Capítulo 47

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Louise: Ouviu nossa conversa?

Eu: Parte dela. – sorri. – Como você está?

Louise: Cada dia pior Priscilla... Eu não vou aguentar muito tempo eu sei disso. A Sonja já veio aqui.

Eu: Eu imaginei. – Sonja era uma psicóloga do andar de cuidados paliativos para pacientes terminais. – Eu vi que seu quadro piorou bastante.

Louise: As meninas... Elas não podem ser separadas – começou a chorar.

Eu: Louise, elas não vão ser separadas ok? Eu estou aqui, a Natalie também, elas estão com a gente. – me sentei na cama e peguei na mão dela. – Eu quero que seja sincera comigo. Você quer que as meninas fiquem conosco permanentemente? Não queremos fazer nada que não seja do seu agrado ou do agrado delas. Somos um casal gay e infelizmente nem todo mundo vê com bons olhos a adoção por um casal gay. E a assistente social Mariene deixou isso claro nos inúmeros comentários sem noção que ela fez quando ela viu nosso apartamento. Eu percebi que ela não estava preocupada com o bem estar das meninas no quesito financeiro embora ela perguntasse só sobre isso, mas colocou em duvida se teríamos capacidade de cuidar das meninas usando esse quesito financeiro. Minhas esposa e eu nunca falamos de dinheiro com outras pessoas. Mas foi preciso falar que ela ganha 130 mil dólares por mês e eu ganho 100 mil por mês para que ela se constrangesse e parasse de nos bombardear. Ela quis evitar que as meninas ficassem conosco eu senti isso. – suspirei. – Então eu estou te perguntando. Você tem alguma objeção das meninas serem adotadas por nós duas?

Louise: De maneira alguma Priscilla. Elas estão bem, estão felizes com vocês, bem cuidadas. A Mariene veio com essa conversa pra mim que talvez fosse melhor encontrar um casal de pai e mãe para ficar com as meninas e eu não gostei do comentário dela. E por isso eu entrei em contato com o meu advogado, eu refiz o meu testamento e eu pedi a ele que fizesse um documento onde eu passo a guarda das meninas para vocês após a minha morte automaticamente. Que eu não aceito que as minhas filhas sejam separadas e adotadas por outras pessoas. Eu pedi que fosse feito esse documento e eu o apresentaria a vocês duas e se vocês concordassem eu assinaria e vocês também. Assim, logo após a minha morte, vocês entram com o pedido de adoção e com o documento pulam toda a burocracia porque eu já fiz uma doação direta a vocês.

Eu: Tudo bem. Obrigada por isso. A gente assina esse documento.

Louise: E para me cercar de todos os cuidados, eu pedi uma avaliação psiquiátrica e psicológica do fórum para que atestem minha sanidade, para que isso não seja colocado a prova após a minha morte já que você é minha médica para ninguém atestar insanidade ou coação. Principalmente porque a Mariene vai tentar entregar minhas filhas pra minha irmã e eu não quero as meninas um só dia nas mãos dela e nem um centavo do meu dinheiro na mão dela.

Eu: Perfeito... quando tudo estiver pronto pede seu advogado para entrar em contato comigo que a gente faz tudo.

Louise: Ta... E mais uma vez obrigada por tudo.

Eu: Não tem que agradecer. – beijei a mão dela. – Você vai para um exame agora e depois a gente conversa tá?

Louise: Tá... – ela foi levada para os exames e eu fui junto para a ressonância.

George: Está pensativa.

Eu: Tem algo errado George. Não era pra ela está degenerando tão rápido.

George: As imagens dela continuam limpas Pri... Ela não pode com o contraste, ela é alérgica. – Eu tive um estalo.

Eu: Mirian, vira a cabeça dela a 90 graus para a esquerda por favor. – apertei o interfone. Refiz a imagem. – Olha George...

George: Não é artefato de imagem?

Eu: Parece real pra mim.

George: Ela tem um tumor na área de broca e no córtex central. – suspirou – Só fica pior. Por isso ela está degenerando tão rápido. Se tirarmos os dois...

Eu: Ela fica tetraplégica e pode não falar nunca mais e morrer também.

George: E se deixarmos, ela vai morrer do mesmo jeito Pri.

Eu: Vamos perguntar a ela. Eu acho que ela vai preferir ficar como está e ainda poder falar com as filhas, tocar nas meninas até o ultimo dia de vida, do que perder todos os movimentos do corpo e não falar nunca mais – fomos falar com ela e ela não quis a cirurgia.

Louise: Eu não quero que a Claire saiba. – secou a lágrima que caia. – Eu vou morrer de qualquer jeito, e eu prometi ser sincera com ela, mas isso eu não quero que ela saiba.

Eu: Tudo bem. O que você quer?

Louise: Quando eu estiver estável, quero ir pra casa. Eu quero morrer na minha cama Priscilla, no meu quarto, com meus cobertores. Mas existe alguma coisa que possa ser feita para evitar que cresça?

Eu: Podemos medicar você, para te manter confortável e encolher e travar o tumor. Pode ser até que você consiga mais tempo porque vai travar a degeneração.

Louise: E eu talvez morra falando e tocando nas minhas filhas... Sem perder mais do que já perdi?

Eu: Sim... A grosso modo, é isso.

Louise: Ok, vamos tentar. Mas assim que puder, me mande pra casa, quero morrer na minha casa, no meu quarto, não quero que isso seja assustador para as meninas, quero prepara-las, principalmente a Claire.

Eu: Tudo bem querida. Eu sinto muito.

Louise: Eu também sinto... – falou triste. Eu fui ver outros pacientes, depois a junta médica se reuniu para falar sobre o caso dela e foi decidido que assim que ela estabilizasse, ela iria para casa com um homecare que ela já tinha. Ela teria ajuda psicológica todos os dias também, e as meninas também teriam. Eu trabalhei a noite toda, jantei era quase meia noite, dormi até as 4 da manhã e acordei para atender uma emergência fui para a cirurgia e sai as 9 da manhã da cirurgia. 

PARTES DE NÓSOnde histórias criam vida. Descubra agora