Na manhã seguinte,bem cedo,Alexandre já se interessava em conhecer parte da fazenda junto com os cunhados,que se acostumaram rapidamente com ele,tendo em vista seu jeito descontraído e extrovertido. Uma das empregadas que cuidavam da cozinha informou a Raquel,que procurava pelo marido,pois ele se levantou muito cedo antes que ela acordasse. - Ah! Eles saíram bem cedo.Tava até escuro. Dona Tereza ,que chegou e ouviu a conversa ,falou: - Deixe teu marido com teus irmãos.É bom que se acostume aqui.Mais da metade disto tudo será teu e deles,consequentemente,do seu marido também. Acho que tu não vai querer cuidar de terra,então vai deixar para Alexandre. A mulher falava sem muita delicadeza,quase impondo sua opinião. Delicada,a filha tornou cortês e humilde: - Não podemos cuidar de nada nessa fazenda,mãe. Talvez venhamos aqui somente para visitas em passeio. - Não seja tola,Raquel! Isso aqui é teu! Bah! Com modos simples,Raquel esclareceu: - Estamos bem,mãe. Não precisamos... - E se teu marido quiser ficar aqui? Isso é teu? - Não. Alexandre tem um bom emprego.Ele não vai querer. Além do que,a Bruna estuda em uma boa escola e... Não me interesso.Não me agrada a ideia de morar aqui. Com semblante austero,dona Teresa impunha a voz com arrogância: - Admiro muito esse teu marido! - dizia ela andando pela copa,fazendo seus passos ecoaram compassadamente,como de costume. Raquel,sentada á mesa,acompanhava seu andar com o olhar demonstrando-se reprimida. - Como tu o conheceste? - indagou a mãe. - No serviço.Trabalhávamos juntos - respondeu a filha,sem alongar o assunto. - Como começaram a namorar? - perguntou a mãe,quase inquirindo. - Bem,mãe,a Alice infernizou o Marcos,que acabou brigando comigo e me colocou para fora de casa. Antes disso,eu já havia dito ao Alexandre que estava com problemas com a minha cunhada,pois para ajudá-los me desfiz de todas as minhas coisas e fui morar com eles.Quando Marcos me mandou embora da casa dele,eu não tinha para onde ir. Foi então que o Alexandre me ajudou. - Como? - tornou a mãe,com sentimentos frios e um jeito seco de falar. Raquel abaixou a cabeça,pois sabia dos costumes e preconceitos que havia nos conceitos de sua família.Tímida,a filha respondeu: - Fui morar com ele. Se não o fizesse,ficaria na rua,eu não teria para onde ir. A mãe a olhou com o semblante sisudo,exibindo-se contrariada,e sem modos educados e até um tanto bruto,perguntou: - Tu não fostes louca de ter "alguma coisa" com ele antes de casar? Mesmo se sentindo magoada e ofendida,Raquel respondeu: - Não,mãe.Nunca tivemos ,nada.Ele sempre me respeitou. - E a Bruna,como ele soube e a aceitou? Raquel começou a se sentir insatisfeita,não gostando da maneira como a mãe a abordava,pois a mulher o fazia como se a filha lhe devesse satisfações e Raquel acreditou que ela não tinha esse direito pelo fato de nunca tê-la orientado ou auxiliado em alguma coisa. Ela respirou fundo,encarou a mãe, e falou: - Mãe,o Marcos me expulsou de casa e eu fiquei na rua em plena madrugada fria.O Alexandre me acolheu em sua casa depois que eu liguei para ele. Com o tempo,conheci a família dele. Ele percebeu que havia algo errado comigo,eu tinha medo,pois ele queria me namorar e... Bem,diante de tudo o que eu demonstrava sentir tinha de haver uma explicação.Por tudo o que ele fazia para me ajudar,eu me vi obrigada a contar. O Alexandre sabe de tudo! Exatamente,tudo! Inclusive que o pai da Bruna é meu pai. A mulher empalideceu. Ela se sentou e mesmo sentindo-se mal,perguntou: - Tu tiveste coragem,Raquel,de contar tudo a ele? - Precisei contar mãe - disse Raquel,com voz piedosa e constrangida. - Desculpe-me por favor. É que a senhora não imagina o quanto sofro,até hoje,por causa de tudo o que eu passei. Não é algo que dá para se esquecer.Venci alguns traumas graças ao Alex.Mas ainda tenho muito o que superar. - Raquel fez um breve pausa,depois revelou: - Para meu marido me dar um simples abraço,sem que eu não tivesse medo dele,a senhora não imagina como foi difícil.Creio que jamais poderá entender o que senti,o que sento e o que eu vivo até hoje. Dona Tereza ficou olhando para filha sem saber o que falar.Ela não conseguia ser amiga de Raquel.Agora se colocava novamente em uma posição austera. Ignorando maiores detalhes sobre a vida da filha,pois não parecia se importar com os sentimentos de Raquel,dona Tereza perguntou: - Ele assumiu a Bruna como se fosse dele? - Sim. Desde o instante em que decidimos nos casar,ele diz que a Bruna é filha dele.O Alex não admite que digam o contrário.Ele se apresentou a ela como pai e não pretendo,por enquanto,revelar outra coisa. Levantando-se e falando de um jeito rude,Tereza recomendou: - Não fique adiando guria.Tenha logo um filho desse homem. Todo homem quer um filho,ele merece e isso vai prendê-lo mais. Ele deve gostar muito de ti para tê-la aceito com todos esses encargos e sabendo de tudo o que te aconteceu. Raquel abaixou a cabeça e não disse nada,se sentindo humilhada pela situação. - Tu tomas remédio? - perguntou a mãe,grosseiramente. Cabisbaixa,a filha respondeu quase sussurrando: - - Não. - Isso é bom. Arrume um filho logo,viu! E que seja homem! Reze por isso. Bruna que acabara de acordar,procurou pela mãe que ao vê-la,recebeu-a com abraços,beijos e carinho. - Mamãe,e o papai? Sorrindo para disfarçar a mágoa daquele instante,Raquel avisou: - Saiu cedo,mas já volta. Ao ver a filha entristecer,ela anunciou: - Vamos tomar logo seu café que eu quero levá-la a um luar bonito e gostoso,aonde eu ia e brincava muito. - Onde? Onde,mamãe? - Surpresa! - Risonha e animada,ela propôs: - Vamos! Vamos depressa! Brincando com a filha e indo preparar seu desjejum,Raquel saiu da sala deixando a mãe com os próprios pensamentos.
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Um motivo para viver
SpiritualRaquel nasceu em uma fazenda,numa pequena cidade do Rio Grande do Sul.Morava com o pai,a mãe,três irmãos e o avô,um rude e autoritário imigrante clandestino da antiga Polônia russa. Na mesma fazenda,mas em outra casa,residia seu tio Ladislau,com a m...