Capítulo 43

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PRISCILLA NARRANDO...

Natalie e eu vamos assumir guarda provisória das meninas como lar temporário. Tinha muita coisa acontecendo nas nossas vidas, eu estava cansada, tomando remédio demais, sob pressão. A assistente social que se mostrou muito gentil no começo deixou claro depois o quanto é insuportável. Ela fez vários comentários bem desagradáveis na minha casa, querendo saber sobre nosso apartamento por ser num bairro nobre, ser um apartamento de alto luxo, que meu salário de médica não banca aquele apartamento. Minha vontade era de voar na cara dela. Eu fui trabalhar morrendo de dor de cabeça e nervosa. E ainda tinha que lidar com o imbecil do residente que quase matou a Louise. Cheguei no hospital tomei um comprimido e fui na sala do chefe, ele estava falando com o meu residente.

Chefe: Entra doutora. – entrei e sentei.

XX: Como ela está?

Eu: Viva, por enquanto. Mas o quadro dela piorou bastante, sabe o que isso significa? Que você quase matou essa mulher e que você acelerou e muito a morte dela. Ela tem duas filhas que não tem mais ninguém na vida e você está tirando a mãe dessas meninas muito mais rápido do que seria, porque você é um péssimo profissional. Você não deveria ser médico. – falei nervosa.

Chefe: Calma doutora.

Eu: Calma é o caramba. Isso é grave de uma tamanho que não dá para explicar. A sua licença pode ser tirada de você antes mesmo de consegui-la. Você é um residente, eu sou responsável por você. Eu sou médica desde que você chupava seu dedo, e tudo que você fizer de errado a culpa é minha. Por que eu sou responsável por você, por sua carreira e por tudo de errado que você faz.

XX: Doutora, eu não tive intenção, eu fui desatento.

Eu: Foi desatento, tudo que um médico não pode ser... DESATENTO... O que te levou crer que uma pessoa com o potássio quase zerado tinha que receber fluidos com zero de potássio? Se ela estivesse prestes a receber um órgão, ela não ia poder mais, e agora ela está lutando pra viver por um pouco mais de tempo. – eu estava explodindo. A tontura veio na hora.

Chefe: Está tudo bem doutora?

Eu: Está... Eu só estou nervosa.
Chefe: Então doutor, você está fora da tutela da doutora Pugliese, e fora da residência cirúrgica por tempo indeterminado e sob supervisão. Eu vou verificar cada sutura, cada esparadrapo que você colocar em um paciente.

XX: Tudo bem chefe... – ele saiu.

Chefe: Você precisa se acalmar.

Eu: Eu preciso enforcar esse cara e matar as duas pessoas que mataram meus filhos... – tudo ficou escuro. Quando acordei eu estava no soro e na medicação. – Eu apaguei não foi? – perguntei a enfermeira.

XXX: Sim doutora. Seu cérebro praticamente desligou. A senhora ficou 15 minutos no oxigênio porque até a sua saturação caiu.

Eu: Como está minha pressão?

XXX: Está normal agora... Quer olhar seu prontuário?

Eu: Quero. – eu li tudo e suspirei. – Uma psiquiatra vai vir aqui não é?

XXX: Vai. Doutora... – sentou na cama – A senhora precisa de ajuda. Eu vejo isso desde o dia que começou a trabalhar aqui. A senhora é uma médica maravilhosa e meu Deus... – suspirou – Quantas pessoas vão ter a sorte de serem tratadas pela senhora. Mas pra isso, a senhora precisa ficar bem. Cuidar da sua saúde física, e da mental também. – pegou minha mão – Eu sei do que aconteceu aos seus filhos e eu vou estar lá no dia do julgamento porque eu quero justiça. E a senhora precisa estar bem pra isso.

Eu: É um sentimento muito louco – deixei cair uma lágrima – Sabe que eu chego em casa e fico esperando ouvir as risadas deles, ver os dois descendo as escadas, ver os brinquedos espalhados pela casa. As vezes eu acordo de manhã com a sensação de que tudo foi um grande pesadelo.

XXX: Tem poucos meses ainda. Vai doer bastante são seus filhos, o maior amor do mundo. Mas por mais que seja difícil não pode deixar isso te dominar, fazer você de refém. – alguém bateu na porta era a psiquiatra. – Vou indo. Logo venho te ver.

Eu: Obrigada viu. Deveria fazer psicologia, é boa nisso. – sorri.

XXX: Estou fazendo.

Eu: Quando precisar de indicação pode contar comigo.

XXX: Obrigada.

Psiquiatra: Oi...

Eu: Oi...

Psiquiatra: Como você está?

Eu: Cansada, enjoada e com dor de cabeça.

Psiquiatra: A gente precisa conversar, sobre as suas medicações, e sobre o que aconteceu aqui hoje e vem acontecendo desde a perda dos seus filhos.

Eu: Desde que meus filhos foram assassinados né?

Psiquiatra: É... Meu nome é...

Eu: Eu sei seu nome. Elizabeth Russen.

Psiquiatra:Isso... – a gente conversou por uma hora, me falou dasmedicações e ela tirou todas que eu estava tomando e passou novas medicações.Depois de um tempo minha mulher chegou. Nem pedindo para não avisá-la merespeitaram. Eu fui pra casa e passei o dia sonolenta. Fiz umas compras nainternet para preparar a chegada das meninas. No dia seguinte montamos tudo bemcedo, as meninas chegaram depois do almoço. Mostramos o quarto pra elas,ajudamos a colocar as roupas no lugar. Eu fiquei responsável por colocar ascoisas da Ivy. Conversamos bastante com a Claire sobre sonhos e eu e a Natalieestamos vendo um curso de culinária pra ela. Ela tem muita vontade de fazer. Algunsdias depois as meninas já estavam bem lá em casa, a pequena ficava um poucoenjoadinha as vezes, mas logo ficou bem. Conversei com a Louise sobre ela morarna minha casa, ela agradeceu muito, mas não quis. Cogitou a mudança para o meuprédio ou para o prédio do lado. Mas ela era consciente de que talvez ela nãosairia do hospital mais. Os remédios novos estavam me destruindo, eu estava mesentindo exausta. As meninas já estavam em casa, estávamos nos acostumando comelas e elas com a gente. Passamos o final de semana juntas. Na segunda fuitrabalhar depois que a Natalie chegou, ela tinha ido levar a Claire na escola eeu fiquei brincando com a Ivy. A Nat não chegou bem em casa na quinta e aClaire disse que ela ficou o dia todo no quarto e tinha chorado. Ela foi naescola dos meninos a professora pediu que ela fosse lá e pegou os desenhosdeles. Eu chorei muito quando vi. Eu estava sufocada com isso com a dor que eusentia da ausência deles. 

PARTES DE NÓSOnde histórias criam vida. Descubra agora