Capítulo 17

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Quando deu 19 horas me chamaram na sala a de reuniões. – Mandaram me chamar? – o conselho estava reunido e a Diorio estava lá.

Diorio: Senta Priscilla, por favor. – eu sentei.

Eu: A que devo a honra?

Diorio: A autopsia saiu como foi explicado e como é de praxe nesses casos.

Eu: E? – ela suspirou.

Diorio: E foi comprovado que realmente não tinha o que fazer nos casos que deram entrada aquela noite.

Eu: Precisou desse circo todo pra descobrir o obvio? – fui irônica.

Diorio: Priscilla...

XX: Doutora Pugliese, em casos como esse a gente sempre abre um processo para checar todos os pontos até mesmo se a família em algum momento tentar contestar qualquer coisa.

Eu: Paul Foster, 37 anos deu entrada em óbito. Samantha Foster, 13 anos entrada em óbito.

Diorio: Priscilla...

Eu: Marie Foster, 35 anos estava com o rosto desfigurado, com um hemotórax gigante, com um trauma de crânio desastroso. O cérebro dela inchou e herniou, ela teve perda de massa encefálica já no local do acidente e com o inchaço ficou ainda pior. Ela teve uma parada cardíaca e não voltava a 15 minutos. Se ela voltasse, ela não ia andar, ou falar, ou reconhecer qualquer pessoa que ela convive, sentar, comer, porque ela teve 3 áreas afetadas gravemente e estava com um derrame gravíssimo além de tudo isso. Essa mulher ter morrido foi uma benção pra ela, porque a sobrevida dela seria insuportável e ninguém nesta sala poderia ajuda-la. Declarei o óbito quando o coração dela parou de vez as 19:49. Joshua Foster, 5 anos, estava na cirurgia com outra equipe quando eu fui chamada na sala 3. Ele recebeu 5 transfusões de sangue e estava em parada a 26 minutos. O coração dele estava duro feito uma pedra e o as pupilas fixas e dilatadas. Ele estava com morte cerebral e soube que cinco minutos depois o coração dele parou. Fui chamada na UTI para ver o Philip de 7 anos. Ele foi estabilizado e levado para UTI porque a pressão arterial dele estava muito alta e ele não ia resistir a uma cirurgia aquela hora. Quando eu cheguei lá, ele sangrava pelo dreno, pelos ouvidos, pelo nariz, ele estava em choque e o coração dele parou. As pupilas fixas, e embora eu tenha tentado drenar o sangue acumulado no cérebro, o coração dele não aguentou, e ele morreu as 20:14. – suspirei – Está tudo ai no prontuário, eu fiz tudo que cada um de vocês que são médicos fariam. Não tinha o que ser feito, e eu não podia brincar de Deus eu não tinha o direito de brincar de Deus na sala de cirurgia. Eu fui médica, eu fui profissional.

XX: Doutora, isso tudo não foi criado para te culpar.

Eu: Para me ajudar é que não foi. Eu perdi meus filhos, não virei uma louca que sai matando pessoas com um bisturi nas mãos não. Eu vou voltar para os meus pacientes. Depois de amanhã minha carta de demissão estará na sua mesa doutora Diorio. – eu sai da sala batendo a porta. Eu sabia o que eu estava fazendo eu não colocaria minha carreira em risco e nem a vida de outras pessoas. Fui atender na emergência, era caso cirúrgico então mandei chamar um cirurgião eu não ia operar. Logo deu a hora de ir embora, eu não vi mais a Diorio e nem a Valentina. Eu fui para o carro e encontrei o Rodrigo.

Rod: Oi... Está chegando ou saindo?

Eu: Saindo. Entrei as nove.

Rod: Como está tudo ai?

Eu: Tranquilo. Foi um prazer trabalhar com você.

Rod: Espera, como assim?

Eu: Eu pedi demissão. Depois de amanhã vou entregar minha carta. entrei no carro e ele entrou também.

Rod: Pri você é a melhor neuro desse hospital porque vai sair? Por causa da observação e das autopsias?

Eu: Eu nunca colocaria um paciente em risco você me conhece Rodrigo.

Rod: Eu sei Pri, eu te conheço muito bem. E você sabe que isso é procedimento do hospital, mas teve o agravante que você está tomando muito remédio Pri, isso pode afetar seu julgamento.

Eu: Você acha que eu errei nesses atendimentos?

Rod: Não, eu não acho. E pra confirmar eu vi os prontuários Pri, você fez exatamente o que eu faria se estivesse no seu lugar, e qualquer outro medico faria. Você não errou em nada.

Eu: E eu não errei mesmo. O conselho me chamou – contei a ele.

Rod: Então pronto, assume seu cargo suas cirurgias de novo e pronto Pri.

Eu: Não. Eu estou a anos nesse hospital e a 3 anos a frente da chefia de departamento e eu nunca cometi um erro independente da situação. Eu operei o cérebro de uma criança de 2 anos e eu estava em trabalho de parto. Eu fiquei 6 horas dentro da cabeça de uma criança, tendo contrações e a criança hoje é feliz, corre, brinca, vai a escola. Inclusive era amiguinho do Lucca na escola. Eu não deixaria minhas emoções atrapalharem meu julgamento.

Rod: Eu te conheço muito bem Pri. Não sai daqui.

Eu: Decisão tomada. Vou pra casa, vou enviar alguns e-mails e é isso.

Rod: Preciso ir, tenho uma cirurgia agora. Mas pensa direito.

Eu: Bom trabalho.

Rod:Bom descanso. – ele desceu do carro e eu fui embora. 

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Determinada a romper laços

PARTES DE NÓSOnde histórias criam vida. Descubra agora