Capítulo 32

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NATALIE NARRANDO...

Eu trabalhei muito e quase não vi a Pri e ela dormiu muito quando chegou. A acordei na manhã seguinte para sairmos, tinha que fazer supermercado e depois disso fomos pra casa deixamos tudo e fomos comer na rua por preguiça de cozinhar. Quando íamos embora a Pri recebeu uma ligação do hospital e fomos até lá. Eu fiquei esperando na recepção e logo apareceu uma menina toda de preto com uma menina no colo.

XX: Vocês são irresponsáveis e querem dizer que vão procurar uma família pra gente? Isso não podia ter acontecido. Eu posso cuidar de mim e da minha irmã. A gente tem dinheiro, só deixar a babá dela como responsável por nós até eu fazer 18 anos daqui 4 anos. – esbravejava e a lágrima caia mas ela não deixava a dor tomar conta dela. Senti um aperto.

XXX: Você não pode falar comigo dessa maneira Claire.

Eu: Hei... Calma...

XXX: Quem é você?

Eu: Calma... Está tudo bem, você está muito nervosa. Você almoçou?

XXX: Não. Essa senhora irresponsável que é assistente social deixou que minha irmã se machucasse, não deu tempo de comer e nem de dar comida a ela. – falava com raiva.

Eu: Calma. Vamos até o restaurante do hospital.

XX: Senhora.

Eu: Natalie Smith Pugliese, muito prazer. Vou levar as duas para almoçarem e se acalmarem também. Se achar ruim chama a polícia pra mim. A gente está no restaurante do hospital. Vamos... – levei as meninas. A mais velha serviu um pratinho para a pequena e pegou um suco pra ela, e se serviu e pegou um refrigerante pra ela. Eu peguei um café, eu já tinha almoçado. As duas comiam em silêncio, a mais velha ajudava a mais nova, era lindo ver as duas juntas. – Meu nome é Natalie, eu ouvi a assistente dizer o seu. É Claire não é? – falava calma.

Claire: Sim. Você não é americana né?

Eu: Eu sou americana, mas meu pai é brasileiro e eu morei boa parte da minha vida no Brasil então minha língua principal acabou virando o português e não o inglês. Mas eu moro aqui a muito tempo. Como percebeu?

Claire: Pela pronuncia do meu nome. Você me chamou de Claaar... Mas se pronuncia Cleeeer... estendendo o E...

Eu: É verdade – ri. – E essa pequenininha como se chama?

Claire: Fala seu nome pra moça...

XX: Iv... – fez bico e riu.

Claire: Esqueceu do Y. É Ivy...

Eu: Lindos nomes. O que aconteceu com ela?

Claire: Ela caiu no abrigo. Ela não desgruda de mim e um pouco que ela saiu porque a idiota da assistente social a levou para um casal vê-la, a minha irmã caiu, tropeçando no pé dela e ela deixou minha irmã lá chorando e quando eu vi, minha irmã com um corte na testa.

Eu: Entendo. Deu ponto?

Claire: Dois... – suspirou. Ela terminou de comer em silêncio, pegou uma salada de frutas para a irmã e sorvete pra ela.

Eu: Por que não pegou sorvete pra ela?

Claire: Ela tem 1 ano e meio, ela não come açúcar. – falou como se fosse obvio.

Eu: É verdade ela ainda é um bebê. Qual sua história? – ela começou a contar do pai e do irmão, da doença da mãe. Ela falava tudo com muita segurança, mas muito triste e preocupada porque ela perderia a mãe em breve por causa da doença.

Claire: Agora minha mãe vai morrer, e vão nos separar. Minha tia é uma bruxa, eu prefiro morrer que morar com ela e expor minha irmã a viver no inferno com essa mulher.

Eu: Você a sua irmã fizeram testes para saber se tem a mesma doença da sua mãe?

Claire: Fizemos. Nós não temos. Meu irmão tinha, mas minha irmã e eu não. Eu não posso ficar sem ela. Ela é tudo que eu vou ter. A mamãe precisa aguentar mais 4 anos pra eu poder ficar responsável pelos nossos bens e pela minha irmã – suspirou – Mas ela talvez não passa nem desse ano.

Eu: Vocês já estão no sistema?

Claire: Já... Eu ouvi a Mariene falando que a principio vamos ficar com uma família e com a minha mãe, mas quando a minha mãe partir vamos ficar com a família, ou com as famílias porque talvez vão nos separar. Eu não quero ficar sem minha irmã. O papai não podia ter morrido.

Eu: Eu perdi meus filhos a quase 3 meses e dói muito. Eu mudei de casa, minha esposa e eu estamos tentando sobreviver a isso. Não é fácil sobreviver as nossas perdas. Dói, a gente fica com raiva. Eu tenho raiva todos os dias... Eles tinham 7 e 5 anos. Lucca e Leo.

Claire: Daquele caso do homem que atirou na babá e ateou fogo no cômodo da casa e os meninos morreram?

Eu: Sim... Esse mesmo.

Claire: A mamãe comentou muito sobre isso e ficou bem triste quando tudo aconteceu.

Eu: É... Nossa vida mudou 100%

Claire: A nossa também e vai mudar de novo. E não sei mais quantas vezes.

Eu: Eu posso visitar vocês de vez em quando?

Claire: Nos visitar?

Eu: É... Sair pra passear um pouco. A gente está vivendo uma vida louca e talvez seja bom pra nós três.

Claire: Se a Mariene deixar, tudo bem.

Eu: Ok... Vamos?

Claire:Vamos... – eu peguei a pequena e fomos pelos corredoresem silêncio. 

PARTES DE NÓSOnde histórias criam vida. Descubra agora