Ao olhar o painel do carro e ver acesa uma luz que indicava problemas na parte elétrica,Alexandre avisou: - Caramba! Estamos com algum problema.Não sei o que é isso,precisamos parar. - Não! - gritou Raquel. - Calma.O que é isso? Ao avistar uma casa bem mais estruturada que as outras e observando que a mesma tinha um jipe parado a poucos metros,ele decidiu e falou: -Vamos para ali. Momento em que o carro desligou por completo,sem que Alexandre conseguisse dar partida no motor. - Não! Não,por favor! - implorou Raquel,em pranto,segurando no braço do marido. - Leve-me embora! - Mamãe! - chamou Bruna por ela,pois se sentia assustada com o que via. Raquel colocou o braço para trás,e procurou se controlar ,fazendo-lhe um carinho,confortando-a. Sem saber o que fazer,Alexandre falou firme e mantendo calma: - Raquel eu não tenho alternativa.Não consigo ligar o motor. - Eu pedi para irmos embora - disse ela chorando. - Eu sei.Desculpe-me,mas no momento... E,deixando que o carro aproveitasse o impulso da pequena descida,Alexandre controlou sua velocidade no freio até pará-lo na frente da casa. Após olhar para a filha,ele pediu baixinho para Raquel. - Controle-se ,bem. Você vai assustá-la. Ela tentava se conter,mas parecia empalidecer a cada minuto.Ao ver o carro parado,Bruna passou por entre os bancos e foi para o colo da mãe. Raquel sentia-se muito mal. Ela estava gelada,sua respiração se alterara e ela fechou os olhos procurando se controlar. Ao ver Alexandre descer,um empregado se aproximou,perguntando: - Tá perdido,moço? - Não. Estou com problemas no carro. - De onde moço vem? - Sou genro de dona Tereza,marido da Raquel,sua filha. Estávamos passando e... - Ah! Soube que chegaram ontem. - Foi isso mesmo - visou Alexandre. Aproximando-se do carro,só então o empregado reconhecia Raquel,que antes ,devido ao reflexo espelhado do vidro,ele não via. - Raquel?! - surpreendeu-se ao chegar perto. - Quando eu ouvi falar,não acreditei!Bah!!! Ela abriu a porta do carro,Alexandre deu a volta,pegou a filha pela mão e o homem,ainda admirado,a olhava surpreso.Raquel não queria descer do carro,mas se viu obrigada. - Olá,Afonso - cumprimentou ela,estendendo-lhe a mão trêmula e gélida. O senhor tirou o chapéu,cumprimentou-a animado e com largo sorriso. O esposo logo se apresentou: - Meu nome é Alexandre.Sou maridoda Raquel. - Indicando para a menina,completou: - Essa é Bruna Maria,nossa filha. O senhor Afonso ficou perplexo.Fora ele quem abrigara Raquel na noite em que o avô a colocou para fora de casa. Com olhar piedoso e voz melancólica,Raquel parecia implorar ,ao pedir: - Seu Afonso,por favor poderia nos ajudar?Só voltei aqui para ver minha mãe,mais nada.Nosso carro apresentou um defeito e... Eu quero sair daqui. Pelo amor de Deus! - Barbaridade! Vou ver o que te posso fazer.Tu sabes,né... - Esse jipe pode rebocar meu carro até a casa grande - disse Alexandre,olhando para o veiculo. - Este tá quebrado.Ninguém mais consertou desde o acidente que matou as gurias do seu Ladislau. O senhor olhou para Raquel e disse constrangido: - Tem a pick-up lá atrás. Raquel tremia e olhava para o marido ,que disse: - Pode nos emprestar a pick-up? - Tu tens que pedir para seu Ladislau. Ele é o dono e tá lá dentro - tornou o homem,meio sem jeito. - Não! - decidiu Raquel. - Vamos embora a pé! - Ficou louca,Raquel? É longe! E a Bruna? - Virando-se o empregado,Alexandre perguntou: - Vocês não tem nenhum outro carro aqui? - Tem,mas já saiu para trabalhar com os empregados ou com o leite.Isso foi bem cedinho. Nervoso com a situação ,o marido decidiu: - Onde está o dono dessa caminhonete? Vou lá falar com ele. - Não! - pediu Raquel. Alexandre não se importou e se afastou do carro em direção á casa,subindo os poucos degraus da varanda de dois em dois.Batendo palmas,ele se anunciava. Uma mulher ,que parecia empregada,surgiu á porta,e o sonhor Afonso ,logo atrás do rapaz , perguntou a mulher: - Onde está o seu Ladislau? - Ali,ó! - disse ela indicando ao homem, que de costas,estava sentado numa cadeira,parecendo aguardá-los,pois a janela,assistia á cena que ocorrera lá fora. Alexandre entrou,e ao olhá-lo sentiu-se mal,porém procurou manter as aparências e controlar seus sentimentos. Aproximando-se ,ele se apresentou: - Sou Alexandre,genro da dona Tereza.- O homem ficou em silêncio e ele continuou: - Vim aqui a passeio ,só para minha esposa visitar a mãe.Estávamos dando uma volta e meu carro apresentou um problema quase aqui em frente. Ladislau não dizia nada,só olhava firme. Alexandre parou de falar,suspirou fndo,andou mais alguns passos,engoliu a seco e completou: - Preciso de um carro emprestado e pensei no jipe,mas o Afonso disse que está com defeito.Não há mais nenhuma outro e não podemos voltar a pé.Não por mim ou pela minha esposa,mas é que estamos com nossa filha e... - Após interromper o que diza,pela emoção que o fez embargar a voz,completou: - Ficaria difícil ,ela é pequena.Poderia nos emprestar a sua caminhonete para guinchar meu carro? Com olhar firme,quase sem piscar,Ladislau não demonstrava espressão alguma. Ele moveu sua cadeira de rodas na direção da porta ,passando por Alexandre e seguindo até chegar a varanda de onde podia ver melhor Raquel e a filha. Ela ,em pé,aguardava aflita a volta do marido.Ao vê-lo,Raquel segurou Bruna na sua frente e também o encarou firme sem expressão,sem sentimento algum. - Vá lá e pegue as chaves.Ajude no que precisarem.Viu! Alexandre agradeceu se virou quando ia descendo a escada,ouviu: - É tua a guria? O marido da Raquel se virou e respondeu sereno quase sorrindo: - É sim. É minha filha,sim. Não é linda? Após encará-lo,ele virou ,foi na direção da esposa,e a fez entrar no carro junto com a garotinha. O veículo foi guinchado até a casa grande,onde Raquel entrou ás pressas sem dier nada.
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Um motivo para viver
SpiritualRaquel nasceu em uma fazenda,numa pequena cidade do Rio Grande do Sul.Morava com o pai,a mãe,três irmãos e o avô,um rude e autoritário imigrante clandestino da antiga Polônia russa. Na mesma fazenda,mas em outra casa,residia seu tio Ladislau,com a m...