Capítulo 5

267 32 1
                                    

O padre foi tão gentil e amoroso, nos disse coisas lindas, fez uma oração linda, se emocionou. Nossos amigos estavam ali, Nathalia Diorio, Rodrigo Tardelli, ambos eram médicos com a Priscilla no Mount Sinai. Valentina Buiar também era médica em outro hospital esposa da Luiza Reis que trabalhava comigo na United e também estava lá. Minha família estava lá, meus irmãos e cunhados, meus pais, meus sogros e cunhados, meus vizinhos, meus colegas de trabalho, o presidente da United com a esposa estavam lá. O chefe de cirurgia do Presbyterian Columbia-Cornell estava lá com a esposa, o sonho dele era ter a Priscilla na equipe dele e mais alguns médicos do hospital dele que a Pri conhecia. Alguns médicos e enfermeiras, equipe de limpeza, do administrativo do Mount Sinai também estavam ali, tinha muita gente próxima a nós se solidarizando a nossa dor. Logo um cordão de isolamento foi colocado a um metro de distância das urnas para que as pessoas pudessem entrar e passar por lá e prestarem suas homenagens.

XX: Senhoras Pugliese, vamos liberar o acesso da população, se quiserem se retirar agora, geralmente tem muita comoção pela população se as senhoras quiserem se ausentar neste momento, podem ficar na sacristia.

Eu: Não, eu vou ficar, eu vou cumprimentar essas pessoas. Eles estão aqui por nossos filhos, eu quero estar presente. Obrigada. – agradeci.

Pri: Eles estão aqui por nós, por nossos filhos, eu também vou ficar. Obrigada. – colocaram duas cadeiras ali e nos sentamos. Logo liberaram a entrada, e cada um tinha um reação diferente a tudo aquilo, pegavam na nossa mão, davam suas condolências, algumas pessoas nos abraçavam, diziam palavras de conforto, outras choravam, outras se revoltavam. A sociedade estava mobilizada com tudo que aconteceu. Ficamos cerca de 3 horas cumprimentando as pessoas e recebemos um conforto gigantesco dessas pessoas que nem conhecíamos. Um grupo evangélico entrou, e a cerimonialista perguntou se permitíamos que eles fizessem uma oração e cantassem uma música, era um grupo de umas 20 pessoas e permitimos de imediato e foi a coisa mais linda que eu ouvi em toda a minha vida. Uma oração de conforto, uma oração que era como se encaminhassem nossos filhos a Deus e colocasse conforto no nosso coração para vivermos aquele luto que duraria sabe Deus quanto tempo, e a musica linda que eles cantaram, emocionou a todos ali. Eu reconheci algumas pessoas daquele grupo, e eles eram de uma igreja que havia ali perto da nossa casa, eu os via com frequência. Reconheci a dona Betty e o Senhor Calton eles eram pastores dessa igreja e moravam a três casas da minha e eram pessoas maravilhosas. Logo chegou a hora da missa, e o padre convidou o senhor Calton para dar algumas palavras e foi lindo. Ali não era sobre quem era católico ou evangélico, se éramos duas mulheres casadas e mães de dois filhos. Ali era sobre o amor, sobre a perda de duas crianças, sobre a união, sobre cuidado, solidariedade, apoio, carinho. Era nossa vez de falar, então eu subi até o altar e peguei o microfone.

Eu: Eu... – suspirei – Eu passei esses dias todos tentando assimilar o que aconteceu com os meus filhos e minha esposa não foi diferente. E eu não consegui. Eu não preparei aqui uma mensagem linda sobre eles porque eu ficaria a vida toda falando quem é Lucca e quem é Leo. E essa mensagem não deveria ser preparada, eu não estava preparada pra essa mensagem porque meus filhos estavam bem e saudáveis quando saímos de casa na manhã daquele dia. O Lucca nasceu de mim e o Leo nasceu da Priscilla, e eram duas crianças extremamente amorosas, felizes, arteiras também como qualquer outra criança de 7 e 5 anos. Crianças que amavam ir para a escola, brincar com os amiguinhos, ir ao parque. Conversar com os vovôs e vovós da nossa rua porque eles diziam que os vovôs e vovós tinham muita sabedoria e eles aprendiam muito. Como duas crianças de 7 e 5 anos poderiam dizer isso não fossem tão especiais? Eu ainda não consigo entender o que aconteceu e nos próximos dias vou começar a processar tudo isso na minha mente, e eu quero dizer aos meus filhos o quanto eu os amo, o quanto dói vê-los partir e não tê-los mais comigo. É um sentimento absurdamente doloroso dentro do meu peito que me falta ar. Quero agradecer a todos vocês que estão aqui, a todos que passaram por aqui e que estão do lado de fora por todo carinho, todo amor e respeito por nós e nossos filhos. Obrigada por cada abraço, aperto de mão, palavra de carinho, de justiça, cada oração. Obrigada pastor Calton, pastora Betty por todo amor e carinho por nós. Não temos palavras para agradecer a cada um de vocês por tudo que tem feito por nós nesse momento tão difícil. – suspirei – Lucca, Leo a mamãe ama muito vocês. – foi a vez da Pri. A Pri não falava nada a dias. Eram pouquíssimas palavras e isso me assustava.

PARTES DE NÓSOnde histórias criam vida. Descubra agora