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Josh Beauchamp
Dou espaço para que ela entre, o que a mesma faz em passos curtos, por causa do frio que deve estar por dentro daquelas camadas de roupa. Todo o cabelo está mais baixo – os cachos não aparecem mais, já que os mesmos foram destruídos pela tempestade que parece estar tendo do lado de fora -, além das botas parecerem ter se tornado pequenos barcos diante de toda a situação levando o resto das roupas – uma calça, uma blusa sem estampa e um casaco – que estavam se colando ao corpo dela.

- Parece que a coisa está feia do lado de fora – digo desviando o olhar da presença a minha frente, mesmo que isso seja muito difícil – A chuva está muito forte a ponto que eu tenha que me preocupar com uma inundação? – pergunto indo até a janela que fica na sala para poder ter uma noção maior do que está acontecendo no ambiente que fica além do meu apartamento.

- Parece que o homem do tempo errou quando disse que hoje seria um dia sem tempestades – responde parada no meio da sala pingando para todos os lados – Mas não é algo que precisa de ajuda da marinha pra ser resolvido – fala dando de ombros com um sorriso (finalmente!) brotando nos lábios vermelhos devidos ao frio. Me aproximo estendendo a mão para pegar o casaco molhado.

- Eu sou o homem do tempo, lembra? – digo fazendo com que o sorriso se alargue – E, além disso, você sempre fica vermelha quando está com muito frio – falo apontando para o corredor que dá na direção do meu quarto – A minha mãe não está mais aqui para que você tenha o grande prazer de pegar emprestado um dos grandes vestidos dela, mas o meu closet tem acesso garantido – ela assente mexendo a cabeça em um movimento quase imperceptível. Mordendo o lábio inferior, pergunta:

- A Kim já foi? – ela não andou nem um centímetro sequer, como faria em outra ocasião normal, mas dessa vez ela não fez. Faço que sim a observando abaixar a cabeça abrindo a boca em sinal que queria falar alguma, mas acaba a fechando novamente, como sinal que desistiu de dizer alguma coisa.

- Any? Por que parece que você parece adorar ficar molhada? – pergunto colocando o casaco dela em cima do balcão para que depois eu possa colocar na opção secadora da máquina de lavar roupas. Quando me viro, ela ainda está ali molhando todo carpete – Any, você quer me perguntar alguma coisa? – cruzo os braços na altura do meu peito.

- Só queria saber se posso dormir aqui hoje – diz olhando pra mim como se tivesse cometido um crime. Faço uma careta diante da dúvida que ela estava guardando para si, sendo que a coisa que eu mais queria era que ela resolvesse ficar comigo hoje – Mas não tinha certeza se eu poderia ou não, sabe? – explica dando de ombros.

- Minha casa, sua casa, nossa casa, lembra? – repito o que falei uma vez que ela esteve por aqui – Agora: vá para o nosso banheiro, tomar banho no nosso chuveiro para depois vim comer da minha comida, porque... – eu deposito um selinho nos lábios molhados dela – Eu sou o cozinheiro da casa – completo aceitando quando ela enlaça os braços ao redor do meu pescoço para me beijar outra vez.

Eu quase esqueci a dor que vi nos olhos dela, ou como ela parecia em pedaços quando os nossos lábios se tocaram. Quase esqueci tudo ali, com os braços dela me envolvendo com urgência molhando as nossas roupas. Quase esqueci todas as dores que estavam ao redor do meu coração quando a deixei entrar, porque a Any tem esse pode de me curar. Mas eu não sabia o quanto ela poderia me machucar caso resolvesse me quebrar por completo.

...

Ficamos em um impasse tradicional entre panquecas às nove da noite ou alguma coisa que tivesse carne e um bom molho por cima. Acabamos por escolher a segunda opção, já que é meio estranho comer panquecas tão tarde – também porque eu sempre acabo com uma das panquecas grudadas na parede. Tento não quebrar nada, enquanto viro a panela tentando fazer alguma coisa tão profissional quanto aqueles cozinheiros que participam dos programas de tv que a Kim costumava me fazer assistir.

A Any estava sentada em uma das cadeiras que ficavam atrás do balcão liso. Ela estava usando a minha blusa branca – aberta nos primeiros botões - os cachos estavam no lugar outra vez fazendo com que ela ficasse com um ar mais sensual – mais do que ela já é. Um caderno estava sendo rabiscado por uma caneta que ela encontrou no meu quarto, enquanto esperava a comida ficar pronta. Desligo o fogão curioso com o porquê de ela parecer tão concentrada da folha com linhas tortas, por isso me aproximo por trás beijando o pescoço dela fazendo com que no meio de todo o contorcionismo eu consiga ver o início do que está sendo escrito.

- Isso é um poema? – pergunto sentando na cadeira ao lado. Ela resiste em me contar, mas acaba dando de ombros arrumando a gola da camisa que estava atrapalhando a sua movimentação de qualquer forma.

- Poemas precisam de rimas, então podemos chamar essa obra prima da literatura de apenas mais um dos meus textos que nunca irão para qualquer livro que eu possa escrever – explica com um tom sério que me faz segurar o riso. Me aproximo ainda mais puxando a cadeira na direção dela para que assim que possa ouvi-la melhor, além de fazer com que ela perca esse ar autoritário que sempre tem quando estamos falando sobre algum texto.

- E fala sobre o que? – idago curioso. Ela faz que não, mas passo a mão pelo pulso dela a estimulando para que diga que sim – Vamos! Eu já fui o seu professor lembra? – pergunto a fazendo sorri – O que me diz maluquinha? Quer a opinião do mais inteligente e talentoso Josh Beauchamp? – pergunto a fazendo abrir o caderninho outra vez.

- Queria que ele soubesse / Que de todas as palavras que já escrevi / Ele foi a mais bonita delas / Quero que ele saiba / Que mesmo se faltar a luz / Sempre estarei ao lado dele / Quero que ele saiba que não importa / A distancia que os nossos corações estejam / Eu sempre e verdadeiramente / O sentirei daqui – ela me olha esperando alguma reação, mas não consigo dizer nada – Porque quero que ele saiba / Que, enquanto eu viver, todas as minhas batidas serão dele.

Toco na base da sua bochecha, colocando uma mecha do seu cabelo para trás, enquanto ela fecha o caderno delicadamente revelando o quão nervosa estava ao ter que ler algo tão verdadeiro para mim. Sinto que posso transbordar em mil sentimentos caso respire, mas mesmo assim o faço.

- Eu consigo te ver – digo com as nossas testas coladas – Consigo te ver – repito como se ainda não tivesse ficado claro – Consigo te ver daqui, maluquinha – nossos lábios se tocam e sinto que estou chorando. Ela me abraça sem afastar a minha boca da dela, tremula, ciente do que está acontecendo.Está acontecendo caro leitor. Mas o que está acontecendo?

Está acontecendo que eu e ela nos tornamos reais.

De todos os capítulos que já escrevi, esse foi o mais difícil pra mim por diferentes motivos, mas principalmente por sentir que os personagens são mais profundos do que eu estava prevendo. O Josh e a Any me ensinaram que para amar é preciso muito mais do que apenas sentir o seu coração batendo mais forte, mas sim de enxergar a pessoa por trás de todas as cortinas.
My Teacher me ensinou que a Any e o Josh mereciam todas as histórias do mundo e existem tantas possibilidades.
Com amor,
Lara.

My Teacher - beauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora