Pouco tempo depois,após uma caminhada,Raquel saía da estradinha e pegava um trilho que como um túnel ,era ladeado de árvores frondosas que cruzavam seus galhos ao meio,mal deixando os raios de sol filtrarem.Ouvia -se a água batendo nas pedras tal qual um murmurinho que vai aumentando de volume conforme a aproximação.De mãos dadas,Raquel e Bruna chegaram a um lago transparente e belo cuja bonita cachoeirinha derramava sua queda-d'água sobre as pedras e encantava o lugar. - Eba! - gritou a menina de alegria. A mãe,sorridente ,avisou: - Não vá muito além dessas pedras,Bruna. Ali adiante,é fundo.. - Eu sei nadar! O papai me ensinou! - Eu sei,mesmo assim quero que fique aqui perto. Após se atirar na água cristalina,a garotinha avisou,com um jeitinho todo especial,encolhendo-se com graça: - Tá tão geladinha! Raquel sabia que Bruna brincava em segurança,pois ela conhecia muito bem o lugar e tinha ciência de que a lagoa possuía uma larga extensão que não era funda e ia-se aumentando a profundidade vagarosamente,podendo-se perceber muito bem. Mais á vontade ,Raquel tirou as sandálias e caminhou um pouco na beirada,molhando os pés.Chegando até um galho de árvore que ,como um braço,saía de um tronco que ficava na beira do barranco,parecendo uma garganta presa em um só lado,ela falou: - Venha,Bruna! Pule daqui! A filha obedeceu e fez do galho de árvore um trampolim.Ao sentir os borrifos de d'água,a mãe sorriu e se afastou para perto do gramado ,onde se sentou reclinando o corpo em outro tronco de árvore.Bruna brincava alegre e sua risada soava gostosa. - Deixe-me ir embaixo da queda-d'água ,mamãe? - Agora,não.Mais tarde,junto com o papai,você poderá ir. E,olhando a filha,Raquel sorria lembrando-se de como gostava daquele lugar que era o seu refúgio de paz. Ali,ninguém a incomodava. Quando menina,ela brincava e nadava naquela lagoa,que parecia ser encantada.De sua infância e início de adolescência,aquele lugar era a única coisa que oferecia saudade a Raquel. Recostada no tronco,ela cerrou os olhos e se entregou ao ruído alegre da filha querida e do canto dos pássaros que podia ouvir. Sem saber dizer por quanto tempo ficou ali,Talvez cochilando,de repente Raquel se sobressaltou e olhando assustada,não viu a filha. Levantando-se ás pressas,ela gritou em desespero: - Bruna! Bruna! Raquel sentiu-se gelar e gritou de pavor em pensar no que teria acontecido.Ela correu ,caiu sobre algumas pedras,levantando-se ,gritando aflita: - Brunaaaa!!! Bruna!!! Onde você está?!!! Foi quando ouviu a voz de Alexandre,que também gritou chamando: - Raquel?! Ao ver o marido,ela o agarrou sacudindo-o e gritou assustada: - Onde está a Bruna?!!! Onde ela está?!!! O rosto aflito,lavado de lágrimas exibia desespero. Alexandre a segurou firme e avisou surpreso. - Eu não sei.Acabei de chegar. Onde vocês estavam? - Ali! - disse ela apontando para o lugar e aos gritos,contou: - Ela estava brincando!Eu a tinha sob minhas vistas! Eu sentei ali e fechei os olhos acho que cochilei... -O pai desesperado,correu na direção da lagoa e subiu em uma pedra alta para ter uma visão melhor. - Bruna! - Chamou Alexandre em voz alta e grave,sem obter resposta. - Bruna! Raquel também gritava o nome da filha até que Alexandre a viu sair com meio corpo de trás de uma árvore,com o dedinho indicador na frente dos lábios,sorrindo e pedindo-lhe silêncio.Alexandre desceu de onde estava,aproximou-se de Raquel,e disse mais tranquilo e em baixo tom de voz: - Ela está ali.Calma.Bruna estava brincando. - Onde?! - gritou a esposa. Calmo,ele olhou chamando na direção chamando-a com firmeza: -Bruna,vem cá filha.Não assuste a mamãe,não. A menina chegou rindo e Raquel,muito nervosa,pelo susto,abaixou-se segurou seus braços,agitou-a e chorando disse: - Nunca mais faça isso,entendeu? Rápido,Alexandre interferiu dizendo: - Calma. Já passou,Raquel.Não faça isso. Ele pegou Bruna Maria no colo que triste,dobrou-se em seu ombro.Abraçando Raquel,que ainda chorava ,ele as levou para o carro,que havia largado na estradinha. Colocando a filha no banco de trás do veículo,falou calmo ao orientá-a: - Bruna isso não é coisa que se faça. Você gostaria que eu sumisse e a deixasse sozinha? - Não - respondeu a garotinha querendo chorar. - A mamãe está chorando porque não quer ficar sem você.Ela está assustada e o papai também. Nós a amamos ,filha. - Eu tava brincando. - Agora eu sei. Mas na hora em que você sumiu ,eu não sabia e fiquei preocupado.Eu não quero ficar sem você. Não faça mais isso. Com sua vozinha meiga,ela explicou: - Eu escutei seu carro e vi você de longe,a mamãe estava dormindo e aí eu me escondi para brincar. - Tudo bem,mas agora não vamos brincar mais assim,tá bom? - Tá bom. Voltando-se para a esposa,ele observou o machucado sangrando em seus olhos.Passando-lhe cuidadosamente uma toalha em torno do machucado,ele perguntou,calmo e generoso: - Como fez isso? - Eu caí. Após pequena pausa,Raquel pediu em tom baixo,parecendo estar assustada e querendo explicar: - Eu quero ir embora daqui.Quero sair dessa fazenda o quanto antes. - Chegamos ontem,Raquel! A viagem foi cansativa e... Ela começou a chorar e pediu implorando-lhe ao segurar firme em sua camisa: - Alex,pelo amor de Deus,leve-me embora desse lugar. Erramos ao ter vindo. - Entre soluços,quase sussurrando,suplicou: - Eu nunca te pedi nada,mas por favor,se você me ama,vamos embora. Não tenho mais nada a fazer aqui.Minha mãe não mudou nada ,meus irmãos não mudaram,pensei que eu encontraria uma família,mas só revi conhecidos que parecem não me considerar. Alexandre a abraçou com carinho,entendendo seu pânico. - Tudo bem,meu amor. Nós vamos embora,sim e o quanto antes. Raquel se acomodou no banco e Alexandre ligou o carro para irem até a casa. Após seguirem poucos metros,ele perguntou: -O que vamos dizer para sua mãe? - Que eu vim vê-la,que já fiz isso,agora tenho que ir. Ele ficou em silêncio e após dirigir mais um pouco,ao virar rapidamente o carro em direção á outra estradinha,ignorando que esta não daria na casa grande,perguntou: - Onde vai dar essa estrada? - Não! - disse Raquel,quase num grito. - Por quê? - Daremos uma volta enorme para chegar a casa. Estávamos perto.Vamos voltar. - Precisamos dar uma volta.Olha seu estado está vermelho,chorando e machucada... Vamos pensar no que diremos para sua mãe. - Vamos voltar,Alex! - pediu novamente ela,quase implorando. - Só se você me disser por quê. A esposa ficou em silêncio e logo ele pediu: - Bruna,dá essa garrafinha de água que está aí no banco para a mamãe. - Voltando-se para a mulher,falou: - Molhe a toalha e passe nos joelhos.Ainda está sangrando. - Ela assim o fez e ficou em silêncio. Alexandre,puxando conversa,admirou: - Nossa,que lugar bonito! Daria um excelente hotel-fazenda. - Apontando logo á frente perguntou: - Aquelas casas são dos empregados? - São - respondeu ela,um pouco mais calma.
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Um motivo para viver
EspiritualRaquel nasceu em uma fazenda,numa pequena cidade do Rio Grande do Sul.Morava com o pai,a mãe,três irmãos e o avô,um rude e autoritário imigrante clandestino da antiga Polônia russa. Na mesma fazenda,mas em outra casa,residia seu tio Ladislau,com a m...