Aquele fim de semana iniciou-se com inúmeros pensamentos turbulentos para Alexandre.Sozinho em seu apartamento,ele não tinha muito o que fazer. Pensou em sair e ir ao clube,mas o tempo estava horrível.Esportes em quadras fechadas não lhe agradavam. Teve ideia de visitar seus pais,mas ele não se sentia bem para conversar e sabia como era sua mãe que,conhecendo-o bem, logo saberia que estava amargurado e começaria a enchê-lo de perguntas. Nem o jogo eletrônico no computador lhe agradava.Desligou a máquina,ligou, em seguida,o aparelho de som, e colocou um CD com músicas suaves. Lembrou-se de um livro que havia mais de um mês e não tivera tempo para ler. Apanhou a brochura e atirou-se no sofá ,mas, após ler poucas páginas,percebeu que sua atenção se prendia em Raquel. - O que estou fazendo? - perguntou em voz alta . - Prometi a mim mesmo que não iria me preocupar com ela. Amargurado,ele não conseguia conter os pensamentos.Levantando-se,colocou o livro sobre o console,pegou uma jaqueta,desligou o som e por fim apanhou as chaves do carro e saiu rapidamente. Minutos depois,sob a densa garoa fina que caía,ele se encontrava parado quase em frente à casa do irmão de Raquel. " Se ela saísse agora..." desejava ele em pensamento. " Mas a rua está deserta,está muito frio. O que Raquel teria para fazer fora de casa àquela hora?" Segundos depois ele tornava,preocupado : " Estou ficando louco! Tenho que pôr um fim nisso.O que estou fazendo aqui?" Quando pensou em ligar o carro e ir embora ,uma vontade maior dominou e uma esperança o prendia. Ele sentia que precisava ver Raquel. " E se ela aparecer? O que digo? Que desculpa posso dar?" De repente,Alexandre vê uma silhueta feminina,ao longe,andando na rua em sua direção.A cabeça estava coberta por um capuz que acompanhava o grosso agasalho. Ele não se importou e continuou a olhar na direção da casa. Mais perto,Raquel o identificou.Aproximou-se do veículo,ela o encarou surpresa e com um leve sorriso. Alexandre sobressaltou-se e não sabia o que fazer. - Você aqui? - perguntou ela,ainda sorridente. - É,eu .... Descendo rapidamente do carro,o rapaz não tinha quase o que dizer. Ele não sabia como se justificar.Colocando-se diante da colega,a cumprimentou ,dizendo: - Oi , Raquel. Tudo bem? - Tudo. E você? - Estou bem. Passei aqui para saber como você estava e... Alexandre exibia-se um tanto sem jeito e ela perguntou: - Ficou preocupado com o que fiz ontem,não foi? Sorrindo amavelmente,ele admitiu: - É verdade.Fiquei preocupado, sim. - Estou envergonhada. Desculpe-me - respondeu constrangida e abaixando olhar. - Não peça desculpas. Você não tem por que se preocupar. Acontece que... Bem,não é comum uma crise de nervos como essa. Entende? Eu realmente fiquei preocupado e queria saber como você estava. - Estou bem.Não sei o que lhe dizer. Pensando um pouco, Alexandre perguntou: - Foi o Vagner? - Como? O Vagner me disse que chegou em você.O que houve? Raquel empalideceu e não sabia o que dizer.Percebendo sua mudança,ele insistiu mais firme: - O que o Vagner fez com você? - Nada. -Como nada? Por que você está assim? Ele tentou segurá-la pelo ombro e Raquel se afastou-se. - Raquel,o que houve? - perguntou Alexandre ,alterado e nervoso. - Sou capaz de matar esse cara! O que aconteceu? Temendo uma situação difícil,ela resolveu mentir para acalmá-lo: - Não aconteceu nada. Por favor,acredite. - O que ele disse? - Só me chamou para irmos ao shopping,você sabe e eu não aceitei. Ela abaixou o olhar e o colega fitou-a por longo tempo.Por um momento,ele pensou no porquê estaria fazendo aquilo,afinal não tinha nada a ver com a vida de Raquel. A garoa começou a ficar mais densa.Ambos estavam quase molhados. Raquel começou a se incomodar.Ela não poderia convidar Alexandre para entrar por causa de seu irmão. O que Marcos não pensaria? O colega,por sua vez,esperançoso por um convite que não aconteceria,decidiu abrir a porta do carro e chamá-la: - Vem, entra aqui ,vamos conversar. - Não - respondeu a moça sem jeito ,justificando em seguida: - Perdoe-me por não chamá-lo para entrar ,é que... Tirando-a do embaraço,ele a interrompeu: - Não se preocupe.Eu entendo.Mas venha,vamos dar uma volta. - Não. Agradeço o convite,mas estou com muita dor de cabeça horrível.Estou vindo da farmácia,veja - disse ela,tirando do bolso um pequeno saquinho contendo um medicamento -,saí para comprar um remédio porque não aguentava mais. -Ah,então estou te atrapalhando. Vá ,entre e tome o remédio.Passei aqui só para saber de você. - Obrigada.Estou bem. - Se não fosse ador de cabeça,não é? Raquel sorriu e concordou: - É sim. - Tchau , então. - Alexandre sentiu forte impulso de beijá-la no rosto,como seria comum,mas conteve-se e estendeu-lhe a mão. - Tchau - respondeu Raquel com agradável sorriso. Após a partida de Alexandre,ela o admirou,pensando: " Como ele é discreto." Mas logo em seguida se preocupou: " Alexandre está muito solícito,dedicado.Não! Ele não pode estar interessado.Nunca tive um amigo como ele,se isso acontecer... tenho que me afastar dele" Raquel sentiu-se mal e insatisfeita com o rumo que as coisas tomavam. Como sua vida mudou.Ela era independente,trabalhava para sobreviver,mas ninguém a incomodava.De repente aconteceram tantas coisas que lhe doíam muito. Alexandre,por sua vez,foi embora satisfeito.Uma alegria agradável o invadira. Como desejava,ele vira Raquel,mesmo que por alguns minutos. Mais tarde,em seu apartamento,Alexandre se questionava se aquilo estava certo. Ele temia estar apaixonado por sua amiga.Temia sofrer novamente. Procurando alterar o rumo da situação,começou a se determinar a ser forte e ter uma postura mais vigilante.Decidido,resolveu que só seria amigo de Raquel.
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Um motivo para viver
EspiritualRaquel nasceu em uma fazenda,numa pequena cidade do Rio Grande do Sul.Morava com o pai,a mãe,três irmãos e o avô,um rude e autoritário imigrante clandestino da antiga Polônia russa. Na mesma fazenda,mas em outra casa,residia seu tio Ladislau,com a m...