" Será difícil tentar explicar para minha mãe." pensava ele. " Como vou fazer? Quando eu disser que coloquei uma moça para morar comigo aqui,não quero nem estar na minha pele! Ela vai falar tanto! Além do mais,a Raquel está muito frágil e abalada para ser apresentada á minha família,principalmente para minha mãe,tão exigente.Talvez só a Rosana entenda." Um grito o fez voltar á realidade. - Raquel! - chamou ele ,indo na direção do quarto. Sentada na cama,ela estava ofegante.Seus olhos brilhantes denunciavam seu estado febril.Os cabelos umedeceram com o suor e se colavam ao rosto e no pescoço. Com a respiração alterada,coração acelerado,ea tentava balbuciar algo e não cnseguia. - Raquel,calma.Estou aqui. Está tudo bem - dizia Alexandre ,com brandura,ao tirar-lhe os cabelos do rosto. - Não! Ele... Ele ... - tentava dizer ofegante. - Deve ter sido um sonho.Já passou. - Minha filha... Alexandre sentiu-se gelar.Algo o decepcionava.Raquel deveria ter mentido para ele.Fazendo-se firme,ele perguntou quase friamente: - O que tem ela? Com os olhos arregalados,fitando-o como que em delírio ,Raquel disse: - Ele vai maltratá-la... - Calma,Rauel. Não vai acontecer nada. Ela soluçou por algum tempo até parecer acordar para a realidade e serenar um pouco. Alexandre parecia nervoso.Aquele sdia estava sendo difícil demais. Passados alguns minutos ,ele perguntou: - Você está bem? Abatida,ela afimrou que sim com um aceno de cabeça. - Faça o seguinte.Pegue suas roupas e tome um banho.Você precisa comer algo.Praticamente não se alimentou hoje.Já é noite,sabia? Atordoada,ela foi se levantar ,mas precisou da ajuda do amigo,que a amaparou quando a viu cambalear.Vendo-a mais firme,ele a deixou ir á direção do banheiro e falou: - Vou fazer o mesmo.Pegarei minhas roupas e vou tomar um banho.Fique á vontade,não tenha pressa.Vou usar o outo banheiro .Depois a gente janta,tá? Alexandre saiu da suíte com o coração amargurado e não conseguia esconder suas emoções. Algo acontecera e ele precisava saber ou não teria paz. Mais tarde um pouco,após fazerem uma refeição que ele mesmo preparou,arrumaram a cozinha,ele perguntou: - Você está melhor? - Sim,estou. - Venha cá ver o que fiz - ele a chamou,não se contendo.E levando-a até o outro quarto,mostrou: - Montei essa cama de solteiro que eu tinha aqui há algum tempo.É a que usava antes de mandar fazer aqueles móveis lá da suíte.Não a usei mais porque seria desaforo abandonar aquela cama enorme por essa aqui,não é? Raquel não dizia nada e ele,levantando a colcha sobre os lençõis,continuou: - Veja o olchão que eu comprei.Parece ser bom. Enquanto fui lá na casa de seu irmão,o entregaram para o zelador e eu peguei agora há pouco. - Por favor, Alexandre,deixe-me dormir aqui.Não quero incomodá-lo,tirando-o do conforto que tem. - Não! De jeito nenhum. - Será por alguns dias.Vou arrumar um lugar para ficar,logo,logo. - Se é por alguns dias,continue lá. - Não vou me sentir bem incomodando tanto. Colocando-se diante de Raquel,ele falou brandamente: - Você não me incomoda.Pode ficar o quanto quiser e deixe-me fazer o que for possível para acomodá-la bem,por favor. Raquel abaixou a cabeça sem aber o que dizer.Ela se sentia constrangida e era forçada pela situação a aceitar a proposta. Pegando-a delicadamente pela mão,ele pediu: - Venha aqui na sala comigo.Precisamos conversar. Sentando-se ao lado da amiga,ele perguntou,colocando-lhe a mão na testa: - E a febre,cedeu? - Sim. - Acho que você ficou assim por causa da roupa molhada naquele frio. Logo,tomando coragem e buscando forças ,ele falou procurando esclarecer a situação,uma vez que a inquietude e a insegurança abalavam seus sentimentos. - Raquel,precisamos conversar.Eu sei que toda a situação está sendo muito difícil para você. Primeiro ,quero que fique bem claro uma coisa: eu vou ajudá-la,aconteça o que acontecer.Confie em mim.Mas,por favor,diga-me a verdade,seja ela qual for..Nao esconda nada. Não gosto de surpresas.Não gosto de estar envolvido em assuntos ignorando detalhes. Após pequena pausa,olhando-a firme nos olhos,ele continuou: - Quero saber de tudo. Minha família não vai entender muito bem o que aconteceu e o que está acontecendo,principalmente minha mãe.Na certa enfrentaremos dificuldades. Eles não vão interferir nas minhas decisões ,sou independente.Entrentanto,quero que eles venham a saber de tudo,se for preciso,por mim e não por intemédio de outros,como fofoca.Por isso,conte-me tudo o que aconteceu. Olhando-o fixamente,ela perguntou constrangida: - O que Alice falou? - Não importa o que ela falou,uma vez que vou ouvir a verdade de você. Os pensamentos mais conflitantes a invadiam.Ela estava insegura e envergonhada. Vendo Alexandre com único que não a decepcionou e nada exigia dela,teria que lhe contar toda a verdade.Ele merecia saber.Então ela começou: - Para que entenda,precisarei contar-lhe toda minha vida,não sei se vou conseguir. Sentando-se mais próximo da amiga,ele pegou sua mão,colocou entre as suas e disse: - Vai conseguir,sim.Eu estou aqui para apoiá-la no que for preciso. Um longo silêncio se fez até que Raquel iniciou: - Há tempos,quando eu tinha oito anos ou nove ans,percebia algo diferente com o tratamento que recebia .De modo estranho,ele tentava me agradar... - A respiração da moça alterada,seu coração batia forte e ela fugiu ao olhar de Alexandre,recolhendo a mão que ele segurava. Diante da pausa,ele perguntou: - Ele quem? Imediatamene as lágrimas rolaram em seu rosto,mas ela não se deteve, sussurrando: - Meu tio. - Como ele a tratava diferente? -Percebi que ele me acariava.... Pelo constrangimento,ela não conseguia encontrar palavras e o amigo argumentou: - Seu tio lhe acariciava com certa malícia,tocando-a de modo incomum,é isso? Abaxando a cabeça por que estava envergonhada,ela dmitiu em voz baixa: - É iso. - Após pequena pausa,prosseguiu: - Eu fui criada no interior,em uma fazenda.Não tinha muita malícia nem compreendia o que estava acontecendo.Na época falei para minha mãe,que me pediu para não contar nada para ninguém, e eu a obedeci.Dias depois,eu a vi brigando com esse meu tio. - Ele era irmão do seu pai? - Sim,era. Daí ele parou de ficar perto de mim,mas ainda me olhava diferente. Não muito tempo depois,ás vezes,mesmo perto dos outros ,ele me punha para sentar e seu colo...No meio da agitação ou da conversa, ninguém percebia que ele me acariciava... Eu queria me levantar ,mas ele me segurava e dizia que eu era arisca.Mas não era isso. O tempo foi passando e eu,quanto mais crescia,mais fugia dele. Quando eu tinha quinze anos,meu ai sofreu um acidente.Ele pegou carona com um amigo que dirigia imprudentemente e por excesso de velocidade, o homem bateu com o carro. Meu pai quebrou o pescoço e teve traumatismo craniano.Ele nunca mais ficaria normal.Na época desse aciednte,todos ficamos abalados. Meus avós ,minha mãe e meus irmãos foram ao hospital,na capital,pois meu pai exigia tratamentos especiais que,na cidade próxima da fazenda ,não havia. Esse tio não foi com eles...Ele tinha mulher ,três filhas e morava na fazenda mesmo,só que em outra casa,não próxima da Casa Grande,onde nós morávamos. Raquel fez uma pausa e caiu num choro compulsivo.Entre os soluços persistentes ,ela encontrou forças para continuar narrando: Percebendo a dificuldade da amiga,ele perguntou: - Não havia mais ninguém lá? Nenhum empregado? - Na Casa Grande,não. - E entre soluços,ela revelou: - Ele se aproveitou de mim,me bateu,me machucou muito... - Após a crise de choro continuou: - Disse que,se eu contasse para alguém,iria ser pior. Dois dias depois,quando minha mãe voltou ,eu soube que meu pai estava em estado grave,quando vi o desespero de minha mãe,não tive coragem de dizer nada. Não pude mais dormir bem,eu tinha sonhos ruins.Acordava em desespero...Gritava... Todos pensavam que era por causa do meu pai.Ninguém imaginava que... Alexandre chegava a suar frio ao ouvir o relato,forçando-se imesamente para não exibir sua ira.
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Um motivo para viver
SpiritualRaquel nasceu em uma fazenda,numa pequena cidade do Rio Grande do Sul.Morava com o pai,a mãe,três irmãos e o avô,um rude e autoritário imigrante clandestino da antiga Polônia russa. Na mesma fazenda,mas em outra casa,residia seu tio Ladislau,com a m...