O senhor Claudionor deteve as palavras e Alexandre,ponderado,perguntou: - Pai,se isso ocorresse com a mãe,você iria ajudá-la? Ficaria do seu lado? Ou iria se afastar dela e até procuraria outra companheira? - Claro que ficaria com ela! - respondeu ele,sem titubear. - Não sou só marido da Virgínia,sou seu amigo,parceiro. Alexandre só sorriu e o pai compreendeu o que ele quis dizer. Logo depois o filho avisou,deixando-o mais a par da situação: - Na próxima semana vamos a um psicólogo. - Já marcaram? - Sim,já. A Rosana nos falou de um colega do primo do Ricardo,mas eu não gostei e depois ela me indicou uma associação de psicólogos espíritas.Liguei lá e consegui o telefone,marquei e até já fui conversar com ele. -Já?! - admirou-se ele. - Sim,eu já.A Raquel ficou com vergonha e não quis ir.Depois quando voltei e lhe contei como foi,ela se arrependeu e aceitou,disse que iremos juntos da próxima vez. - Que bom! Fico feliz por vocês. - Estou confiante,pai. Vai dar certo.Ás vezes vejo que mesmo sem ter orientação ou assim,já obtive certo progresso. O pai sorriu e disse: - É!... Realmente eu eduquei um homem digno.Tenho orgulho de você,filho. Alexandre sorriu e falou: - Tenha orgulho de você também,pai. Sou o que sou graças ao que aprendi com você.Segui seus conselhos. A mando dos priminhos,Bruna chegou de repente,e com um brinquedo ,começou a espirrar água em ambos. As outras crianças correram e saíram para se esconder. A distância,Raquel viu,se aproximou e com modos simples,repreendeu a filha: - Bruna! Não faça isso com o vovô. O marido se levantou e disse sorridente: - Ah! Quer dizer que com o papai pode? Ao falar assim,Alexandre,querendo brincar ,agarrou a esposa ,que estava com roupas comuns,para jogá-la na piscina. Com o gesto rápido do esposo,junto com o ruído alto que ele fez com a garganta,Raquel se surpreendeu e gritou,como quem horrorizada.Em pânico,segurando-o com tamanha força a ponto de arranhá-lo com as unhas: - Não!!! Não!!! - pediu ela apavorada,após o grito de medo. Alexandre se surpreendeu,colocando-a no chão e disse,com voz piedosa: - Raquel,calma. Está tudo bem.Sou eu. Raquel estava pálida,seus joelhos começaram a se dobrar lentamente.Ela não tinha forças para se manter de pé. O senhor Claudionor levantou-se rápido,entendeu o que acontecera e não sabia o que fazer para ajudar. Apenas aproximou Bruna de si. Abraçada ao marido,agora Raquel disse com voz fraca e chorosa: - Não estou me sentindo bem. Alexandre a envolveu,pegou-a no colo e a levou para dentro da casa. Bruna,sem compreender o que estava acontecendo,passou a chorar também por ver a mãe reagir daquela forma. Abaixando-se rapidamente,o pai de Alexandre pegou a pequena Bruna no colo,procurando confortá-la. - Não foi nada ,filhinha - dizia o avô carinhoso afagando-a. - O papai só brincou e a mamãe se assustou,viu? Não chora,não. Raquel,em pranto,abraçada ao marido,foi levada para dentro de casa. Dona Virgínia e Vilma que saíam ás pressas para ver o que tinha acontecido,encontraram com Alexandre ,que já entrava em casa com Raquel no colo. - O que aconteceu,Alex?! - perguntou a mãe. - Nada,mãe - ele respondeu rápido. Quando elas iam atrás do casal,o avô,com a neta,as chamou: - Vilma,Virgínia,deixem os dois,cuide da Bruna,que está assustada. Alexandre levou sua mulher para um dos quartos,a fez sentar e ficou a seu lado abraçado com ela. Há tempos Raquel não chorava assim e talvez o fez não tanto pelo susto,mas contrariada consigo mesma por não estar conseguindo deter a exibição daquela reação. Dona Virgínia chegou trazendo um copo com água açucarada que o filho pegou-lhe das mãos e gentilmente ajudou Raquel a tomar. Ao vê-la mais tranquila, Alexandre,ainda a seu lado ,falou: - Desculpe-me Raquel.Foi sem pensar. Ela e recostou em seu ombro,procurando amparo,e respondeu em voz baixa: - Não foi culpa sua.Sou eu... Dona Virgínia deixou os dois a sós ao se retirar. Alexandre a olhava com carinho e começou a refletir percebendo que,a cada dia ,a esposa não lhe fugia aos contatos como antes. Mesmo se apavorando por um instante e chorando,Raquel logo o abraçou e o reconheceu como apoio,aceitando-o naturalmente.Assim como fizera na noite anterior. O marido preocupou-se e avisou: - Vou lá buscar a Bruna. É melhor que ela a veja,pois se assustou muito. Ao voltar com a filhinha no colo,ele a colocou nos braços da mãe. Raquel procurou sorrir e desfazer a última imagem que a menina tivera. - Não chora,mamãe. - Não estou mais chorando,filhinha. - O papai só brincou,mamãe. - Eu sei,meu amor - afirmou sorrindo e beijando-a. Emocionado,Alexandre abraçou as duas como se fossem seu maior tesouro. Apesar dos desafio,ele se sentia feliz e agradecia a Deus por tê-las em sua vida,completando-o. Mais tarde tudo parecia normal. Raquel parecia melhor,mas pouco se alimentou no almoço e disfarçou a inapetência por causa da sua atenção que se voltava para as crianças. Alexandre percebeu,mas não disse nada. Á noite,pouco antes da ceia,outros parentes chegaram e todos estavam animados. Rosana,empolgada com a presença dos futuros sogros,quase não tinha tempo para dar atenção á própria família. Vilma sempre correndo atrás das crianças,que agora acrescidas por outros priminhos que chegaram e estavam em maior número ,nem se reunia aos demais. Os homens formavam pequenos grupos conversando e rindo muito. Dona Virgínia,a certa distância.conversava com uma cunhada,mas observa Raquel estava muito quieta. Na primeira oportunidade,ela se aproximou da nora e perguntou: Na primeira oportunidade, e sem jeito,avisou sussurrando de modo encabulado: - Estou com uma dor de cabeça horrível. -Por que não me falou? em cá que vou lhe dar um remédio. Seguindo a sogra,Raquel foi até a cozinha para tomar o medicamento. Após refletir um pouco,a sogra decidiu perguntar: - É só isso mesmo,Raquel? - É sim,dona Virgínia. - Foi por causa daquilo né? O Alex a assustou. Com seu jeito meigo,Raquel defendeu o marido: - Não foi culpa dele. O Alex só estava brincando.É que... - Procure ajuda,filha. Você não precisa viver com esse fantasma. Os olhos da moça se encheram de lágrimas,que quase transbordaram. A sogra a abraçou com carinho e ainda disse: - Raquel,Raquel! Como gosto de você menina.Eu a quero como minha filha! A nora a apertou contra si e não conteve as lágrimas teimosas que rolavam. Walter,que chegou a cozinha,brincou alegre: - Hoje não é dia de pra chorar! O que é isso? Vamos? Vamos! Eles voltaram para onde todos estavam reunidos e esqueceram aquele momento. As horas foram passando e Raquel não se sentia bem. Algo estava errado com ela. Alexandre demorou a perceber que a espoa empalidecia. Aproximando-se dela,ele perguntou generoso e preocupado: - O que você tem,Raquel? - Bem - disse ela quase sussurrando -,me leva para o quarto. Sem alarido,ele a levou para a suíte,onde Raquel entrou ás pressas procurando o banheiro,sem conseguir conter o vômito. Alexandre a segurou,ajudou-a a lavar o rosto e a levou para se deitar. A esposa se largara sobre a cama,com face pálida e com os olhos fechados sem se importar com nada. - O que foi,Raquel? - Não sei - balbuciou ela desanimada. Discretamente ele chamou a mãe,contando-lhe o que estava acontecendo. Mas os demais,sentindo a falta deles,começaram a tomar conhecimento que a esposa de Alexandre não estava bem. - Vou levá-la ao médico - decidiu ele. - Não - pedia Raquel,que mal conseguia falar. - Leve-a sim filho - aconselhava o senhor Claudionor. - É o melhor a se fazer. - Eu vou com você! - decidiu Vilma. - Não ,Vilma - respondeu o irmão-,fica aqui e olha a Bruna pra mim,por favor. - Eu vou - disse dona Virgínia. - Não mãe. Não é necessário - resolveu Alexandre ,que já começava ficar irritado. - Calma gente! Também não é assim! Eu vou sozinho ,não há nada em que vocês possam me ajudar. Além do que,temos convidados aqui. Não deve ser nada muito sério. Decidido,o marido pegou Raquel ,colocou-a no carro e a levou ao hospital. Ao ver o irmão sair,Rosana comentou arrependida: - Eu deveria ter ido com eles. - Daqui a pouco eles voltam - disse sua futura sogra,que rindo completou: Você quer apostar que ela está grávida? Rosana riu e não disse nada.
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Um motivo para viver
EspiritualRaquel nasceu em uma fazenda,numa pequena cidade do Rio Grande do Sul.Morava com o pai,a mãe,três irmãos e o avô,um rude e autoritário imigrante clandestino da antiga Polônia russa. Na mesma fazenda,mas em outra casa,residia seu tio Ladislau,com a m...