No sábado pela manhã,os primeiros raios de sol,sem convite,o apartamento de Alexandre.Ele acordara cedo,e ao se levantar ,percebeu que Raquel ainda dormia. Após tomar um banho e fazer o desjejum,acreditando que não iria incomodar Raquel,Alexandre foi até o outro quarto e tomando nas mãos o velho amigo violão,sentou-se em uma almofada que estava no chão e começou a afiná-lo. Após o som estar em harmonia ,ensaiou as primeiras notas de uma linda canção e impostando a voz somente com a garganta ,fechou os olhos para acompanhar aquele solado suave e doce que soava quase como um lamento. Não demorou muito e Raquel despertou. Ela seguiu a música até encontrar no outro quarto Alexandre sentado a tocar e cantar. Quase de costas para porta,ele a não viu.Sem se deixar perceber,ela se retirou,não interferindo naquele agradável momento. Indo se cuidar,logo tomou alguns afazeres até,que,bem depois,Alexandre silenciou. Nesse instante ela decidiu ir vê-lo. Encontrando-se abraçado ao violão,com a cabeça baixa e os olhos fechados,Raquel arrebatou-o das reflexões ao dizer com sua voz suave e meiga. - Estava tão lindo! Continue ,por favor. Alexandre sorriu e estendeu-lhe a ão,convidando-a para que se sentasse a seu lado. Raquel assim o fez,aceitando a oferta. Sentindo-se orgulhoso por receber aquele elogio,ao empunhar o instrumento,dominando-o,disse: - Esta canção é para você. Roubando as mais belas notas e arranjos que podia,ele executou outra linda canção para Raquel. No final ainda afirmou: - Há tempos eu não a tocava. - Que linda! Obrigada. Sorrindo,Raquel se aproximou e beijou-lhe o rosto. Quando ela ia se sentar novamente ,Alexandre a segurou pela cintura,impedindo-a de se afastar dele.Colocando o violão no chão,procurou envolvê-la com um abraço suave. Raquel,paralisada,quase rígida,exibia medo parecendo ter perdido a cor,mas deixava-se conduzir. Alexandre,sério e observando suas reações,trouxe-a para junto de si deitando-a,sobre suas pernas ,que estavam cruzadas.Olhando-a por longo tempo,acarinhou-lhe os cabelos,desalinhando-os,enquanto inúmeros pensamentos corriam por sua mente. Receosa,Raquel encolhia-se em seus braços pelo temor que sentia e parecia nem respirar,fitando-o,assustada. Alexandre sorriu piedoso e pensativo ao compreender o pânico que ela vivia,e para distraí-la,comentou: - Você está gelada. Raquel esboçou um sorriso forçado e ele completou com voz generosa,quase sussurrando: - Confie em mim .Eu a amo tanto. Os lábios de Raquel tremiam,mas procurando vencer-se ,com voz baixa,pronunciando: - Eu também amo você. Alexandre curvou-se ainda mais roçando seu rosto naquela face macia,mas,quando encontrou seus lábios ,ele a percebeu chorar.Seu coração apertava,jamais Alexandre experimentara tanta dor,tanta piedade por alguém.Olhando para Raquel percebera como era miúda,frágil,delicada e indefesa,ela não podia reagir contra ninguém,não teria forças. Com carinho,ele a abraçou contra seu peito ,embalando-a e dizendo: -Meu amor,não tenha medo. Eu vou protegê-la enquanto viver. Logo ao se afastar,Raquel quis se ajeitar e ele ajudou. Novamente sentada a seu lado,secando as lágrimas e constrangida,escondia o rosto ao pedir: - Desculpe-me. Alexandre ficou de joelhos,ajeitando seus cabelos e acariciando-lhe o rosto falou generoso: - Não peça desculpas.Você não tem culpa nenhuma. - Segurando-lhe as pequenas mãos,ele completou com voz terna: - Não tenha medo ou vergonha de chora perto de mim.Não tenha medo de me pedir para parar.Por favor. Raquel o encarou e ameaçou abraçá-lo. Num impulso ele a envolveu como amigo fiel e parceiro para todas as horas,procurando logo animá-la,convidando: - Vamos á casa dos meus pais comigo. Preciso ir lá. Com jeitinho ,ela respondeu: - Acho que não devo. - Vamos,vai. - Por favor.Além de estar envergonhada por estar aqui,ainda perdi o emprego e... - Vou levá-la comigo,sim- afirmou ele,levantando-se e erguendo-a consigo. - E ainda vou apresentá-la como minha namorada. - Não! - Então o que temos. Raquel enrubesceu e se embaraçou,dizendo: - Nós... - "Nós",o quê.Pare de enrolar e vamos logo. Aliás ,você quer se arrumar ou vai assim mesmo. - Não vou. Olhando de um jeito esquisito,brincando e com sorriso no rosto,ele falou: - Vou carregá-la no ombro,se for preciso,hein! Ela sorriu e ficou sem jeito,decidindo não resistir. Antes de sair de casa,Alexandre telefonou para sua mãe avisando: - Mãe. - Oi,filho. Tudo bem. - Tudo. - Você não vem para cá. Estou esperando. - Mãe,tem almoço para dois. A Raquel vai comigo. Mesmo surpresa ,ela respondeu: - Claro! Traga-a sim. - Daqui a pouco estaremos aí.Um beijo. - Outro,filho.Vem com Deus.
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Um motivo para viver
SpiritualRaquel nasceu em uma fazenda,numa pequena cidade do Rio Grande do Sul.Morava com o pai,a mãe,três irmãos e o avô,um rude e autoritário imigrante clandestino da antiga Polônia russa. Na mesma fazenda,mas em outra casa,residia seu tio Ladislau,com a m...