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As minhas mãos tremem por vários motivos diferentes, mesmo que todos sejam pelo mesmo gesto de cabelo que apenas ele consegue fazer quando está prestes a falar algo muito difícil. As bochechas estão coradas – tenho vontade de dizer que ele também fica vermelho no frio – o suéter preto é completamente diferente dos tipos de roupa que eu estou acostumada a vê-lo usando. Percebo como a bota de couro gasta parece bem acomodada nos seus pés que começam a fazer um movimento de vai e vem na neve.

- Tomou uma decisão? – pergunto fingindo não estar ansiosa com as lágrimas na beira de explodirem a qualquer momento. Ele faz que sim e talvez seja a forma com que ele disse isso, como se tudo estivesse acabado com uma intensidade impressionante. Aperto os meus braços contra o meu corpo quase tremendo diante de toda a situação que nós dois temos que nos encontrar.

- Tomei – afirma mais uma vez – A minha decisão foi um sim, Any – engulo em seco sentindo o meu coração partir em mil pequenos pedaços – Enviei um e-mail para a faculdade de lá, sabe? – faço que sim apertando os meus dedos até que eles fiquem brancos, por causa da falta de circulação do sangue – A viagem é daqui a três dias, já que foi tudo em cima da hora – explica tomando cuidado com o que diz.

Tudo que eu quero nada mais é
Do que ouvir você batendo na minha porta
Porque se pudesse ver seu rosto mais uma vez
Eu poderia morrer como um homem feliz, tenho certeza

Assinto olhando para baixo. Posso chorar a qualquer momento, mas não agora. Não agora quando ele está ali na minha frente contando como tomou uma decisão certa e de como será feliz com isso. Sinto uma falta de ar enorme tomando conta do meu corpo, enquanto o Josh apenas espera alguma reação da minha parte.

- Eu fico feliz por você – consigo dizer com esforço – Fico feliz se estiver feliz – digo dando de ombros para olha-lo – Está, não está? – pergunto mesmo vendo a resposta nos olhos azuis dele. Josh faz que sim e de repente lembro cada pequeno momento. Desde as aulas em que as anotações se tratavam da combinação do meu nome com o dele, ou de quando conversávamos sobre o último livro citado nas aulas.

Quando você disse seu último adeus
Eu morri um pouco por dentro
Eu deito e choro durante toda a noite
Sozinho, sem você ao meu lado

- Estou – afirma olhando para os lados para depois olhar para mim – Deixaram a grama crescer? – pergunta apontando para o pequeno jardim que está ao meu lado. Fico chocada ao notar a mudança de assunto, toco nas folhas altas sussurrando um sim – Lembro que você sempre cortava a grama, lembra? Passava por aqui de carro e ficava me perguntando se por acaso você me viu alguma vez – revela me fazendo virar para encara-lo

Mas se você me amava
Por que você me deixou?
Tome meu corpo
Tome meu corpo

- Não sabia disso – digo quase sussurrando – Nunca me disse isso – falo ainda mais confusa. Josh se vira para me olhar e consigo sentir, consigo sentir em todos os sues gestos e modos que aquilo é um adeus. Precisa ser – Deveria ter me contado, senhor Beauchamp – a forma como o chamei a faz sorri e quase, quase deixo me levar – Todos os seus alunos vão adorar você – desejo que isso seja verdade – Talvez até algumas alunas apaixonadas... – brinco o fazendo tocar por cima da minha mão.

Veja, você trouxe o melhor de mim
Uma parte de mim que nunca tinha visto
Você pegou minha alma e a purificou
Nosso amor foi feito para as telas de cinema

- Só uma aluna realmente importou pra mim – conta colocando uma mecha de cabelo para trás da minha orelha – Só uma realmente vai importar pra mim – sinto os seus dedos tocando a base da minha bochecha – Se ela pedir para que eu fique, eu ficarei, sempre – pede com a súplica nos seus olhos. Toco no rosto dele, deixando passear pela quentura dos seus lábios.

Tudo que eu quero
E tudo que eu preciso
É encontrar alguém
Vou encontrar alguém

- Tenho certeza que ela quer que você seja feliz, Josh – digo sentindo os meus olhos ardendo. Algumas lágrimas caem a medida que ele se afasta devagar de mim com as duas mãos guardadas outra vez no suéter escondendo alguma coisa que vem dele. Quase espero que ele diga alguma coisa, mas nada sai.

- Adeus, maluquinha.

...

O que eu quero ser? É uma ótima pergunta. Muitas coisas passam pela minha cabeça, mesmo que eu tenha vários discursos ensaiados para esconder todas as coisas que ainda sinto. Talvez a resposta para essa pergunta seja: o meu pai, ou o meu irmão e até mesmo a minha mãe. Talvez seja a minha melhor amiga, ou os dois melhores amigos da minha família. Talvez seja as palavras da Virgínia Wolf antes dela se suicidar e acabar com tudo. Talvez seja apenas as citações, palavras perdidas que se encontram em determinado momento curando tudo de ruim que ainda existe ao nosso redor.

Talvez eu seja ele. O que sustenta todas as batidas do meu coração. As vezes quase desejo ser igual a ele apenas para experimentar ter a coragem de seguir os seus sonhos mesmo que isso destrua os dele. Quero ser o seu suéter azul, verde e preto. Quero ser a chuva que sempre participa das fotos nos melhores momentos. Talvez até queira ser as fotografias que estão no corredor do seu apartamento.

Mas antes de tudo, querida quase faculdade, quero ser corajosa a ponto de conseguir sair de trás da cortina. Quero ser corajosa a ponto de pular de um penhasco ou correr até um aeroporto. Talvez eu queira ser muitas e muitas coisas. Sinto muito não poder dá uma resposta certa. No entanto, consigo dizer que quero ser frases soltas, palavras fluidas, fotografias e segredos.

Há muito tempo achei não ter mais chance, mas tive. E quem me salvou foram as palavras. Eu também quero salvar alguém contando o que o meu coração deseja.

Com ansiedade,
Any Gabrielly Rolim Soares Franco.

Ai meu Deus!! Imaginar que eu já terminei a primeira temporada no meu computador.
Lara. 

My Teacher - beauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora