No dia seguinte, em seu trabalho,Raquel via-se confusa em meio a tanto papel. Vagner, o colega com quem fora almoçar no outro dia e que começou a se interessar por ela, aproximou-se dizendo: - Como está compenetrada! Raquel se surpreendeu e, voltando-se para o lado,com educação que lhe era própria,perguntou com singelo sorriso: - Como,não ouvi. - Estou observando-a há tempos e nunca vi tanta concentração. Cortez, a moça explicou,sem pretensões: - Tenho que ficar atenta com essas tabelas,códigos e valores,se não... Já pensou fazer reservas para a Espanha em vez da Austrália ou cosa assim. Sem falar dos remanejamentos e das estatísticas. Estamos no aproximando das férias, esqueceu? - É,eu sei. Também estou ficando maluco por causa das férias. Quando vim trabalhar em uma empresa aérea,não imaginava que seria assim. Pensei que teria mais facilidade de viajar nas férias,mas descobri que é a temporada em que mais se trabalha aqui. Raquel ameaçou voltar sua atenção para o que fazia,mas Vagner insistiu na conversa: - Não se desgaste tanto. Você precisa se poupar. Ela sorriu ,mas nada respondeu. Foi então que ele arriscou: - Gostaria de conversar com você, Raquel. Eu a acho tão ... misteriosa. A jovem ficou séria e ele continuou: - Vamos sair hoje, logo após o expediente? Imediatamente , sem refletir,a jovem respondeu: - Não, não posso. - Por quê? Vamos só bater um papo, nos conhecemos , afinal ,você nunca fala de si. - Desculpe-me, Vagner, mas estou tão atarefada agora, que nem posso lhe dar atenção. Agradeço o convite, no entanto não quero sair. Estou muito cansada. - Então vamos almoçar juntos, certo? - Perdoe-me novamente , mas hoje não vou almoçar. Insatisfeito, porém sem exibir seu descontentamento, Vagner deu-se por vencido. - Está bem. Fica para outro dia. Sem nenhum comentário, Raquel forçou um sorriso e logo voltou para suas atividades. Ela se sentiu incomodada com o convite,pois não o desejava. Há dias percebera que Vagner,vez outra,tentava se aproximar para conhecê-la melhor. Bem mais tarde,quando a fome a incomodou muito, decidiu não ir almoçar,mas fazer um lanche rápido. Sentada a uma mesa em um lugar de pouco movimento,pois já passara do horário comum as refeições,Raquel apreciava um lanche enquanto refletia,contrariada,que teria de acompanhar sua cunhada. Não queria desagradar Alice , mas aquilo não era de sua vontade. No entanto,de uns dias pra cá,Alice estava tão alegre,gentil e muito animada. Ela nunca a vira assim. - Posso?! - perguntou Alexandre,com sua voz grave, que chegou bem próximo sem ser notado. Raquel que estava distraída e perdida em seus pensamentos,quase gritou,assustando-se tanto que estremeceu a ponto de se sobressaltar, entornando um pouco do refrigerante que estava no copo que segurava. - Por favor,Raquel,me desculpe! - pediu o moço ligeiro e até constrangido com a situação. Deixando sobre a mesa sua bandeja,segurou no braço de Raquel ,tentando acalmá-la. - Não foi nada - respondeu a jovem tentando disfarçar e secando a mesa com guardanapo. Mesmo exibindo-se verdadeiramente envergonhado,Alexandre não conseguiu segurar riso que refletia em seus lábios e nos olhos brilhantes. Raquel também começou a rir e, permitiu: - Vamos,sente-se. Alexandre se acomodou na frente dela e disse: - Depois dessa, fico até graça. No entanto... Desculpe-me,mas tenho que admitir que você reagiu de um jeito muito engraçado. Pareceu receber um descarga elétrica. Raquel riu e Alexandre tornou, menos hilário: - Por onde voavam esses pensamentos? Você nem viu eu me aproximar. - Não. Não o vi, mesmo. Eu estava tão distraída. - Está tudo bem? - Sim,está. - Não parece.Para estar fazendo um lanche há essa hora... Deve estar abatolada de serviço,como eu. - Ah! Estou sim. E ambos falaram juntos,como um coro: - Férias! Eles riram e logo depois continuaram o lanche entre um assunto e outro sobre o trabalho. Raquel mais ouvia do que falava. Ela possuía uma personalidade quieta,quase misteriosa,que escondia por trás de sua beleza.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um motivo para viver
SpiritualRaquel nasceu em uma fazenda,numa pequena cidade do Rio Grande do Sul.Morava com o pai,a mãe,três irmãos e o avô,um rude e autoritário imigrante clandestino da antiga Polônia russa. Na mesma fazenda,mas em outra casa,residia seu tio Ladislau,com a m...