' Cap 2 - encontros

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No caminho até o avião o pensamento do que está no Brasil me causa ainda me assolava. No fundo eu sei que não foi o país em si que me fez mal, mas é que em cada canto dele tem um pouco dela; por isso eu passei tanto tempo sem querer voltar.
Só eu sei o tanto que precisei me manter forte pra lidar com o turbilhão de sentimentos que senti durante tanto tempo. Eu prometi pra mim que nunca mais seria dependente de alguém e nunca mais ninguém pisaria em mim. Ou dominaria tanto meus sentimos da forma que ela me dominou.

Depois de algumas horas de um voo tranquilo, pelo menos fora, porque dentro de mim tava tudo turbulento, pouso em São Paulo. Logo pego um táxi, passo no hotel onde fica minha cobertura, que por sinal eu tinha esquecido como era bonita; deixo minhas malas e volto para o mesmo táxi no qual pedi que o motorista me esperasse para que me levasse até o ateliê do estilista que está produzindo as roupas das modelos pra nova edição da Bernardi's.

- Srat° Bernardi, quanto tempo! - Walter Coimbra - o estilista.

- Oi. Vamos começar?! Não tenho tempo a perder.

Ele revira os olhos de uma forma que eu estou acostumada a ver as pessoas revirando pra mim. Mas eu realmente não tenho tempo pra questionar.

- ok. Separei aqui os croquis dos modelos e os tecidos por quais serão feitos.

Observo atentamente, como se estivesse visualizando cada modelo pronto. Nisso eu sei que sou boa, meu olhar sobre cada detalhe é muito importante para o sucesso ou desastre da produção.

- • muda esse tecido por esse.
• Essa cor por aquela cor.
• Inclui um assessório nesse modelo
• Coloca uns 3cm a mais na manga desse... - digo apontando para cada croqui e faço minhas ponderações.

Se tem uma coisa que eu gosto de fazer direito e ser a melhor é no meu trabalho. E eu sou a melhor diga-se de passagem.

Walter observa minhas mudanças e logo manda seus assistentes realizá-las.

- pode deixar que faremos as mudanças srat Bernardi.

- não espero nada menos que o perfeito. Faça seu trabalho como se fosse a coisa mais importante da sua vida; porque nosso profissionalismo ninguém tira de nós. E só dependemos de nós mesmos para para sermos os melhores no que fazemos, eu sou a melhor, e quem trabalha comigo TEM que ser os melhores. - falo num tom de superiodade principalmente quando enfatizo a última frase.

Saio da sala sobre os olhares de julgamento de todos os assistentes de Walter, mas tenho certeza que pelo menos um deles pegara essas frases como conselho.
Passo mais alguns minutos ali e logo me despeço.

Na saída do ateliê, parecia tudo tranquilo até que vejo saindo de um carro do outro lado da rua, todo o meu passado saltando daquele carro junto com ela. Eu sabia que está aqui poderia me proporcionar esse encontro, mas não imaginava que seria assim, tão rápido.

Eu não sei exatamente o que eu senti quando a vi depois de tanto tempo, mas posso afirmar que não é amor; é mais um sentimento de dúvidas. A gente não conversou sobre o que aconteceu, ficou algo meio que inacabado mesmo que hoje eu agradeço que tenha acabado. Não precisava ter acabado do jeito que acabou, ela não precisava ter feito o que fez.

Fiquei parada ali a olhando sair daquele carro, e parece que todo o trânsito barulhento de São Paulo ficou quieto, em silêncio; eu só conseguia ouvir meu coração e a bagunça que meus pensamentos faziam na minha cabeça.

Agradeço ela não ter me visto, eu planejei vomitar tantas coisas na cara dela caso um dia a encontrasse e agora que estou aqui a alguns metros de distância dela, sinto meu corpo travado e minha voz silenciada.
Eu queria falar, eu queria ouvi-la, mas acho que pro meu bem é melhor que eu fique longe; eu realmente não sei o que eu sinto quando se trata dela, mas não é amor, eu prometi pra mim mesmo que nunca mais usaria essa palavra e muito menos sentiria o amor de novo.

Por trás das câmeras - VALUOnde histórias criam vida. Descubra agora