Capítulo 24

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Acordamos quase meio dia. – Bom dia amor – falei com preguiça.

Nat: Bom dia... Que horas são?

Eu: 11:50... a gente dormiu demais.

Nat: Então vamos dormir mais, hoje é sábado.

Eu: Só mais um pouquinho tá? – a abracei e dormimos até as 14 horas. Tomamos banho fomos almoçar perto de casa e voltamos pra casa.

Nat: Já viu isso? – me deu o ipad. Era uma noticia falando que eu tinha pedido demissão do Mount Sinai depois do hospital colocar em duvida minha capacidade e já sabiam que eu estava no Presbyterian Columbia Cornell. Foi uma chuva de criticas a Nathalia Diorio e ao hospital que emitiu uma nota a imprensa. – A Nathalia é nossa amiga, e ela está sendo detonada amor.

Eu: Ela deveria ter pensado nisso antes de julgar minha capacidade. – devolvi o ipad pra ela.

Nat: Está sendo injusta.

Eu: E o que fizeram comigo não foi injusto? Ela convocou o conselho antes de falar comigo, ela achou que eu seria capaz de matar uma família inteira porque eu perdi meus filhos. Eu posso estar sofrendo com a perda dos meus filhos, mas eu ainda tenho sanidade e sei fazer o meu trabalho. O Mount Sinai que lute. – não tocamos mais no assunto a Nathalia não parava de me ligar e me mandar mensagem até que eu a bloqueei e fiz o mesmo com a Valentina e a esposa dela que por sinal trabalha com a minha mulher e são amigas. No dia seguinte fui ao hospital a tarde, era meu primeiro plantão. Íamos tirar o menino do coma e refazer os exames. A sedação foi diminuída e ele estava reagindo. Os exames estavam bem melhores também.

Marise: Oi, cheguei, peguei um transito imenso com essa chuva. E ai? – sentou do meu lado.

Eu: Olha...

Marise: Tá melhor que o primeiro e que o ultimo feito. Ele está reagindo. – suspirou aliviada.

Eu: Acho que conseguimos.

George: Espero que sim. Dei um reversor pra ver se ele acorda mais rápido.

Eu: Vamos examinar e esperar. – fomos vê-lo. – Oi pequeno... Vamos abrir os olhinhos vamos? – o examinava e mexia nos olhinhos dele. Ele mexia as perninhas e os bracinhos. Depois de quase uma hora ele abriu os olhinhos e chamou a mãe dele.

Marise: Oi príncipe... Oi... A mamãe está chegando tá? – se emocionou.

George: A gente conseguiu... – falou animado. Logo fizemos mais testes e ele estava reagindo bem. Os pais dele chegaram.

XX: Oi... Como ele está? Ele está reagindo?

Eu: Me acompanhem... – sorri de leve e os levei para a UTI.

XX: Meu filho... Não acredito – riu e chorou e me abraçou. – Obrigada... Muito obrigada. – abraçou o doutor George e a doutora Marise também, e o marido dela também fez o mesmo. Eles estavam muito emocionados. Nos agradeceram muito. Eu sai de lá e fui para a capela do hospital e acendi duas velas e me sentei. Eu não consegui falar nada eu só chorei. Depois de quase meia hora ali chorando eu resolvi falar.

Eu: Obrigada Deus, por me capacitar, por ser o Médico dos médicos, por me guiar em meio a minha dor e me permitir salvar uma vida. Obrigada por tudo. Eu sinto tanta falta dos meus pequenos, que dói, que queima insuportavelmente, me ajuda a superar. Me ajuda a passar por isso. Dói demais e tem dia que essa dor parece querer me engolir. Por favor, me ajuda a acabar com essa dor. – chorava.

George: Parece que nunca passa né? A dor da perda.

Eu: É sufocante... – sequei o rosto e ele me deu um lenço de papel.

George: Quando eu perdi minha filha eu achei que fosse enlouquecer.

Eu: Não sabia que tinha filhos. – olhei pra ele.

George: Eu tenho... Agora eu tenho 4, mas eu tinha 5. – sorriu.

Eu: É muito filho. – sorri.

George: Tem dia que tem criança no teto. Mas eu tive uma menina, linda, feliz, espoleta. Ayla tinha 12 anos e tinha anemia falciforme. Foram muitos tratamentos e quando estávamos perto da cura dela, que era tão dolorosa, minha filha desenvolveu leucemia da forma mais grave. Minha esposa foi doadora 100% compatível. Depois de 4 meses, minha filha adoeceu de novo, a leucemia voltou com mais força, e da descoberta até a partida dela, foram 3 dias.

Eu: Ela teve uma queda em espiral.

George: É... Eu e a Juliette, quase morremos com ela, mas nós tínhamos 3 filhos ainda. E dias depois descobrimos a gravidez da Juliette, e a gente nem conseguiu comemorar sabe, porque ela estava tão mal a gente estava sentindo tanta dor, que a gente não conseguiu sentir alegria. Meses depois chegou a Lily, uma princesa. Ela tem síndrome de Down. Hoje ela tem 2 aninhos e é uma pimentinha, inteligente demais, e faz cada pergunta. A fonoaudióloga disse que a dicção dela é melhor que a dela – rimos. – Ela é perfeita Priscilla... Acho que ela foi um presente nas nossas vidas. E os irmãos? Os irmãos são loucos por ela. Kheaton tem 15 anos e ela espera ele chegar do colégio todos os dias na calçada. Quando chove, quando neva, ela não se importa, ela quer esperar. O Louis tem 9 anos e ele ama games, mas para tudo pra brincar de boneca com ela e eu tenho quase certeza de que ele está ensinando a Lily a ser tão levada. E tem a Biah, ela tem 4 anos e é muito tranquila, mas quando junta com Lily e Louis sai debaixo. – suspirou – Doi Priscilla, a perda doi, todos os dias. Alguns dias doi mais, outros dias doi menos, outros dias é uma saudade dolorosa, outras é uma saudade boa. Ameniza, mas vai deixar de existir. Ressignificamos a perda da nossa filha, incentivando a doação de medula, de sangue, exames precoces. A gente tem uma roseira em casa, que a gente trata com muito amor e carinho e ela está sempre florida. A gente cultiva ela, cuida dela como se fosse a nossa filhinha. Ameniza muito...

Eu: É sufocante demais... Sufocante saber como foi, porque aconteceu, e que nunca mais vou vê-los pela maldade de dois monstros.

George: É revoltante e justiça será feita, a dos homens e a de Deus. Se tem uma coisa que me orgulho nesse país é a justiça contra esses monstros.

Eu: Pelo menos isso funciona aqui.

George: E a de Deus vai pesar muito em cima deles também, pode esperar. – foi uma conversa muito boa. Depois fui ver alguns pacientes e fui fazer meu crachá e meu cartão de acesso no RH e tinha que assinar mais um monte de papeis e organizar minha sala. Coloquei minhas coisas no lugar, assinei alguns papeis. Fui na lojinha do hospital comprei um coelho de pelúcia para o menininho e fui vê-lo. Ele estava na semi intensiva então os pais estavam com ele. 

PARTES DE NÓSOnde histórias criam vida. Descubra agora