J U L I A
- Cade a rabanada amiga?!- grito a Joice arrumando os garfos na mesa de jantar.
- Pedi pro Má colocar dentro do forno- grita novamente. Nego com a cabeça refazendo meu coque.
Já disse o quanto odeio organizar festa aqui ou em qualquer outro lugar? Porque eu odeio demais! Bendita foi a hora que deixei o Ret e a Joice me convencerem de fazer algo pra "estrear" a casa nova.
Respiro fundo tentando deixar o estresse de lado mas quando eu vejo o meu filho jogando tinta guache preta no meu chão branco limpinho e em seu peito...essa tentativa se tornou um:
- Puta que pariu Guilherme! Tu ta de sacanagem porra?!- dou um berro disparando como uma bala em sua direção.
- O que eu fiz mãe? Eu tava "bincando"- responde assustado ao meu grito.
- Ninguém viu o que ele tava fazendo aqui?!- pego a tinta e os pincéis com uma mão e o seu braço com a outra o levando até Ret- Você não tava cuidando dele?
- Porra Gui, tu só faz merda cara!- exclama passando espuma de barbear na cara- Não posso tirar o olho de você um segundo?
- Não Ret, ele tem quatro anos! Da banho nele por favor, vou separar as roupas.- deixo o mesmo no banheiro seguindo pro novo quarto do Guilherme.
- Mas eu to ocupado- diz alto, reviro meu olhos até quase na minha nuca ignorando. Esse moleque ta atacado, fazendo merda atrás de merda desde semana passada, já já bato no meu limite com ele!
Pego um conjuntinho verde pro Guilherme colocando um nike branco em seus pés. De perfume escolho o clássico mamãe e bebê da natura, deixando separado pro Ret vesti-lo. Pra Maia, que toma banho com a Joice, separo um belo macaquinho da farm com um tênis igual do Guilherme.
Me guio até meu quarto pegando o vestido que comprei ontem da sacola o pondo na cama. O mesmo é marrom de manga longa, decido usá-lo com um salto baixinho branco. Arrumo meu cabelo enfrente ao espelho decidindo cortar uma franja e na realidade, não é a primeira vez que faço isso.
- Que cabelo é esse no chão Julia?!- entra no banheiro e dou um riso frouxo saindo do box.
- Cortei um franjão, gostou?- solto o cabelo.
- Pior que ficou bom pra caralho- sela nossos lábios.
- Ta melhor? Sei que o Gui te estressou com o bagulho da tinta, relaxa que eu já limpei tudo.
- Não quero brigar com ele, daqui a pouco é natal mas essa criança ta impossível!- desabafo tirando a toalha passando hidratante em todo meu corpo.
- Isso é fase, lembra como o meno era a própria paz?- confirmo- Agora ta levado.
- Com quatro anos a criança ainda ta na fase pré-operatória simbólica- me olha com cara de quem não entendeu uma palavra do que eu disse- ele começa a diferenciar significantes e significados.
- E que que tem? Não sou inteligente que nem tu não- coloco meu vestido arrumando as mangas.
- Significa que a fase que o Guilherme está é a fase que a criança começa a entender melhor as regras, os limites e as noções de tempo. Tipo o que é ontem, hoje, amanhã e férias, por exemplo, deixam de ser conceitos tão abstratos passando a ter significados. Entendeu?- o olho vendo sua boca aberta literalmente quase babando.
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Meu mundo - concluída
FanfictionJulia, uma menina que mora na barra acostumada a sempre ter as coisas do bom e do melhor se apaixonada por Ret, dono do morro da rocinha que sempre batalhou pra ter tudo o que tem na vida.