A esposa conservou-se muda,mas em seus olhos espremidos,podia-se ver uma ameaça escondida. Num gesto brusco, ela puxou o ombro e livrou-se de Marcos ,que ainda lhe deu um leve empurrão. Ambos se calaram. Os pensamentos de Alice fervilharam. Marcos não tinha o direito de escarnecê-la daquela forma. Ela nunca havia se sentido tão humilhada, nunca havia sido tão espezinhada como naquela hora. Marcos haveria de sofrer,e muito , por aquela afronta. Alice prometia,com muito ódio ,a si mesma,que encontraria uma maneira de se vingar de seu esposo. As reflexões da pobre mulher passavam agora a imaginar um modo de revidar ao marido o sofrimento, a mágoa e angústia que sentira com aquelas palavras. Ela ainda teria o prazer da desforra. Aquele ocorrido, por si só,criou energias muito inferiores para o ambiente doméstico. Agora, os pensamentos corrosivos de Alice alimentavam e fortaleciam aquelas vibrações. Pensamentos negativos,imagens mentais de ocorrências trágicas, assuntos amargos da vida alheia, reclamações e desânimo, representam a atração e a criação de fluídos inferiores que, consequentemente, significam padecimentos enormes em um futuro breve,seja quem for o seu criador. Longe dali,José Luiz outro pai de família conversava amigavelmente com sua esposa,sobre seu dia. - Hoje tivemos outra reunião.Creio agora, que tudo ficará mais estável. Os que tiveram de ser demitidos já foram. A partir desse momento a empresa vai oferecer qualidade profissional,segurança,melhores salários e,principalmente,reconhecimento aos funcionários que continuarão lá. - Tomará,Deus que não dispensem mais ninguém - rogou Ivone, esposa de José Luiz,com sinceridade. - Nós sabemos, por experiência própria,como é difícil a condição de desempregado.Fico com pena desse pessoal demitido.Se pudéssemos ajudar...... - Mas querida,sou simples diretor. Recebo ordens! Passei noites em claro quando me pediram para listar empregados que não preenchiam os requisitos da empresa. Eu nunca havia feito isso. É muita responsabilidade. Você sabe! Rezei tanto! Pedi tanto a Deus que me ajudasse e me perdoasse qualquer falha....... - É ,eu sei. Mas você recebeu instrução,lá na empresa,para poder escolher,ou indicar qual o funcionário que não preenchia os requisitos,não foi? - Ah,sim! Eles nos orientaram para indicar primeiro os que não tinham muita educação,os que eram agressivos com palavras ou atos,os que usavam palavreado inadequado ao ambiente,os que assediavam as colegas de trabalho...... - Ou colegas! - interrompeu Ivone esboçando um sorriso intencional e depois completou: - Por que,hoje não são somente os homens que..... José Luiz sorriu e balançou com a cabeça concordando ao admitir: - É verdade. Tem cada moça que..... Tá louco! Nem lhe conto. Elas falam de modo a se insinuar,com palavreado chulo,roupa inadequada..... - Teve um dia em que chamei a atenção de uma auxiliar de escritório lá da contabilidade.Sabe, eu falei com jeito,procurei ser educado...... - O que ela fez? - cortou Ivone interessada. - Não foi o que ela fez.Foi pelo que usava,ou melhor,não usava. A moça estava de minissaia,com aquelas blusinhas..... Sabe? - Sei. Transparentes e de alcinhas. - É. Bem,eu falei com ela que ali, principalmente por ser perto do setor de peças ,onde temos muitos homens,ficaria bem outro tipo de roupa para impor mais respeito.Seria melhor para ela mesma. - E ela. - Ela disse que esse era um país livre. - E você? -Não disse nada. Comecei a reparar que os rapazes do setor passavam perto de onde ela se sentava e ficavam jogando conversa fora,assediando,entende? -Ah-rã! - Não foi por vingança,á resposta que ela me deu, mas por eu observar que ela ,ou melhor , o tipo roupa que ela usava ,provocava tumulto e era inadequada ao valor moral que empresa gosta de preservar ,eu a indiquei na lista dos que deveriam ser demitidos. - Após pequena pausa,ele prosseguiu,como num desabafo: - Já que é um país livre,que ela goze dessa liberdade,que julgue ter direito,bem longe dali. Não podemos ser contra um estilo de roupa jovial. Minha filha também usa roupas da moda, mas há lugares adequados para essas roupas e limites para tudo. Devemos usar o bom senso,sempre.
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Um motivo para viver
DuchoweRaquel nasceu em uma fazenda,numa pequena cidade do Rio Grande do Sul.Morava com o pai,a mãe,três irmãos e o avô,um rude e autoritário imigrante clandestino da antiga Polônia russa. Na mesma fazenda,mas em outra casa,residia seu tio Ladislau,com a m...