NATALIE NARRANDO...
Dois meninos... Caio e Arthur, nossos meninos. A gente estava muito feliz. Sonhávamos com a chegada deles. As meninas estavam animadas, nossa família toda estava animada. Nossa terapeuta disse que nunca nos viu tão felizes como na segunda feira após o chá revelação. Ela disse que a Pri estava diferente também. Que algo nela tinha mudado. Acho que todas nós mudamos nesses últimos anos. A Claire, a Ivy, a Pri e eu. A Vicky chegou depois do caos, não passou por nenhuma perda, nenhuma dor como nós quatro. A Ivy sabia dos pais e do irmãozinho que ela tinha perdido. Com cinco anos era mais real pra ela e a gente falava muito principalmente da Louise pra ela, como ela era uma mãe maravilhosa e a Claire se encarregava disso também, principalmente para falar do irmão e do pai. Um característica da Ivy comigo e com a Pri, é que ela não dormia e nem saia para a escola sem dizer que nos ama. Se a Pri está no trabalho ela pede pra ligar pra dizer que ama a mamãe dela. E se ela não pudesse atender ela deixava uma mensagem de voz pra ela e isso era todos os dias. Dizer eu te amo era habitual na nossa casa, não tinha um só dia que isso não acontecia. Nesses anos com todas as dores que vivemos, se tornou parte de nós, dividir as dores, os amores, os gestos de afeto, os abraços, a conversa, o sentimento seja feliz ou triste e a gente sempre tentava resolver de alguma maneira. Eu amava isso, todas nós amávamos isso. Nossa casa no Brooklyn hoje sustenta um lar para mulheres e crianças em vulnerabilidade comandada pelo padre Mike e pelo pastor Calton e pela pastora Betty. Foi uma união linda de congregações, pregando amor, carinho, fé, misericórdia. Podemos dizer hoje que apesar da dor e da saudade que ainda vive dentro de nós, a gente é feliz, a gente segue em frente de cabeça erguida e coração grato de podermos ajudar outras pessoas, de darmos voz a muitas mães e pais que perderam os filhos em situações semelhantes a nossa e que tiveram os filhos desaparecidos e ainda não tem pistas, com o apoio dos nossos advogados, com uma equipe de detetives. Fundamos a dois anos a Filhos, Partes de Nós que busca crianças desaparecidas, que ajuda com questões jurídicas filhos retirados de mães ou de pais por questões de repatriação de injustiça, por trafico humano. O dia das mães desse ano caiu no dia 8 de maio e foi uma linda festa lá em casa. No dia 19 de maio a Pri estava incomodada, sentindo o peso da barriga, comendo pouco e com muita sede e enjoada. Faltavam mais ou menos 20 dias para os bebês nascerem, já estava tudo pronto, o quarto, as lembrancinhas, as malas deles e dela. Meus sogros já estavam em NY desde o chá revelação o restante da família já tinha ido embora. Combinamos de ir ao cemitério no dia seguinte. Era ano de falecimento dos meninos e era sempre o dia dolorido para nós. No dia 20 acordei com a Pri levantando por volta de 2:30 e indo ao banheiro. Ela estava inquieta demais. Eu levantei junto com ela e quando cheguei no banheiro o choque...
Eu: Amor... Você está se sentindo mal? Está inquieta. – ela estava com uma mão na pia e a outra na barriga e olhando pra baixo.
Pri: A minha bolsa estourou. - me olhou deixando cair uma lágrima. A Pri estava um pouco diferente emocionalmente desde a madrugada do chá revelação com o sonho que teve com os meninos.
Eu: Ok... Está com contração?
Pri: Tive duas nas ultimas 2 horas. Estão com intervalo de 40 minutos.
Eu: Quer tomar um banho primeiro?
Pri: Vou ligar pra Scarlett primeiro – ela ligou e ela estava de plantão no Presbyterian. Eu a ajudei a tomar um banho, ela estava cansada demais, a ajudei a se vestir, me troquei também, peguei os carregadores dos nossos telefones, liguei para a fotografa e ela foi acordar meus sogros e a Claire. Minha sogra ia com a gente e a Claire ia ajudar o avô com as meninas e de manhã iria para o hospital. Eu peguei as malas e fomos para o carro. Não demoramos a chegar no hospital, fizemos a ficha dela e ela foi internada. A Scarlett a examinou.
Scarlett: Pri sua pressão está um pouquinho alta, e o parto não vai poder ser normal como já imaginávamos. Os dois estão sentados e não dá para virá-los. Vamos fazer uma cesariana. Agora são 4 horas, vou te dar uma medicação para a pressão agora e as 6 horas vamos colocar esses dois pequenos no mundo ok?
Pri: Ok – sorriu nervosa. Ela deu a medicação pra ela, colocou um monitor cardíaco nela e dois monitores fetais na barriga dela. Eu liguei para a fotografa de novo avisando a hora do parto e mandei mensagem para a Claire também.
Pri: Amor?
Eu: Oi amor? Quer alguma coisa?
Pri: Vai me achar uma louca com o que eu vou dizer?
Eu: Não sei... – ri.
Pri: Aquele sonho... Com os meninos dizendo que não iam me visitar mais no sonho.
Eu: O que tem?
Pri: Você acha que é possível... – passou a mão na barriga. Eu já tinha entendido.
Eu: Não sei amor... Sinceramente eu não sei. – uma hora depois a enfermeira checou a pressão dela e estava boa, e as 6 horas ela foi para a sala de parto. Eu e a fotografa fomos nos trocar, e íamos entrar após a anestesia. Logo deram o sinal que podíamos entrar. A Claire a minha sogra, os meus pais, a minha irmã já estavam no corredor. Uma cortina seria aberta quando eles nascessem para mostrarmos a família. – Você está bem? – me sentei ao lado da Pri.
Pri: Sim. Ansiosa – riu nervosa.
Eu: Eu também estou.
Scarlett: Então vamos trazer esses doispríncipes ao mundo... –ela ia falando tudo que estava fazendo.
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PARTES DE NÓS
أدب الهواةMeu nome é Natalie Kate Smith Pugliese, tenho 35 anos sou empresária, CEO da United em Nova York. Hoje moro num tríplex no Upper East Side em Manhattan, acabei de me mudar com a minha esposa. Sou casada a 12 anos com Priscilla Álvares Pugliese, ela...