Na semana que se iniciou,Alexandre voltou ao trabalho assumindo sua mesma função. No serviço todos o cumprimentaram pelo casamento e ficaram curiosos em saber sobre o seu problema cardíaco.Por muitas vezes,ele teve que contar todo o ocorrido. O senhor Samuel,diretor imediato de Alexandre,chamou-o em particular: Quando na sala do diretor,novamente ele teve que contar o que lhe ocorrera. - E no meio de tudo isso você ainda teve que se casar. Você é suicida mesmo,hein! - brincou o diretor rindo com gosto. Alexandre sorriu e explicou á sua maneira. - Minha situação com a Raquel era irregular perante as leis. Vivíamos juntos e não havia motivos para não nos casarmos legalmente. Esse susto me fez pensar muito a respeito disse. - A Raquel não é aquela moça que trabalhava aqui. - Sim.E é ela mesma. - Sempre gostei muito dela. É uma moça bem-comportada.Não tínhamos comentários sobre sua vida. Estranhei quando soube que o Valmor a demitiu,não vi motivo.Ela cumpria seu dever,era elegante,educada e muito quieta.Aliás,eu nem sabia que vocês viviam juntos. - Procurávamos ser discretos - disse Alexandre,com um sorriso cínico. - E para quando é o herdeiro. - perguntou o homem ,em tom de brincadeira. Alexandre não conseguiu se conter e orgulhosamente anunciou: - O próximo eu não sei,mas já temos uma filha de três anos. - Já! Então,realmente estava mais que na hora de vocês regularizarem a situação. E ela ,está trabalhando. - Não. - Em breve ela arrumará coisa melhor. - Após pequena pausa,o diretor disse: - Vamos ao que interessa.O caso é o seguinte: o seu gerente,o Luiz,volta de férias na próxima semana.Estamos com um grande projeto e um remanejamento no quadro. Queremos que você seja o líder desse projeto e... - Puxa! Que susto! - disse Alexandre sorrindo. - Por quê. - Pensei que fosse ser despedido.Depois de tanto tempo em "férias"!. O homem sorriu e falou: - Filho,o seu setor é um inferno! Principalmente sem você,temos que admitir isso. Ninguém quer aquela encrenca e até entendemos por que você teve problemas cardíacos! Ambos riram e o diretor continuou a explicar os planos. Por causa do excesso de trabalho,Alexandre começou a sair um pouco além do horário ,pois tinha muito o que organizar. Na sexta-feira,lembrou-se que havia prometido á esposa que iria acompanhá-la ao Centro Espírita. - Débora - pediu Alexandre a uma funcionária que trabalhava sob sua supervisão -,hoje vou sair no horário.Mas mantenha-me informado de tudo,tá. - O " pessoal do suporte" terminará a inclusão daqui há uma hora. - Ótimo! Nesse caso já estarei em casa.Ligue-me para contar as novidades.Quero ir planejando essa implantação para,quando chegar na segunda,instalarmos tudo de uma vez - informava Alexandre,preocupado com o serviço. Passada mais de uma hora dessa ocorrência,Alexandre chegou em casa e Raquel já estava pronta e esperando-a. - Oi! - cumprimentou o marido,dando-lhe um beijo rápido,e completando: - Já sei,estou atrasado! Quieta,a mulher estava diferente e com semblante quase sisudo,mas o encarava. - Acho que nem dá tempo de tomar um banho,né. - perguntou ele. - Temos que pegar Rosana,ainda - informou Raquel,com modos frios. - Eu não gosto de chegar atrasada. Estranhando o jeito da esposa,Alexandre perguntou,com modos brandos: - O que houve,Raquel. Aconteceu alguma coisa. - Não.Nada -respondeu friamente se voltando para algo,tentando disfarçar. - Como,nada. - Telefonaram para você - avisou interrompendo-o. - Ah!.. Então espere mais um pouquinho. Tenho que telefonar.Já sei o que é. Ao ligar para Débora,Alexandre ouviu o que lhe interessava,depois respondeu a colega de serviço: - Lembra do que falei no almoço.Eu já sabia que isso ia acontecer. Agora é o seguinte,eles terão que dar um jeito nisso.Não depende de nós. Débora disse mais alguma coisa e ele respondeu: - Eu já sei.Não estressa! É assim mesmo - Após pequena pausa ,concluiu: - Débora,segunda-feira conversamos.Creio que isso só. - Mais alguns segundos ele ficou em silêncio ouvindo,depois concluiu: - Tchau! Obrigado.Outro! Raquel,que parada á porta ouvia a conversa e sentia-se esquentar. Enrubescida de raiva,ela não disse nada,mas Alexandre percebeu que seus modos,antes delicados e generosos,estavam automáticos e frios. O ciúme a envolvia sem que admitisse.Emburrada,Raquel pegou no braço do marido como se fosse sua propriedade. Ela não admitiria que ele tivesse outra mulher - pensava -.poderiam estar casados só no papel,mas ela era sua esposa e quando ele a pediu em casamento,a proposta de que vivessem daquela forma partiu dele. Após pegarem Rosana,a cunhada percebeu que a esposa de seu irmão estava diferente.Perguntando o que estava acontecendo,Raquel informou que não havia nada. Já no Centro,novamente Raquel agarrou o braço de Alexandre que não entendia nada e deixava acontecer. A palestra evangélica daquela noite fora: " A indissolubilidade do casamento,traição e divórcio". Ao saírem do Centro ,Raquel somente falou,sentida e em voz baixa para o marido: - Foi ótimo você ter vindo hoje.Essa palestra foi para você. Alexandre olhou para irmã,e sem entender nada,gesticulou com os ombros de forma singular e seguiu de braços dados com a esposa. Eles levaram Rosana para casa e ao chegarem ao apartamento,Raquel agia do mesmo modo,sem sorrido e sem palavras. Após o banho e o jantar,Alexandre foi brincar com jogos em seu computador.Ele decidiu não dizer mais nada nem saber o que se passava. Raquel assistia á televisão sem prestar atenção no que via. Vencido pelo sono,o marido foi até a sala e falou: - Amanhã temos que levantar cedo.Você não vai dormir agora. - Não - respondeu ela. - Pode ir. - O que houve ,Raquel. - Você não é assim - perguntou calmo. - Nada. Não houve nada - murmurou ela sem expressão. Contrariado com aquela atitude da esposa,ele pediu: - Vê se não demora para ir dormir.Amanhã temos que sair cedo daqui.
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Um motivo para viver
SpiritualRaquel nasceu em uma fazenda,numa pequena cidade do Rio Grande do Sul.Morava com o pai,a mãe,três irmãos e o avô,um rude e autoritário imigrante clandestino da antiga Polônia russa. Na mesma fazenda,mas em outra casa,residia seu tio Ladislau,com a m...