado. - Raquel deve estar péssima.Vou buscá-la.Você vem comigo. - Claro. No caminho,procurando ver algo bom em tudo o que acontecia de maneira desordenada,Rosana lembrou: - Sabe,Alex ,foi bom isso ter acontecido.De repente esse desemprego foi para ajudar a Raquel. - Como assim. - Ela não queria alugar uma casa e se mudar. - Queria. - Fazendo isso,a Raquel sairia da sua guarda,da sua proteção,sabe lá Deus o que poderia acontecer com ela. Agora,desempregada,ela não terá como sair de lá. Assim teremos uma oportunidade maior,um tempo maior para erguê-la,para despertá-la e tirá-la desse processo obsessivo,se houver. Se for um envolvimento espiritual que a faz agir assim,a instrução,a evangelização tornarão,Raquel menos aceitável ás impressões do espírito que influencia.Foi bom isso ter acontecido. - Ora,Rô. Não podemos ficar satisfeitos com uma situação dessas. - Não estou satisfeita,estou vendo o lado lógico das coisas.Se a Raquel mudar e sair da sua casa,você acha que terá alguma chance de ajudá-la. Alexandre ficou pensativo e nada respondeu. - Alex,essa é uma oportunidade abençoada.Enxergue o bem no suposto mal que lhe ocorre. - Ela deve estar triste. Sentindo-se humilhada. - Sim,é claro que está. E sabe onde ela vai chorar a perda do emprego. - rindo,Rosana concluiu: - Em seu ombro,seu bobo! Deixe de ser tonto! O irmão não disse nada. Chegando ao estacionamento ,ele não viu Raquel. Após algum tempo de espera,Alexandre pediu: - Fique aqui. Vou subir e se ela aparecer,diga que já venho. Ele foi até o departamento onde Raquel trabalhava,e após cumprimentar uma colega,perguntou: - E a Raquel. Você a viu. - Faz mais ou menos uns vinte minutos que ela saiu. Aliás,acho que foi logo após telefonar .Foi para você que ela ligou. - Foi,sim. - Então,logo em seguida ela saiu daqui. - Você sabe me dizer se ela pode estar no " recursos humanos". - Creio que já passou por lá e assinou toda a papelada. Fiquei tão chateada... Ele estava com aspecto preocupado e um tanto abatido,perguntou: - Você falou com ela,Carla. - Tentei. Mas não tinha muito o que dizer. Você sabe,num momento desses.A Raquel é calada,ela não disse nada.Abaixou a cabeça,depois percebi que estava chorando.Quando ela se virou e foi saindo,acreditei que nem deveria ir atrás. Após se despedir da colega,Alexandre passou por outros departamentos procurando por Raquel. A certa distância percebeu que Rita o acompanhava com os olhos.Ao esperar o elevador,encontrou Vagner,que somente o desafiou com o olhar sem trocar palavras. Alexandre estava inquieto e nervoso. Procurou Raquel em todos os lugares mais prováveis e nada. - Claro! Na portaria! Se ela saiu da empresa certamente passou por lá! - Lembrou falando sozinho. Logo ele voltou ao estacionamento e disse a sua irmã: - Ela foi embora. - Será que ela não entendeu errado quando falou sobre o local que deveria esperá-lo. - Não. Eu fui claro. Disse que ficasse aqui. Pegando o celular Alexandre ligou para o apartamento,Raquel também não estava lá nem havia telefonado. - Se ela telefonar ,Lourdes,diga que me ligue o quanto antes,tá. Após desligar,olhou para sua irmã e perguntou: - Onde posso procurá-la. Rosana nada respondeu. Alexandre começou a pensar que Raquel poderia tentar algo contra si mesma. Ela estava desiludida com a vida,sentia-se perdida,triste e só. Seu caminho ,até hoje ,sempre foi solitário,ela sobreviveu utilizando as garras do desespero e trazendo em seu coração as profundas marcas de sofrimento que alguém poderia experimentar. Sem esperanças,Raquel não tinha onde buscar a felicidade. Que felicidade. Ela jamais conhecera o significado real dessa palavra.Jamais a experimentara! Não poderia confiar nele,pois não acreditava que pudesse existir um ombro amigo. Raquel não conhecia os preciosos instantes onde o medo nos faz esconder no seio familiar,no lar. Sua infância sempre foi confiscada de liberdade e emoção,pois temia o carinho repugnante que recebera e odiava o tio. Na adolescência,vira seus sonhos brutalizados pelos pesadelos agressivos de um homem sem caráter,sem decência e sem moral. Quando gritou por socorro,ninguém a ouviu ou acreditou.Quando procurou por na mãe o miraculoso abraço que conforta e orienta,que talvez agasalhasse seu coração despedaçado,encontrou pesarosa revelação cruel e o abandono definitivo que dilatou ,completamente,todas as esperanças. O sonho de ter sua filha junto a si haveria de vencer o próprio medo e as razões mais dolorosas da sua alma. Decepcionada pelas leis que poderiam impor e exigir,Raquel se desiludia antes de pleitar ,sequer ,a primeira vez,para ter a doce filhinha consigo. Quanta dor! Quanto esforço para se vencer e se entregar a um simples abraço,a um beijo que nem correspondera.Quantos traumas! Quanta tristeza teria de enfrentar para amar e ser amada. Ignorante dos motivos reais da existência da vida,Raquel parecia nunca ter se socorrido em Deus.Como poderia confiar nele. Ela nunca tivera o apoio de ninguém,perguntando sempre.Para que viver. Chorando intimamente ao pensar tudo isso. Alexandre ,em silêncio,rogou a Deus que protegesse Raquel e lhe desse forças para encontrar um meio de esclarecê-la e ampará-la. Rosana ,sentada no carro no carro ao lado dele,ficava calada e sem pressa,respeitando o silêncio do irmão.Até que ele disse: - Vamos até a casa do Marcos. Decorrido algum tempo,chegaram ao antigo endereço e uma vizinha informou que Marcos e a família haviam se mudado. - Desgraçada! - disse Alexandre,irritado ao retornar para o carro. - Não fique assim ,Alex! - advertiu a irmã. - É hora de você começar aprender a se controlar. - Alice é uma ordinária! Nem para falar que havia mudado .Afinal ,Raquel e Marcos são irmãos. - Essa raiva é que lhe faz mal.Controle-se. O irmão passava as mãos pelos cabelos exibindo-se inquieto. Logo Rosana perguntou: - Não há nenhum outro lugar onde ela possa estar. Na casa de alguma colega. - Não. Eu tenho certeza. Eles voltaram para o apartamento e nem sinal de Raquel. Virando-se para sua irmã,avisou: - Vou levá-la para casa. - Não mesmo! Vou ficar com você. - Para a mãe ficar desconfiada e vir me encher perguntando o que está acontecendo. Não! - afirmou ele com voz grave. - Você vai para casa. Dixe que eu cuido disso. Depois eu telefono e dou notícias.Nem fique me ligando para a mãe não desconfiar. Contrariada,Rosana concordou: - Está bem. Não vou dizer nada,mas por favor,me avisa! Após deixar a irmã em casa,ele voltou para o serviço a fim de encontrar Raquel no local onde combinaram. Para sua surpresa,Alexandre pode observar certa distância,Alice e Valmor abraçados,trocando beijinhos e carícias. - O que é isso!!! - assustou-se ele,que chegou a falar sozinho. Por estar mais preocupado com a amiga,procurou saber dela,tirando informações novamente na portaria. Diante da negativa,retornou ao estacionamento ficou lá até escurecer .Sem esperanças voltou para seu apartamento.
Ao chegar ,viu que a empregada já havia ido embora,e nem sinal de Raquel.Por volta das noves horas da noite a campainha tocou. Era Raquel.Alexandre precisou se conter,não sabia se brigava ou se abraçava .Decidiu,então,primeiro saber o que se passava. Raquel entrou abatida e desalentada. Parada,após dar os primeiros passos,ela parecia estar esperando alguma reação de Alexandre. Ele fechou a porta,olhou-a de cima a baixo e ficou na sua frente aguardando algum comentário.Ela abaixou o olhar e não disse uma única palavra.
Não resistindo ,Alexandre rendeu-se para envolvê-la num abraço. Raquel o abraçou forte o amigo a levou para que se acomodasse no sofá.
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Um motivo para viver
SpiritualRaquel nasceu em uma fazenda,numa pequena cidade do Rio Grande do Sul.Morava com o pai,a mãe,três irmãos e o avô,um rude e autoritário imigrante clandestino da antiga Polônia russa. Na mesma fazenda,mas em outra casa,residia seu tio Ladislau,com a m...