R E T
Saio do quarto após ter uma breve discussão com a Julia, o que vem se tornando normal ultimamente o nosso choque de personalidades. Vou pra cozinha pegar um copo quando escuto o assunto que ela e o Cobra estavam conversando.
- Ué, ele não te contou?!- cobra nega rapidamente com a cabeça e realmente, não contei pra ninguém o motivo pelo qual terminamos- Ele me traiu Cobra- bebericou seu copo vendo sua feição de choque.
- Trai o caralho Julia, 'ta malucona?! Sou homem pra caralho!- Digo nervoso. Me subiu uma raiva que eu vi vermelho. Nunca quis conversar sobre o assunto e espalha merda? Vai toma no cu!
- O que foi então amor?- debochou se levantando vindo pra perto de mim- Inventa sua mentira, vai.
- Tu só leu a mensagem que a mina mandou sozinha, sem contexto, sem me deixar explicar, sem nada! Júlia, sua prepotência me irrita pra porra.
- Hora assim usa até palavra difícil. A mina manda "então faz o seguinte, vem aqui pra casa que vemos quem é melhor" e você 'tava sendo fiel né? Confia.- elevou o tom de voz me peitando.
- Tu viu a porra da data que ela mandou isso?!- negou- Então vem aqui o marrentinha- pego meu celular do bolso colocando na conversa com a mina. Pra ser bem sincero. nem lembrava da porra dessa conversa, conheci a Julia março do ano passado e essa conversa é de Janeiro. Pra você ver como a filha da puta terminou por falta de conversa e estragou tudo.- Eu nem te conhecia Julia!
- Mas...eu...é- gaguejou tentando arrumar um argumento mas viu que não dava. Ela errou e arruinou uma família inteira.- Você queria que eu pensasse o que Ret?!
- Da mesma forma que você ta dando de maluca agora me escutando podia ter dado a dois meses atrás e não ter estragado nossa família por neurose tua!
- Porque você arquivou a porra do conversa então?! 'Tava devendo?
- Tu come merda Julia, não quer admitir que você foi orgulhosa, arrogante, egoísta e acabou com nosso relacionamento atoa!
- Eu não quero admitir? Eu não fiz nada!
- Nada? Conta outra, além de invadir minha privacidade, o que falava que era nojento, ou seja, além de tudo foi ignorante ao ponto de ir contra um dos nossos principais conceitos. A confiança. Você tirou as conclusões sozinhas. O que custa admitir que ta errada porra?!- peitei ela igual.
- Vocês já não se amam mais, por que vão ficar "bligando"?- uma voz de sono atras de mim fala, me viro vendo o Guilherme coçando os olhinhos.
- Claro que a gente se ama moleque, relaxa- pego ele no colo tentando disfarçar nossa discussão.
- Não amam não papai, quando você se amavam vocês eram mais legais.- foi como se facas tivessem sido disparadas no meu peito novamente. Não conseguimos criar nossos filhos bem? Assim não vai dar.
Júlia acalma o Guilherme e depois de deixar o clima tenso dentro de casa eu saio pra área externa acendendo um cigarro o puxando olhando a vista. Um cheiro doce me invade e quando vejo cabelos negros tenho certeza de quem se trata.
- Eu to errada e sei disso - diz olhando pro nada- É difícil admitir pra mim mesma que consegui destruir algo que era perfeito na minha vida. É difícil aceitar que eu- deu enfase - acabei com nós dois Ret
- Seu mau é olhar só pro seu umbigo Julia- continuei olhando o mar sentindo ela se aproximar- Posso ser bem sincero com você?
- Teve alguma vez que não fomos cem por cento verdadeiros um como o outro?- disse. Julia me olhou com aqueles olhos castanhos escuros que passam tudo. Olhares intensos dizem tudo, eles têm o poder de manter uma imensa conversa sem ao menos dizer uma palavra sequer. Por isso, eu os admiro tanto e sei que não basta falar e falar, é preciso sentir e fazer essa conexão com a alma do outro ao trocar uma mensagem. Os seus olhos não mentem e por eles já sei exatamente o que ela quer sem se quer dizer uma palavra.
-Nesses últimos meses eu não consegui nos reconhecer, brigamos por coisas idiotas que antigamente relevávamos facilmente por eles serem banais, frizzo? Não 'to pedindo pra voltar a ser o que éramos estou só- traguei meu cigarro- acho que pedindo uma trégua de nós dois pelos nossos filhos.
- Te entendo totalmente. As palavras do Gui agora me destruíram, nós deixamos tão claro nossos problemas pessoais pra eles dois? Não sei se estou pronta para voltar para um relacionamento, não 'to dizendo que você queira tá?- falou rapidamente e eu concordei com a cabeça rindo levemente- Acordo de paz?- estendeu sua mão e eu apertei a puxando pra mim transformando em um abraço sincero. Seu cheiro continua o mesmo cheiro de baunilha doce que tinha. Seu cabelo natural castanho está começando a crescer deixando a tinta preta de lado. Nesse momento eu encontro a minha paz depois de dois meses turbulentos.
- Eu ainda te amo muito pra caralho ainda Júlia- sinto o clima tenso como se eu tivesse dado uma obrigação dela responder então completo- Você não precisa responder, só queria que soubesse.
- O ex que ainda se amam- Joice gritou nos fazendo rir, menina boba.- A pizza chegou vão ficar ai com fome ou vão parar de show e vir comer?
- A gente 'ta indo preta- Júlia gritou de volta separando nosso abraço. - Vamos assistir que filme?- se sentou no sofá entregando a pizza do Gui que foi pro quarto jogar no seu videogame portátil enquanto as crianças mais novas, Natan e Maia dormem. Ameacei falar e ela já recusou- Não, piratas do caribe não, não aguento mais ver esse filme Ret.
- 'Vamo ver algum de super herói que geral gosta então- Cobra sugeriu e nós concordamos instantaneamente.
Terminamos de comer e não conseguimos escolher nenhum filme, mas, por fim, eu ganhei e coloquei meu filme predileto. Júlia, apesar de criticar, sei que ela se amarra nesse filme de tão concentrada que fica. Sei as falas de cor e salteado, estava tão cansado que depois de um dia do caralho na morro só quero deitar minha cabeça no travesseiro e foi isso que eu fiz. Estava em um sono leve quando sinto Júlia delicadamente me puxar pro seu colo como se fosse um ato de força de hábito.
Envolvo um dos meus braços pela sua coxa e relaxo de forma serena. Por descaso ou por um gesto de impulso passa sua mão pela meu peito. De acordo com o local decifro que ela está vendo minha tatuagens, sua outra mão refazia meus cachos que ainda estão verdes. Sinto que sua atenção fugiu do filme e está apenas em mim, a conheço e sei de olhos fechados como está me olhando e percebendo a minha mania que tanto critica. Por fumar muito meus lábios ficam secos esporadicamente então fico passando a língua neles para umidecê-los repetidamente.
- Vai ficar me olhando dormindo mesmo morena?- disparo mantendo meus olhos ainda fechados. Ela rapidamente tira suas mão de mim e eu sorrio de canto convêncido - Continua, é bom.- digo em voz baixa para que apenas ela no ambiente ouça
- Não, vamos pro quarto. Também quero dormir- concordo e levanto a seguindo. Dou boa noite pra Joice e Cobra que retribuem. Júlia entra no quarto tirando a roupa sem maldade, claramente seu sono a vencia. Observo de rabo de olho suas ações. A mesma chega Maia, que dorme desde que chegou, um pouco pro lado e tira o video-game do Gui que dormia com ele na cara. Sorriu singelamente beijando a sua cabeça- Ele dormiu sem escovar o dente- diz com um tom humorado.
A mesma se deita ao lado deles, quando volto do banho vejo os três no mesmo estágio de sono. Se me perguntasse a algumas horas atrás onde eu dormiria, por marra, falaria que na mesma cama que ela, mas agora...vou fazer uma caminha no chão mesmo e fé. Quero mermo é paz no setor.
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Meu mundo - concluída
FanfictionJulia, uma menina que mora na barra acostumada a sempre ter as coisas do bom e do melhor se apaixonada por Ret, dono do morro da rocinha que sempre batalhou pra ter tudo o que tem na vida.