A semana foi passando calmamente. No sábado,Alexandre decidiu ir até a casa de seus pais. - Vamos comigo Raquel? - Só se for carregada! - imediatamente ela exclamou. Alexandre correu em sua direção e agarrou com força,ao mesmo tempo em que fazia um barulho com a garganta ,como se rosnasse,tentando brincar como se fosse carregá-la. Sem esperar ,Raquel deu um grito horrorizado,empurrando-o,acreditando estar sendo atacada. Alexandre a largou rápido,dizendo: - Calma,Raquel! é brincadeira.Perdoe-me,pelo amor de Deus. A moça empalideceu pelo susto,seus joelhos dobraram e ela se sentou sobre as pernas e no chão,chorando muito. Ajoelhando ao seu lado,Alexandre não sabia o que fazer. - Você está se sentindo bem? Ela não conseguia falar,seus lábios estavam brancos e ela ensurdecia. - Vem,levanta,sente-se aqui. Raquel não conseguia reagir firme.Ao tentar levantar,seus joelhos se dobravam e o amigo teve que segurá-la. Alexandre a pegou e acomodou-a no sofá. - Abaixe a cabeça - - e,segurando-lhe na nuca,pediu:- Force para levantar.Sua pressão deve ter caído. Ele também se sentia mal,mas não disse nada,procurando ficar firme para ajudá-la. - Indo até a cozinha,tomou seu medicamento sem que ela percebesse e voltou em seguida para a sala,levando um copo com água açucarada para ela. Ao pegar o copo,as pequenas mãos de Raquel tremiam e ela mal conseguia segurá-lo,devlvendo-o após poucos goles.O restante Alexandre cirou e tomou quase num gole ,largando-se em seguida no sofá ao lado da amiga.Raquel não percebeu,ela estava muito abalada.E debruçando-se sobre o braço do sofá,ela escondeu o rosto entre seus braços procurou se acalmar .Ao se recompor ele se aproximou dela e perguntou: - Você está melhor? - Estou. - E com voz fraca,argumentou ainda: - Por favor,me desculpe. Devo ter-lhe assutado também. - Sou eu quem lhe devo desculpas.Eu estava brincando,tentei... Perdoe-me,não pensei que fosse se assustar.Estou acostumado a brincar assim com minhas irmãs e... - Tudo bem.Já passou. Percebendo-o pálido,ela perguntou: - Você está bem? -Estou sim. Ela forçou o sorriso e disse: - Não sei como aconteceu. Tudo foi tão rápido,instintivo. Alexandre,arrependido por ter brincado dauela forma,apiedou-se ao lembrar do estado de pavor que ela exibiu que parecia custar a passar. Ele tentou abraçá-la ,mas ela o recusou: - Por favor... Levantando-se e tentando fazê-la reagir,ele peruntou,sorrindo: - Não quer mesmo ir comigo á casa dos meus pais? Raquel usando seu senso de humor pela primeira vez com o amigo,perguntou: - Você tem um revólver em casa? Alexandre sorriu desconfiado e tentando entender a brincadeira,respondeu: - Por quê? - Por que eu ia responder: só vou la morta. Sorrindo ele revidou: - Por isso não! Estamos no sexto andar.A queda é boa e ainda me poupa de carregá-la lá para baixo. Ambos pareciam estar mais tranquilos e ele perguntou: - Vai ficar aqui sozinha? - Sim,vou.Não se preocupe. - Ligue o rádio ou assita televisão.Se ocupe com alguma coisa.Precisando,ligue-me. - Sorrindo,lembrou: - Ah! Por favor,atenda ao telefone,viu? Raquel se levantou e mais á vontade brincou: - Sim,senhor. Antes de sair Alexandre a procurou e ao se despedir,deu-lhe um beijo no rosto. Ela se sentiu envergonhada,mais não disse nada,fora rápido demais. Ao vê-lo partir,sentindo-se só,ficou preocupada e confusa.De imediato uma saudade lhe lhe apertava o coração.Seus pensamentos lutavam com o preconceito no qual fora acostumada com a situação humilhante em que se reconhecia e com a nobre sinceridade de Alexandre,quea fazia acreditar no amor verdadeiro e incondiconal. Raquel haveria de vencer seus medos e passar a deixar fluir suas emoções. Mas como? Só conhecera o desprezo,a solidão e as agressões que lhe cravamram profundas dolorosas. Seu coraçãoo ,apesar de tudo,era repleto de bondade.Ela não tivera a oportunidade de sonhar e conhecer alguém que a amasse realmente,que,com generosidade e ternura,traduzisse seus sentimentos em carinho,delicadeza e atenção. Após a saída de Alexandre,sensibilizada,Raquel chrou por não conseguir vencer os traumas que lhe castigavam os mais íntimos resquícos das lembranças ,vivos a todo instante.
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Um motivo para viver
EspiritualRaquel nasceu em uma fazenda,numa pequena cidade do Rio Grande do Sul.Morava com o pai,a mãe,três irmãos e o avô,um rude e autoritário imigrante clandestino da antiga Polônia russa. Na mesma fazenda,mas em outra casa,residia seu tio Ladislau,com a m...