A irmã de Alexandre retribuiu com um sorriso e argumentou: - Nunca deixe acabar a amizade entre vocês dois.Converse com ele,ouça-o quando for preciso. Sejam verdadeiros um com o outro.Isso é o que mais importa. Sabe,Raquel ás vezes eu fico preocupada em pensar que o Alex está aqui sozinho.Vai saber o que passa pelos pensamentos dele. Como será que se sente só? Sem um objetivo para lutar,sem ter alguém com quem dividir. Quando eu soube que você estava aqui,e que ele a estava ajudando,pensei: que bom! Acredito que quem está sendo ajudado nessa história toda é o Alex,e não você. - Por quê? - Porque as pessoas precisam se sentir úteis e fazendo algo que gostam.Ajudá-la é algo que o satisfaz,ele gosta. Isso o mantém com a mente ocupada .O faz se sentir útil.Ele tem um motivo,um prazer em dúvida. Aproximando-se mais da nova amiga,Rosana pegou-lhe as mãos e perguntou: - Fala. O que a perturba? Seus olhos se encontraram e Raquel permaneceu pensativa. Ela não poderia confiar á irmã de Alexandre os seus mais íntimos pensamentos. Principalmente pelo fato delas terem acabado de se conhecer. Entretanto,conversavam como se fossem amigas há muito tempo. - Eu... - tentou dizer Raquel. Diante do silêncio,Rosana perguntou: - Você?... - Aconteceu muito rápido. Tudo isso é novo e estranho para mim.Não fui acostumada a esse tipo de situação em que vivo hoje.Tenho medo. Vergonha. - Medo do quê,Raquel? Medo do Alexandre? Amoça ficou em silêncio e abaixou o olhar,que exibia preocupação.Sem perceber,ela apertava as mãos de Rosana.Acreditando entender Raquel e conquistando sua confiança,generosa,Rosana perguntou baixinho: - Você tem medo do meu irmão,é isso? - Não... Não é bem isso. - Eu sei. - Ele a quer muito bem. Olhando-a com firmeza,Raquel perguntou: - Talvez seja esse o problema. - É problema ele gostar de você. - Sim,é - respondeu a amiga,abaixando o olhar. Alexandre surgiu na porta e no ângulo em que Raquel se encontrava,não poderia vê-lo. Esperta ,Rosana fez-lhe um gesto rápido com a cabeça e o olhar,indicando que voltasse para a cozinha.Virando-se para Raquel,ela falou: - O Alex gosta de você e a respeita.Não creio que haja segundas intenções nesse apoio que ele está lhe dando. - Eu sei.Ele já me disse isso. - Confie nele. - Então qual o problema? - Sou eu o problema - respondeu Raquel com voz baixa,escondendo o olhar. - Como assim? - questionou Rosana,com delicadeza. Um minuto de pausa se fez até que Raquel resolveu tentar esclarecer. - O Alexandre é uma criatura muito nobre.Eu jamais poderei corresponder aos seus sentimentos.Não da maneira como ele merece e.... Pegando no queixo de Raquel,Rosana a fez olha-lá e perguntou ,mesmo se lembrando do que seu irmão lhe contara. - Por que Raquel? Por que ,se meu irmão te amar,você não poderá corresponder?Você não gosta dele? Sentindo seu coração apertar a moça não conteve as lágrias que correra em seu rosto. Desconfiada,Rosana perguntou com jeitinho e observando a reação da amiga: - Raquel,você gosta do Alexandre? Sem que Rosana esperasse,a amiga abraçou-a chorando. Ela correspondeu ao abraço carinhosamente ,enquanto dizia: - Calma,Raquel. Fique tranquila.Que bom que é isso. - Não... - disse,com a voz abafada pelo abraço e rouca pelo chro. - Isso não pode ser. Tem muita coisa que você não sabe. Após pequena pausa,Rosana pediu: - Você quer me contar? Pensando um pouco,ela respondeu: - Talvez outro dia. Raquel se afastou do abraço e Rosana passou a secar suas lágrimas aparando-as com as mãos. - Seremos grandes amigas.Pode confiar em mim. Gostei muito de você.Admiro sua sinceridade,seu coração puro. - Não. - Não o quê? Não teime comigo! - respondeu Rosana brincando. - Agora,vamos lá para o quarto para lavar o rosto,escolher uma roupa bonita e sair para passear um pouco. - E a pipoca? - Que pipoca? Não está sentindo cheiro de queimado,não? Essa pipoca já era! Agora vamos. Elas foram para o quarto e Rosna,com seu jeito descontraído de ser,arrancou até gargalhadas de Raquel contando seus atos. Pouco depois,enquanto Raquel acabava de se aprontar ,a amiga foi para a cozinha á procura de seu irmão. - O que vocês conversram tanto? - perguntou Alexandre curioso. - Ah! É assunto de mulher.Não vou contar .Não posso trair minha amiga. - Pare com isso,Rô? - Nós vamos sair para dar uma dar uma volta.Empresta seu carro? - E eu?!!! - reclamou o irmão,incrédulo e se sentindo rejeitado. - Você vai a algum lugar? Se for,nós o deixaremos no seu destino,e de lá sairemos nós duas. - Não! Eu vou junto com vocês! - Não mesmo! - E o Ricardo? Não vai ver seu noivo hoje? - Ele foi para o Rio a serviço.Estou livre e desimpedida e a Raquel também. Alexandre não acreditava no que estava ouvindo,o jeito irreverente da irmã o incomodava naquele instante. Andando de um lado para outro,Rosana ,falava de um jeito brincalhão e mais debochado: -Vai,Alex! Dê-me a chave do carro.Preciso ensinar a Raquel a se divertir. - Ah,não! Vocês não vão ,não. - Tudo bem! Só vou usar o telefone um pouqinho,tá? Preciso chamar um taxi. - E eu?!!! - Estou falando sério.Sairemos só nós duas.Se o levarmos,você vai nos constranger...Ih! Isso não vai dar certo.Você fica,meu filho! Dizendo isso,Rosana foi para a sala onde Raquel acabava de chegar. - Você está ótima,Raquel.Vamos! Voltando-se para o irmão,que estava parado á porta,incrédulo e com os olhos arregalados,Rosana perguntou como se fosse pela última vez: - Você vai ou não vai dar a chave do carro? Suspirando profundamente,exibindo-se contrariado,Alexandre falou: - Toma. E cuidado,hein! Meu carro é novo. - Você não vem? - perguntou Raquel,que não sabia o que estava acontecendo. - Não pergunte novamente,Raquel.Vem você,ele fica. - E,empurrando Raquel porta afora,Rosana foi falando,enquanto ele ouvia sua voz sumir: - Como toda a pipoca,viu, Alex!Pipoca fria,murcha e queimada é horrível! E não fique nervoso,olha o coração! Sem concordar com a situação ,por sentir excluído, Alexandre,percebendo que não adianta ficar irritado com Rosana,começou a rir sozinho. Sua irmã parecia não ter juízo.Rosana era uma excelente pessoa. Maravilhosa! Sempre alegre e extrovertida.Nunca a via triste nem deprimida.Alexandre confiava muit nela. O engraçado era que,quando pequenos,eles brigavam muito,mas logo na adolescência da irmã,eles pasaram a ser grandes companheiros. Perdido em seus pensamentos ,ele começou a analisar o que ouvira dela há pouco. De onde será que sua irmã tirara aquelas reflexões tão lógicas? Ele nunca se preocupara com religião ,principalmente por não gostar de ter que seguir normas preestabelecidas e rituais sem entender o motivo,ou sem ter razão lógica e proveitosa. Ao mesmo tempo,ele acreditava em Deus,nas oportunidades positivas da vida.Ele mesmo podia dizer que enfrentara situações em que pudera escolher entre o bem e o mal,seguindo qualquer um dos caminhos por vontade própria,mas não havia pensado em ser ter que resgatar ,com experiências próprias,os resultados do que escolhera fazer. Quando esteve internado,pensou muito em Deus,em Sua existência e pediu por uma oportunidade. Parece que Deus havia lhe dado essa chance,se não por merecimento,foi por misericórdia. Ele sempre quis entender por que,tão novo e com uma vida inteira pela frente,foi sofrer aquele problema cardíaco. Por que fora traído por Sandra e por seu melhor amigo? Essas perguntas começavam a ter explicações com a filosofia que Rosana lhe apresentou. Mas por que Raquel,tão simples,teve que provar aquela experiência tão amarga? A forma e o raciocínio lógico que Rosna usava foi algo que fez compreender o significado da vida,ou então ele teria que acreditar que Deus não é juntos. Onde ela aprendera aquilo? Os pensamentos de Alexandre vagavam agora sednetos de maiores conhecimentos. Largado no sofá,em meio áquelas ideias,o rapaz foi se entregando lentamente ao sono, e já emancipado do corpo físico,na espiritualidade ,despertou suavemente.

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Um motivo para viver
SpiritüelRaquel nasceu em uma fazenda,numa pequena cidade do Rio Grande do Sul.Morava com o pai,a mãe,três irmãos e o avô,um rude e autoritário imigrante clandestino da antiga Polônia russa. Na mesma fazenda,mas em outra casa,residia seu tio Ladislau,com a m...