My Teacher - beauany

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Josh Beauchamp
O sofá parece bem melhor depois de um jantar tão demorado e nervoso como o que eu acabei de chegar da casa da Any. O pequeno livro continua em minhas mãos – como algo essencial que não pode ser separado de mim de maneira nenhuma e isso me deixa com todas as questões entaladas na minha garganta diante dos segredos que estou escondendo dela.

O site que dá acesso ao e-mail de entrada da vaga na Universidade de Toronto continua com o espaço aberto no meu computador, sendo que eu tenho apenas uma semana para ir até lá dar a minha resposta definitiva para o conselho. A mesma coisa passava pela minha cabeça quando se trata da Any e a grande faculdade de Londres – falta menos de um mês para as vagas acabarem e ela acaba tendo que viajar para lá, a fim de finalmente realizar o seu maior sonho.

- E aí? Tá pensando no que? – nem vejo a Kim entrar na sala sentando ao meu lado com as pantufas roxas nos pezinhos delicados de uma quase adolescente – Uau! Isso é um dicionário? – ela pega o livrinho da minha mão sorridente – E em português? Caramba! Quem te deu isso? – ela revira as páginas até encontrar a citação da Any – Ah, sim... Tinha que ser a pessoa mais criativa que eu conheço, além de ter que te conhecer muito bem pra poder saber você sempre quis ir pro Brasil dançar carnaval – lembra me fazendo revirar os olhos antes de pegar o meu presente outra vez.

- Só pra você saber – começo pegando os meus óculos, já que a minha visão estava piorando nos últimos dias – O Brasil tem várias outras coisas mais interessantes do que o carnaval, festas que pessoas andam peladas e futebol – explico deitando com o objetivo de expulsa-la de lá, mas Kim não sai – Não tem mais nada o que fazer, não? – pergunto jogando o travesseiro nela que apenas vira para o lado desviando – Desde quando você entende de movimentos ninjas?

- Isso se chama coordenação motora, pé grande – diz me empurrando para pegar a maior parte do sofá – Além disso, já fiz todas as minhas malas, esqueceu? – lembra me fazendo assentir mais calmo após ser lembrado que em menos de 24 horas aquela casa ficaria bem mais vazia – Pode ter certeza que você é um péssimo irmão. Nem parece que vai sentir a minha falta – ela faz beicinho como uma pessoa dramática faria.

- Eu vou sentir a sua falta – me sento com uma dor de cabeça forte – Sempre sinto a sua falta, porque você é importante pra mim, esqueceu? – digo a empurrando de leve – E também não acho que iremos ficar tanto distantes um do outro... – sussurro um pouco mais alto do que eu queria realmente o que acaba fazendo com que Kim escute.

- Como assim? – os seus olhos azuis se arregalam curiosa, mas acabo dando de ombros me forçando a inventar alguma coisa – Josh? O que você andou aprontando, hein? – pergunta com os dois olhos cerrados. Dou de ombros me levantando tentando pensar como os personagens dos livros que sempre soltam repostas inteligentes.

- Só que eu sempre vou visitar vocês, Kim – digo fingindo limpar alguma coisa – Isso que importa, não é? Ficarmos juntos? – pergunto de costas. O silencio me assusta fazendo com que eu morda a minha língua diante do fato de eu ter falado demais – Kim? – me viro encontrando a loirinha com os dois braços abertos na minha direção, me abraçando com um sorriso que me deixa sem graça diante de toda a situação.

- Eu te amo, Kyle – diz e sei que está prestes a chorar – Pode ter certeza que você nunca teve nada a ver com o papai – eu a abraço de volta com uma dor excruciante no meu coração.

Any Franco
O papai deixou com que eu pegasse a bicicleta dele na manhã seguinte. Logo depois da escola fui até o endereço que o Noah havia me dado encontrando o estúdio que nós fomos quando saímos pela primeira vez. Estaciono o meu único meio de locomoção em um canto entrando no túnel que antes era lotado de grafiteiros, pintores e outros artistas gravando diferentes cenas da vida de diferentes formas.

O que me surpreende é chegar à última parede encontrando o que parece ser uma constelação inteira. É tão singelo e deliciado que fico sem palavras diante de todos os traços. Fico tão sem palavras que nem percebo o nome do Noah destacado em letras brilhantes no cenário de baixo, porque permito que todos os sentimentos e dúvidas me sacudam deixando as lágrimas formarem palavras que nunca serei capaz de expressar.

Vejo duas latas no canto. Pego uma delas e vejo que tem um papel grudado dizendo: “É a sua vez!”. Suspiro sem entender como é que eu vou fazer algo tão bonito quanto aquilo, mas mesmo assim espirro as primeiras gotas em forma de círculos alcançando todas as precisões que desejo de uma maneira que pensei não ser possível.

...

Estou suja. Realizada. Com vários pesos tirados das minhas costas.

Ando saltitante pela calçada até a minha bicicleta tão bonitinha estacionada. Eu sei exatamente o que escrever para a minha faculdade como a minha carta de admissão e isso está me deixando maluca, porque tem muito dentro de mim que precisa ser dito. No entanto, paro de raciocinar muito bem quando encontro uma morena de fios lisos roendo as unhas em uma pose melodramática.

- Emily?

Bom dia :)