Capítulo 58

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PRISCILLA NARRANDO...

Sai daquele tribunal sem dizer uma só palavra. Estava tentando absorver tudo que vi e ouvi. Deixei todo mundo em casa e fui dar uma volta, eu precisava chorar. Sai rapidamente e quase atropelei uma pessoa. Parei o carro perguntei se estava tudo bem e depois parei numa cafeteria. Pedi um café e fui para o carro eu sentei ali e chorei por cinco minutos. Foram os cinco minutos mais insanos da minha vida depois da morte dos meus filhos. Pensei em tanta coisa e em nada ao mesmo tempo que estava difícil assimilar o que eu estava sentindo. Fui pra casa e me deparei com uma cena assustadora. A Claire no chão roxa, com os olhos arregalados, meu pai no telefone e a Natalie desesperada. Eu corri para socorrer e era o coração. A ambulância chegou em seguida a levando e eu fui para o hospital de carro. Ela foi atendida pelo chefe que logo veio dizer que ela tinha um sopro bem significativo, mas iam medicar antes de partir para uma cirurgia que é algo tão sério. A gente foi ficar com ela na observação, ela queria ir embora, estava fragilizada. A Nat deitou com ela um pouco e eu me sentei perto da janela e fiquei olhando pra fora. O tempo já estava mudando, era novembro, começava a esfriar. Dezembro começa a nevar, mas já estava fazendo um pouco de frio. Fiquei pensando em tudo que eu vi naquele tribunal, as fotos dos meus filhos queimados naquela ambulância, desacordados. Duas crianças inocentes, que nunca fizeram mal pra ninguém. Doía muito isso. Aquelas imagens não saiam da minha cabeça, e aqueles dois se declarando inocentes, foi o auge da canalhice e da cara de pau. Por um instante eu olhei para a arma do policial que estava ao meu lado de pé, e me deu uma vontade absurda de pegá-la e atirar na cabeça dos dois. Mas em seguida veio em minha mente o quanto minha mulher sofreria com isso, o quanto minhas filhas que acabaram de perder a mãe biológica sofreriam com isso. Natalie não conseguiu ver e saiu, e minha mãe foi atrás dela. Eu não conseguia me mover, eu tive que ver até o fim. A audiência acabou com o Juiz declarando que o caso dos dois iria a júri popular em janeiro. E isso significava que a pena deles provavelmente seria máxima. A gente foi pra casa já era noite, quase 22 horas. A casa estava silenciosa, um cheirinho bom de sopa da minha mãe. Ela estava na cozinha esquentando.

Mãe: Oi... E ai como está Claire?

Claire: Cansada e com fome. – a abraçou.

Mãe: Eu fiz uma sopinha de macarrão com legumes e frango bem gostosa. Vai tomar um banho que eu vou levar pra você.

Claire: Obrigada vovó. – a beijou.

Nat: Não tranca a porta do banheiro tá? Se ficar tonta senta na borda da banheira.

Claire: Tá bom – foi para o quarto.

Nat: Estou morrendo de fome. Cadê a Ivy?

Mãe: Dormindo em cima do Roberto no sofá. Tudo bem filha?

Eu: Sim. Vou tomar banho e desço pra comer. – eu subi tomei um bom banho, coloquei um pijama e desci. Coloquei sopa no prato e sentei. Meu pai já tinha subido, minha mãe tinha ido levar a sopa pra Claire e a Natalie deveria estar com a Ivy. Eu comecei a comer, a Nat logo desceu.

Nat: Vou tomar banho depois de comer, estou exausta e com fome.

Eu: E a Claire e a Ivy?

Nat: Claire está jantando, sua mãe está com ela e a Ivy está dormindo. – eu fiquei em silêncio. – Quer conversar?

Eu: Não. – falei seca.

Nat: Tudo bem. – a gente jantou em silencio. Eu lavei a louça enquanto ela subiu para tomar banho. Eu peguei um copo de uísque e tomei. Em seguida peguei outro e mais outro e mais outro. Já estava um pouco tonta então subi. – Estava bebendo?

Eu: Sim.

Nat: Priscilla...

Eu: A gente compra bebida nessa casa é pra beber Natalie, não pra ficar de enfeite. – fui grossa. Eu escovei os dentes e deitei.

Nat: Quer conversar sobre a audiência?

Eu: Não. Eu não quero falar disso com ninguém.

Nat: Vai trabalhar amanhã?

Eu: Plantão de 48 horas começa as 13 horas.

Nat: Vou pedir a Jenny pra fazer almoço mais cedo.

Eu: Ok, Boa noite – virei de costas pra ela.

Nat:Boa noite. – eu não demorei a dormir. Sonhei a noite todacom a audiência e acordei apavorada as 5 da manhã. Desci tomei água, precisavacomprar um frigobar para o meu quarto. Subi de novo e voltei a dormir. Eu dormiaté as 10 da manhã, tomei um longo banho, lavei o cabelo, o sequei, passei sóum rímel, um delineador e passaria um batom, peguei duas trocas de roupacoloquei numa mala pequena, outro par de tênis, roupa intima, toalha, produtosde higiene. Eu não fazia plantão de 48 horas a algum tempo e sempre que faziaeu me precavia de ter mais roupas. Os chefes de departamento não precisavamusar o uniforme preto o dia todo, então eu levava roupa extra, mas quando iapra cirurgia e colocava o uniforme preto eu optava por ficar com ele o resto odia. Natalie entrou no quarto. 

PARTES DE NÓSOnde histórias criam vida. Descubra agora