Mais tarde,de seu apartamento,Alexandre telefonava para sua mãe,confirmando: - A Raquel está bem. Não foi nada sério. Provavelmente o susto a deixou com dor de cabeça e o remédio que tomou com o estomago vazio a fez passar mal.Fiquem com a Bruna pra nós. Amanhã cedo eu passo aí para pegá-la. Alexandre riu,ao ouvir dona Virgínia dizer: - A mãe do Ricardo está perguntando se a Raquel está grávida,porque esse é o típico sintoma. - Diga a ela que: ainda não. Após desligar,ele foi ver como estava a esposa.Alexandre entrou no quarto vagarosamente sem fazer ruído. Cuidadoso deixou o quarto na penumbra,se deitou ao lado da mulher e procurou ficar quieto a fim de não incomodá-la.Faltavam poucos minutos para o dia vinte cinco de dezembro e eles ficaram ali,sem comemorar. De repente,os fogos de artifício que estouravam anunciando meia-noite fizeram Raquel se sentar na cama,aos gritos. - Calma,Raquel! - pedia o marido,que se assustara com aquela reação. - Está tudo bem.Calma,querida. - dizia ele carinhoso,afagando-lhe a face e procurando envolvê-la. - Não!!! Minha filha,não! - Acorda,Raquel - pedia Alexandre com generosidade,pois a esposa parecia estar sonhando. - Estamos em casa. A Bruna está bem. Calma! Raquel o empurrou.Ela estava apavorada e ele a soltou,insistindo: - Calma.Está tudo bem.Estamos em nosso quarto. - Bruna! Onde está minha filha!!! - gritou ela,desesperada. - Ela está na casa dos meus pais.Ela está bem.Calma,Raquel - ele argumentava com voz ponderada,procurando lhe passar segurança. A esposa estava ofegante e agora,parecendo entrar em pânico,chorava como se não entendesse o que estava acontecendo ,misturando seu pesadelo com realidade. Ele foi abraçá-la,mas Raquel o empurrou. Alexandre não suportava mais aquela situação. Ele decidiu não envolvê-la mais,respeitando sua vontade. Lágrimas copiosas deslizavam no rosto do marido que,para não entrar em desespero,sentou-se ,silenciou,fechou os olhos e se socorreu em uma prece pedindo a Deus que lhe desse força e acabasse com aquela aflição de sua esposa. Segurando-a pela camisa,em desespero,Raquel pediu: - Alexandre,ajude-me pelo amor de Deus! Vendo-a num choro compulsivo,o marido a envolveu com carinho e a aninhou nos braços. Ele estava aborrecido,desejoso de que aquilo tudo terminasse. Como fora traumatizante para que ela aquela experiência brutal.Como estava sendo-lhe difícil recompor o ânimo,a sua fé na vida das pessoas.Como estava sendo-lhe complicada a reestruturação emocional e sentimental. Alexandre com sua moral elevada e sua nobre sensibilidade ,buscava doar-se em compreensão,carinho,paciência e notável amor verdadeiro,sem queixas,mas sempre esperançoso em harmonizar aquela difícil condição,pois acima de tudo,ele era o amigo verdadeiro que prometera apoio e amparo sincero para todas as horas. Poucas criaturas têm tão elevados valores morais a ponto de se renunciar em favor do amor incondicional,pois é tão fácil desistir! Os casos de violência sexual contra mulheres ,crianças e adolescentes tomam vulto e se propagam no momento acalorado da descoberta ,mas poucos acompanham o desespero e as condições precárias dos sentimentos feridos dessas vítimas,que custam a se recompor e quando conseguem,é com indescritível dificuldade. O estrupo por ser um assunto delicado,tendo em vista o grau de intimidade,não é comentado. Todas as vítimas de furto se anunciam,elas têm coragem de dizer: eu fui furtado,todas as vítimas de agressão física se anunciam. As vítimas de estelionato não têm muita vergonha de se elevar.Entretanto,se essas trazem em si um trauma ,um ressentimento ou até pânico pelo que sofrem,imaginem a vítima de uma violência sexual. Inúmeros crimes existem cuja vítima se revela e comenta o ocorrido,mas a vítima do estrupo se cala,silencia,carregando dentro de si os mais dolorosos sentimentos,as mais tristes lembranças de um ato tão cruel. Pela sutileza do assunto,aqueles que com ela convive o querem esquecer,não podem falar e em alguns extremos,chegam a abandonar aquela criatura que carece amor,respeito,compreensão e paciência. A pessoa molestada se constrange,se isola ,se condena ,se desgasta na lembrança do experimento doloroso,no qual sofreu pela delinquência e desequilíbrio de outro. Flagelada na humilhação que pela delicadeza do fato se envergonha de comentar,essa criatura de aflige em conflitos íntimos e secretos. Poucos são aqueles que: companheiro,amigos ou parentes se dedicam e se dispõem a amar,compreender,acalentar e procurar a ajuda que pode trazer o equilíbrio e a renovação. Em uma comunhão mais profunda de sentimentos elevados,pode haver aquele que,como amigo fiel,entende e auxilia sempre a recomposição estruturada no equilíbrio de uma alma querida. Sem egoísmo,apenas o sábio amor desvelado compreende e se doa,sem exigir,recompondo a alegria e a paz ,auxiliando a elevação,orientando ao trabalho no bem,tarefa útil e caridosa,que transformará e equilibrará produtivamente aquele que deseja e quer se desprender dos lastros que arrasta com tristeza e dor. A respeito do sexo,podemos dizer que o ser humano ainda necessita de muita orientação,educação e controle. A pretexto do prazer compulsivo ,existem criaturas desequilibradas que se manifestam na imposição sexual a outro,violentando-lhe ,não só o corpo ,mas também a alma,os sentimentos e as emoções. O ato de violência sexual rouba da vítima a tranquilidade,o alicerce no equilíbrio ,na fé,na alegria,tirando-lhe o encanto e o sonho criador. Dificilmente elas conseguem obter a confiança nos outros,a afetividade no contato e voltar a compartilhar no campo do relacionamento íntimo. Aquele que através dessa violência,impõe essas dificuldades enormes a outro recolhe para si angustiosos momentos de aflição em existências dolorosas e infelizes. E quele que na educação de um filho,ou de uma criança que lhe foi confiada aos cuidados,deixa-lhe faltar a orientação na area do campo sexual,que ensina equilíbrio,controle,respeito,dignidade e moral,também é responsável pela agressividade hedionda que esse cometer através da prática do estrupo,e com certeza,ver-se-á golpeado por chagas profundas em seus sentimentos e enfrentará um " calvário de aflições". O medo é algo difícil de ser superado e somente, o amor e o carinho podem trazer de volta a confiança verdadeira. Antes daquela experiência reencarnatória,Alexandre prometera-lhe ser fiel e delicado,estando preparado para sustentá-la diante dos previstos e imprevistos da existência .E agora o fazia por perseverança,fé,amor e com resignação. Abraçado á esposa ele a acalentava com leve balanço,fazendo-a a se acalmar. Poucos imaginam ou podem compreender o drama que se passa na mente de alguém que sofrera tal violência. Essa criatura necessita de amparo e carinho para trocar os conceitos violentos que teve por confiança e afeto,e isso pode levar um longo tempo,conforme o caso. O auxílio e a paciência do marido em fundamentais e de grande valor para Raquel. O afeto e a estrutura generosa que ela recebia dos sogros e das cunhadas geravam-lhe força e incentivo para prosseguir.
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Um motivo para viver
SpiritualRaquel nasceu em uma fazenda,numa pequena cidade do Rio Grande do Sul.Morava com o pai,a mãe,três irmãos e o avô,um rude e autoritário imigrante clandestino da antiga Polônia russa. Na mesma fazenda,mas em outra casa,residia seu tio Ladislau,com a m...