O Senhor Valmor ,concordando com as exigências de Alice,comprou um pequeno apartamento e após mobiliá-lo,levou a amante para lá. Marcos ficara desesperado. Sem entender o motivo do abandono e ignorando,até então,que Alice o traíra,Marcos se desequilibrara tanto que o próprio chefe aconselhou-o a tirar férias. Como sempre,toda traição conjugal traz suas dores cruéis,instalando naquele que foi traido a desconfiança ,o medo do futuro,o sentimento amargo da rejeição e do abandono. A separação e o divórcio súbitos trazem a inevitável pergunta: - E agora,o que faço da minha vida. Havendo os filhos queridos,outra: - E aos filhos,o que digo. Nenhuma explicação consola os corações aflitos. Que exemplo Alice,que traiu o esposo desde o instante em que pensou em outro homem,poderia passar aos filhos por se envolver com paixões efêmeras. Que respeito e amor essa mulher poderia dar aos filhos. Um dia,com toda certeza,a consciência de Alice iria cobrá-la por ter deixado os filhos sem orientá-los,bem perto,para saber que caminhos estarão trilhando,se sentiram dores,se estiveram alimentados,se sentiram sua falta,se choraram no silêncio da noite,se tiverem apoio para prosseguirem nos estudos e futuros trabalhos. Ela não se preocupou se sua ausência física traria algum abalo emocional capaz de levá-los a buscarem na rua,nas drogas ou em companhias duvidosas a compensação para essa falta de amor de que se vêem privados. Mas o egoísmo dessa criatura não iria renunciar aos efêmeros prazeres e ambições vis. Atraindo indescritíveis companheiros espirituais,que se compraziam em satisfações mundanas do mais baixo nível,o que consequentemente,a faria enveredar por amargos caminhos. Marcos,por sua vez,encontrava-se em total desarmonia e desilusão,mas amparado por amigos espirituais que procuravam sustentá-lo no bom ânimo e para o bem. A custo ele encontrava nos filhos o motivo e a razão para não cometer nenhum desatino. Marcos não conseguia entrar em contato com sua irmã quando telefonava para o apartamento ,uma que Raquel fora morar na casa dos pais de Alexandre. Raquel,também tentando contatá-lo no serviço,recebia a informação de que ele estava de férias. Marcos passou a enfrentar sérios problemas com o filho Nilson,que perdera o emprego no mercado e se enturmara com péssimos companheiros.Nilson,agora maior de idade,fora preso por tentativa de furto.Elói,mais tranquilo e sempre amigo,procurava animar o pai. Alice parecia pouco se importar. Ela só se preocupava com a sua vida. Um dia após voltarem da visita que fizera no hospital para Alexandre,Raquel pediu para Rosana que a levasse á casa de seu irmão,pois tinha o novo endereço. Ela ignorava a separação do casal. Ao chegarem á casa de Marcos,ele as recebeu com satisfação,mas Raquel percebeu sua aflição. Após conversarem um pouco,Raquel contou-lhe sobre Alexandre e o irmão revelou tudo sobre Alice e Nilson. - O que você vai fazer,Marcos. - Não sei,Raquel.O advogado me disse que o Nilson pode sair a qualquer momento e... Não sei. Já pensei em pegá-los e voltar para a fazenda,mas nem sei se posso,por que Nilson ficará respondendo o processo e parece que não pode mudar de estado ,eu acho. - Voltar para fazenda. - estranhou a irmã. - Há quanto tempo você não tem notícias deles. - A última vez que recebi uma carta da mãe foi há uns três anos.Na semana passada escrevi novamente e pedi,pelo amor de Deus ,que ela me mandasse notícias. Vamos ver se assim ela me escreve.Avisei também do novo endereço. - Gostaria tanto de vê-la - comentou Raquel sentida,perdendo o olhar,pensativa. - Por que não vai até,Raquel - perguntou Rosana. Raquel,tomando uma postura firme,falou: - Não. Daquele lugar só tenho as piores recordações.Seria o último lugar do mundo que eu iria visitar novamente. Marcos olhou para sua irmã fitando-a por longo tempo,pensando em toda aquela injustiça que cometera com ela. Logo ele falou: - Desculpe-me Raquel,por tudo o que eu lhe fiz.Por favor,me perdoe. - Marcos eu... - Não tente dizer nada a meu favor. Fui cruel com você.Minha própria irmã... Tenho tanto para agradecer ao Alexandre.Lamento imensamente saber o que aconteceu com ele,o seu estado... Sinceramente - disse Marcos,comovido ao encarar Rosana-, se eu pudesse ,doaria meu coração ao seu irmão,por tudo o que ele tem feito pela Raquel. - Estou tão desgostoso da vida que morrer agora seria conveniente. - Não fale assim Marcos- argumentou Rosana, - Ainda tem muito a fazer. Seus filhos dependem de você,já que a mãe está incapacitada de cuidar deles. - Incapacitada não. Ela é uma sem-vergonha,imunda! - Alice é incapacitada moralmente,espiritualmente - prosseguiu Rosana. - Quando uma alma não tem elevação ou grandeza ,ela pode ainda agir de modo imoral,leviano,sensual e materialista,sem respeitar sem dar importância aos queridos filhos que Deus lhe confiou aos cuidados. Marcos riu ironicamente e avisou: - Ela alega que o ama. Que o escolheu por compartibilidade. - Na minha opinião,quem não tem respeito aos sentimentos dos outros ,quem não tem resignação e não renuncia a si mesmo não pode amar alguém.Pode ter uma ilusão passageira em uma aventura de amor,mas amor,não.E sofrerá muito por estar te enganando. Se ela foi capaz de deixá-lo com os filhos,quanto esse encanto ,quando essa ilusão acabar,Alice se terá envolvido em tanta dor e desespero que você nem imagina. Ninguém é feliz quando para isso alguém chora. Um dia ela vai acordar. - Se não fosse por meus filhos,eu faria uma besteira. - Você é um homem capacitado,Marcos. Não se desrespeite,não se agrida por isso. É o momento de usar as suas ideias e as suas mãos para construir. Eleve seus pensamentos e tenha fé em Deus .Não pense em vingança e ore para que Alice seja amparada e desperte para o bem o quanto antes. para moralidade que todo espírito deve ter. Pense em coisas construtivas. Marcos deu um o sorriso forçado e Raquel lembrou: - Precisamos ir. Dona Virgínia pode estar preocupada.Não avisamos que passaríamos aqui. Rosana de despediu de Marcos e na vez da irmã,ele perguntou: - Raquel,você e o Alexandre,como estão. A irmã ficou embaraçada e diante de sua reação,Marcos indagou: - Vocês moram juntos.Têm um vida em comum. - Não,Marcos. - respondeu Raquel,com modos simples e encarando-o.- Nunca tivemos nada.Não levamos uma vida em comum. - Eu preciso saber,pois queria lhe fazer um pedido. Raquel ficou na expectativa e o irmão prosseguiu: - Você quer vir morar aqui comigo. A moça ficou parada e pensativa. Rosana sentiu-se gelar.Aquilo não poderia acontecer. " Alexandre morreria!" pensava ela. - Dê-me um tempo para pensar - respondeu Raquel. - Tem muita coisa acontecendo no momento. - O quê por exemplo - insistiu o irmão. - Estou tentando reaver minha filha. O senhor Claudionor ,pai do Alexandre,está me ajudando. - Você sabia onde ela estava,Raquel. Ela abaixou o olhar e admitiu: - Sabia.Ela foi transferida ,de onde eu a deixei ,para um orfanato.Eles estão fazendo alguns levantamentos e ainda não me deram os resultados.Também está sendo aberto um processo.Nem sei se tenho o chamado "pátrio poder" sobre munha filha e minha situação para pleiteá-la não é muito favorável.Moro de favor ,não tenho emprego,fui difamada ,morei nas ruas... Creio que talvez isso complique um pouco as coisas.Estou com muito medo. - Você vai conseguir,Raquel.Tenho certeza! - afirmou o irmão,animado.- Contudo,pense na minha proposta.Quero que more comigo e traga sua filha para cá. Seremos uma família. Rosana não podia dizer nada. Insatisfeita,ela não podia dizer nada. - Bem,precisamos ir - pediu a irmã de Alexandre,apressando amiga.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um motivo para viver
SpiritualRaquel nasceu em uma fazenda,numa pequena cidade do Rio Grande do Sul.Morava com o pai,a mãe,três irmãos e o avô,um rude e autoritário imigrante clandestino da antiga Polônia russa. Na mesma fazenda,mas em outra casa,residia seu tio Ladislau,com a m...