Bem mais tarde,após almoçarem,o senhor Claudionor e o filho conversavam na sala,enquanto Raquel e dona Virgínia arrumavam a cozinha. - Alex - perguntava o pai -,por que não me contou. - "Contou" o quê. - Sobre a Raquel. Desconfiado ,ele insistiu: - Do que você está falando,pai. - A Rosana me contou tudo. - "Tudo" - perguntou Alexandre,para ter certeza. - Tudo!Tudo,sim. Inclusive sobre a filha da Raquel,que você pretende fazê-la reaver. Alexandre sentiu-se gelar,Raquel não queria que soubessem. Perplexo,o rapaz respondeu contrariado: - A Rosana não podia...! Ela fez o que você deveria ter feito,filho. - Passados alguns segundos,o pai argumentou:- Apesar de saber das reações de Raquel ,pois a Rô contou,eu não imaginava que fossem assim. Assustei-me lá na cozinha,eu só queria... - Eu sei,pai. É duro nós gostarmos de alguém sem poder tocar,abraçar,envolver com carinho. - Deixe-me fazer uma pergunta.Talvez indiscreta. Alexandre o encarou e ele prosseguiu: - É assim todo o tempo.Ela não admite ser tocada e reage desse jeito toda vez. - Não. Raquel melhorou muito. Há uns meses atrás,assim que ela chegou aqui,se você fosse abraçá-la,como deve ter feito agora,na certa ela gritaria em pânico. Hoje,ás vezes ,ela aceita um abraço.Tremendo de medo,mas aceita.Há dias em que fica mais apreensiva,arisca. O senhor Claudionor o olhava perplexo,quase incrédulo,depois perguntou: - O que você faz,filho. - Tenho paciência e tento conquistá-la um pouquinho a cada dia. - Sem se constranger,revelou: - A Rosana está me ajudando.Elas conversam muito e a Rô me norteia. - Você deve gostar muito dela. Fixando seus olhos nos do pai,Alexandre informou convicto: - Muito! Eu a amo,pai. Como nunca amei ninguém. - O que vai fazer,Alex. -Farei o que for preciso.Eu quero a Raquel comigo. - Depois de alguns segundos,anunciou: - Quero procurar orientação profissional.Vou apoiá-la em tudo. - Conte comigo,Alex. Sorrindo,Alexandre o olhou e lhe deu um forte abraço. Logo o pai falou,tentando brincar. - Você sempre foi mais "grudento" ,vivia agarrado a todos.Não sei como se sente agora. Sorrindo e admitindo a verdade,Alexandre falou: - Sinto-me frustrado.Queria tanto poder... Dona Virgínia chegou ás pressas na sala e pediu: - Alex vem aqui! O rapaz se levantou e ao chegar á cozinha ,viu Raquel em crise de choro. Ao sentir a mão de Alexandre em seu ombro,ela se esquivou vagarosamente,afastando-se. - O que houve mãe. -Estávamos conversando... Eu não sei.Não sei se disse algo que a magoou. Raquel,com a voz embargada e abafada ,virou-se para Alexandre e falou sentida: - Você prometeu que não contaria para ninguém. Foi aí que o rapaz entendeu que sua irmã não revelara aquela história somente para o pai. - Saia daqui,Alex - pediu a mãe com jeitinho. - Deixe-me com ela.Posso acalmá-la. Revoltado ,ele esmurrou a porta da cozinha e foi para a sala,irritado e sem saber o que fazer. - O que foi,Alex - perguntou o pai,que o seguia de um lado para o outro. - Para quem mais a Rosana contou. - Ora... Para todos nós - respondeu o pai,com simplicidade. - Diabo! Por que ela não ficou quieta. Quem foi que mandou a Rosana dizer alguma coisa. - Precisávamos saber,Alex! Somos seus pais! - Acontece que eu prometi a Raquel que ninguém mais saberia. Sentando-se ao lado do filho,o senhor Claudionor também ficou calado e sem saber o que fazer. Dona Virgínia ,a custo,acalmou Raquel. Abraçada a ela,a mulher a balançava com carinho,como fazia com os filhos em momentos difíceis,ou quando necessitavam de seu afeto,da sua atenção. Raquel serenou completamente.Ela nunca tivera um acalento de mãe. Amparando-a em seu ombro,dona Virgínia afagava-lhe o rosto e em dado momento ,disse: - Você é muito bonita,Raquel. Depois de alguns segundos,a moça respondeu baixinho: - Obrigada. Cautelosa,a mulher resolveu-lhe perguntar que não a agredissem. - Você cozinha muito bem.Onde aprendeu. - Na fazenda.Desde pequena fui criada em meio a tarefas domésticas. - Rosana ainda precisa de algumas aulas de culinária. A Vilma cozinha bem,mas a Rô pouco se importa em aprender. Para ela é só lanche. Raquel,mais recomposta,afastou-se delicadamente do abraço e comentou: - O Alexandre também gosta muito de lanche. - É verdade. Levantando-se ,a mulher perguntou: - Quer mais um copo de água. -Não.Obrigada. Encarando a mãe de Alexandre,Raquel ainda com os olhos vermelhos,falou com jeitinho: - Quero me perdoe por tudo. Eu não vou estragar a vida do seu filho. Já quis sair daqui,mas não consigo. Agora perdi o emprego e... - Raquel,por favor! - interrompeu a mulher,com voz lamentosa. - Esqueça tudo o que eu falei.Quero conhecê-la melhor. Quero tê-la como a uma filha! - Aproximando-se novamente,afagando-lhe o rosto,pediu:- Dê-me essa oportunidade. A moça se levantou,olhou firme em seus olhos e perguntou: - Verdade. - Lógico,Raquel! Por que eu mentiria para você. Elas se abraçaram e Alexandre,que foi ver como as coisas estavam,surpreendeu-se. - Tudo bem . - perguntou ele surpreso. Dona Virgínia,mais animada,convidou: - Vão almoçar lá em casa amanhã. Consultando Raquel com o olhar,ele não respondeu, e a mãe insistiu: - Vamos Raquel,por favor! Com um sorriso meigo no rosto inchado pelo choro,ela respondeu: - O Alex é quem sabe. -Então ,vamos! - afirmou ele contente pela decisão. -Ótimo! Amanhã conversaremos mais - disse a mãe. O senhor Claudionor logo lembrou: - Virgínia vamos logo. A Vilma está lá e só vai ficar dois dias. - Vamos,sim. -Espero vocês amanhã! - confirmou o pai. Abraçando e beijando o filho,ele pediu: - Se cuida,hein! Achei você muito abatido hoje.E cuida da Raquel também! - Pode deixar - respondeu Alexandre,com largo sorriso de satisfação pelo rumo que as coisas tomavam. Voltando-se para Raquel,o homem decidiu,rápido: - Vou lhe dar um abraço,sim! - e fazendo isso ás pressas,ele ainda beijou-lhe o rosto e ,logo largou ,dizendo: - Você tem que se acostumar comigo. Raquel enrubesceu e abaixou o olhar,esboçando um sorriso constrangido. - Tchau! Tchau! - disse o pai de Alexandre saindo logo. Dona Virgínia se despediu mais demoradamente.oferecendo várias recomenda~]
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Um motivo para viver
SpiritualRaquel nasceu em uma fazenda,numa pequena cidade do Rio Grande do Sul.Morava com o pai,a mãe,três irmãos e o avô,um rude e autoritário imigrante clandestino da antiga Polônia russa. Na mesma fazenda,mas em outra casa,residia seu tio Ladislau,com a m...