Julia, uma menina que mora na barra acostumada a sempre ter as coisas do bom e do melhor se apaixonada por Ret, dono do morro da rocinha que sempre batalhou pra ter tudo o que tem na vida.
Despertei com um revertério na minha barriga. Levanto tirando minha touca de cetim e esfregando meus olhos na tentativa de me adaptar a luz ambiente. Pego minha escova de dentes escovando os mesmos. Do banheiro, escuto meu alarme tocar e meu marido grunir. Rio fraco sentindo um gorfo vir, cuspo junto com a pasta.
- Morena, desliga essa sonorização simuladora do inferno, já vou pra lá em morte não quero em vida não.- joga meu celular pra mim
- Quem dorme perde Retiano- engulo sentindo o refluxo novamente. Nego com a cabeça desligando o alarme, realmente é infernal.
- Vai trabalhar hoje?- indaga de olhos fechados.
- Vou e eu ainda to passando mal. Acredita?- digo do banho.
- Acho que o restaurante botou algum bagulho estranho na comida porque também to me cagando inteiro.
- Você já foi mais romântico.- me sequei indo em direção ao meu guarda-roupa pondo um macacão qualquer ao invés da minha roupa de trabalho, junto a uma botinha branca.
Lembram do rombo que deu no orçamento? Já consegui recuperar tudo o que perdi com aquele machistinha de merda.
- Quando eu não precisar mais trabalhar,vou tacar fogo em todas as minhas roupas sociais e depois tacar fogo nas cinza de novo.- desabafo passando meu body splash.
- Só suas roupas sociais compram meu guarda-roupa todo- beija minha testa enquanto termino minha maquiagem.- Acho melhor por em um bazar- se joga na cama novamente.
- Você é o rico mais pão duro que eu já conheci Matheus Alencar- pego minha bolsa pondo meu óculos novo da Prada.
- Por isso que eu sou rico!
[...]
- Mas chefe, eu prometo melhorar!- me súplica. Massageio minha têmporas buscando paciência batendo a caneta na mesa repetidas vezes. Terceira Demissão só hoje.
- Você tem direito ao saldo de salário até o dia do mês em que trabalhou, além do valor referente às férias disponíveis, aviso prévio indenizado ou trabalhado e mais. Tudo que estava no contrato será cumprido. A Ribeiro Reinventta Administradora agradece os serviços que você prestou, tenha uma boa vida!- seguro minha ânsia de vomito pela trigésima vez no dia. É, eu já sei o que você estão pensando porque to pensando a mesma coisa!
Ele se levanta da cadeira a minha frente, me olha com o olhar mais raivoso que consegue fazer, ajeita sua roupa e sai da minha sala. Meu corpo relaxa abaixando a cabeça sobre a mesa escutando minha porta bater.
Hoje decidir demitir TODAS as pessoas que são inúteis da minha empresa, em suma, metade dos funcionários. Carmem entra no meu escritório e eu nem levantei a cabeça ainda mas já sei que esta com aquele sorriso irritante. Nossa como eu to com uma raivinha desse sorriso!
- Senhora?- levanto a minha cabeça tendo a confirmação.
- Hm.- murmurei.
- Posso chamar o próximo?
- Carmem, eu te contratei pra que?
- Não sei, facilitar um pouco a sua vida?- meu deus, por que estou com tanta raiva dentro de mim?!
- Então porque caralhos você ta dificultando ela?!- falo com um tom de voz um tanto quanto alto e um sorriso sarcástico. Na mesma hora me vem aquele revertério novamente, corro pro banheiro e a Carmem vem atrás segurando meu cabelo.
Só sei que o que eu tinha pra vomitar, vomitei! Só não vomitei meu estômago pra fora porque não é humanamente possível! Não acredito que isso ta acontecendo de novo! MERDA!
- Patroa?- me pergunta e, ainda com a cara dentro do vaso, viro pra ela.- Acho melhor a senhora ir embora.
- Carmem?- pergunto após um tempo em silêncio.
- Sim?
- Eu acho que estou grávida de novo...- falo deixando um ar de tensão pairar o ar. Não esperava que ela falasse nada, só queria falar pra alguém que, por hora, não seria o meu marido. O mesmo explodiria de felicidade e isso me irritaria.
- A senhora tem certeza disso?
- Pode me chamar de Julia agora, por favor? Te contei uma das coisas mais íntimas que poderia no momento...- respiro fundo me sentando de lado apoiada no vaso.
- Ju, você tem certeza disso?- repete a pergunta afagando meus cabelos.
- Ultimamente eu não ando tendo certeza de nada. Eu não queria estar assim Carmem- meus olhos enchem de lágrimas e minha voz fica embargada de choro. - Eu não queria estar vomitando, tratando as pessoas mal, não conseguindo comer tudo que quero. Não queria- Me permito chorar. Hormônios de merda!
- Não queria estar grávida?
- Não, eu não queria estar passando mal. Meu marido vai ficar extremamente feliz, quando eu aceitar essa ideia novamente também irei ficar amplamente feliz. Mas agora? Agora eu quero chorar- sinto meu estômago quase chamar meu nome- E vomitar também, segura o meu cabelo!- volto pro vaso vomitando apenas água.
[...]
Assim que consigo me recuperar pego minha coisas partindo pro estacionamento. Adentro a Vellar pondo uma música o mais alto possível tentando pensar em tudo menos no que estou pensando.
Chego em casa me vendo sozinha. Ainda são três da tarde, as crianças ainda estão na escola e o Ret sem dúvida nenhuma está na boca. Não quero atrapalhar o mesmo com essa notícia por que sei que ele vai vir pra casa tão rápido como vento!
Me deito na cama com a mesma roupa e, infelizmente, permito meus pensamentos virem com tudo. Na verdade...acho que vou ligar sim! Ele é o dono né gente, provavelmente que não vai ter problema.
IDL Julia: Oi, ta ai?- falo a voz embargada. Ret: Fala comigo gostosa- suspiro- pra você sempre! Julia: Ret...acho que estou grávida- digo de uma vez, tenho que matar o que me mata! Ret: Ta de sacanagem comigo Julia? Julia: Eu to falando muito sério. Ret: To indo pra casa agora. Onde você ta? Quer que eu vá te busca?- diz com certa preocupação na voz. Julia: Passei mal desde de que acordei e o trabalho todo, já to em casa já. Ret: Quer que eu leve algo? Julia: Trás alguns testes... Ret: Ta bom, eu te amo. Julia: Eu também te amo. FDL
Desligo soltando ar pela boca e começando a fitar o teto.
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