Naquele momento,Alexandre assustou-se com a aproximação de Vagner, que o cumprimentava com uma pergunta: - E aí? Caiu da cama? - Ao encará-lo surpreso, o colega tronou mais cordial: - Bom dia , Alexandre! - Bom dia. - Caiu da cama? É... Tinha algumas pendências e resolvi chegar mais cedo. - Como está se sentindo com a mudança de lugar,e mais próximo à Raquel? - A mudança de lugar não interferiu em nada, mas o remanejamento de atividade está me fazendo penar um pouco. - E a Raquel? - Não sei. O que tem ela? - respondeu Alexandre com uma pergunta e começando a se sentir irritado com aquela conversa. - Não se faça de bobo, Alexandre. Como ela está se comportando? Deixou de ser durona? Está mais flexível com você? Alexandre fez silêncio por alguns instantes,abaixando o olhar e pensando em uma resposta conveniente,antes que refletisse,Vagner insistiu: -Cá pra nós,somos homens e... sabe como é, esse tipo de mulher misteriosa e difícil é só para fazer charme e chamar a nossa atenção. - E,após breves segundos,ele comentou: - Ontem eu tentei chegar nela,mas não deu. Não tolerando a ironia de Vagner,Alexandre procurou se conter,falando sério quase irritado: - Vagner, é o seguinte: eu não estou aqui para conquistar ou seduzir ninguém. Estou preocupado com meu trabalho,quero aproveitar as oportunidade e, principalmente ,aprender com os desafios.Resumindo : quero crescer profissionalmente.Se existe gente fazendo cena de mistério,aqui não é o lugar adequado. Raquel faz da vida dela o que quiser. Ela não me diz respeito, como já lhe disse, o caminho está livre. Não estou interessado. Se você tiver capacidade, conquiste-a. Ofendido , Vagner revidou com palavreado vulgar,duvidando da moral de Alexandre por não estar interessado na colega. Irritado, Alexandre levantou-se rapidamente ,agarrou-o pela camisa e, quando armou o punho fechado para acertá-lo,Raquel que acabava de chegar ,ligeira ,e segurou-o pelo braço,quase se pendurando em Alexandre e colocando-se entre ambos,dizendo: - O que é isso? O que está acontecendo aqui? - indagou assustada. Alexandre estava furioso,ofegante e com um suor frio gotejando no rosto.Ele trazia no olhar uma raiva incontrolável. Raquel, ao encarar Vagner, lembrou-se do que havia ocorrido no dia anterior e o odiou por aquilo. Sem perceber,ela apertava o braço de Alexandre sem largá-lo. Vagner,empalidecido e com respiração alterada,ajeitou a roupa e temeu que ela contasse algo. Cabisbaixo,retirou-se sob a mira dos olhares brilhantes ,fulminantes de ambos. Como o expediente ainda não tinha começado e a cena ocorrera com rapidez, ninguém percebeu o que se passou ali, pois havia poucos funcionários no setor. Segundos depois, trêmula ,Raquel ainda se fazia em pé e Alexandre agora,muito pálido,atirou-se na cadeira e, ofegante,cerrou os olhos. Aproximando-se do colega,ela ouviu falar quase sussurrando: - Preciso de um pouco de d'água. Raquel,ligeira,trouxe-lhe um copo com água. Ela observou quando Alexandre,trêmulo ,mal conseguiu abrir uma gaveta e apanhar um vidro escuro, sem rótulo,de onde tirou dois comprimidos,ingerindo-os com rapidez. O vidro aberto tombou na gaveta espalhando algumas cápsulas pelas mãos vacilantes do rapaz. Calma,Raquel as ajuntou, guardando-as novamente no frasco. Agora, fitando Alexandre por alguns minutos,vendo-o com os olhos fechados e praticamente com o corpo largado na cadeira,ela observou sua palidez acompanhada de um suor que umedecera sua face. Depois alguns minuto,suspirando profundamente,ele ergueu o tronco e, ainda sentado,ajeitou-se na cadeira,esfregando o rosto com ambas as mãos e alinhando os cabelos,recompondo-se um pouco mais. Vendo-o mais refeito,Raquel perguntou com voz suave,quase sussurrando: - Sente-se melhor? Alexandre engolindo a seco,ergueu o olhar encarando-a e,forçando um sorriso,afirmou: - Estou bem.Desculpe-me. Ainda nervosa,mas procurando se conter ao máximo,com cautela ela perguntou: - O que estava acontecendo,Alexandre? Ele se sentia tonto e precisava respirar. Tranquilo,mas exibindo ainda certo tremor nas mão fortes,avisou: - Raquel,eu preciso de ar Vou dar uma volta .... Acho que vou lá para o pátio ,no estacionamento. -Ainda faltam cinquenta minutos para o horário.Vou com você,também estou nervosa. O rapaz ,co semblante sério,saiu na frente seguido por Raquel. Pegaram o elevador e o silêncio foi absoluto. A moça o olhava assustada,temia que ele passasse mal,pois pouco podia fazer. Alexandre era alto e forte. Vez ou outra ele esfregava as mãos que traziam ,além da palidez,um suor gelado. Já no estacionamento,caminhavam vagarosamente sob as árvores na calçada estreita entre os carros que se estacionavam a quarenta e cinco graus, sem dizerem nada. Após alguns minutos ao chegarem,perto de um banco,Alexandre parou e fez um gesto para que Raquel se sentasse. Ela assim o fez e ele se acomodou a seu lado.
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Um motivo para viver
DuchoweRaquel nasceu em uma fazenda,numa pequena cidade do Rio Grande do Sul.Morava com o pai,a mãe,três irmãos e o avô,um rude e autoritário imigrante clandestino da antiga Polônia russa. Na mesma fazenda,mas em outra casa,residia seu tio Ladislau,com a m...