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Any Franco
Cortei a grama sem muita vontade. No momento, estava sentada no sofá com os dois olhos fechados quase como se estivesse dormindo, enquanto o meu pai lia o jornal e a minha mãe assistia a um programa de luta na tv. Fechei ainda mais o casaco ao redor do meu corpo, já que a janela estava aberta por causa da ventilação dos cômodos. Abri apenas um olho encontrando os dois outros pares na minha direção me avaliando devagar.

- O que foi? – pergunto sem muita vontade me ajeitando na pequena poltrona apenas para fechar os olhos depois, outra vez. A minha mãe dá de ombros (sempre faz isso quando não quer conversar sobre alguma coisa), mas ao invés de fazer a mesma coisa que ela acabou de fazer, o meu pai acaba me encarando de maneira incisiva.

- Por que não me contou da viagem do Josh? – o nome me desperta. Sento com as costas bem eretas sentindo cada pequena parte do meu corpo que eu estava tentando manter tranquila acordando diante da lembrança do loiro voltando e com força – Ele ligou hoje mais cedo para me agradecer, já quem amanhã vai viajar pra Toronto – explica. Amanhã. O meu coração se aperta prestes a se destruir mais uma vez.

- Achei que fosse melhor esperar que ele contasse – digo mentindo. Não contei, porque isso acabaria fazendo tudo ficar mais real e já bastava saber que é real – Além disso, não tinha certeza se ele ia querer que vocês soubessem de primeira mão, sabe? – ele faz que sim acompanhado da minha mãe que faz o mesmo – Não porque eu quis esconder alguma coisa, entende? – eles fazem que sim outra vez me olhando perplexos. Sinto as lágrimas que pensei já terem sido eliminadas na noite anterior voltarem levando cada pedaço meu com elas – Queria ter contado – repito mais uma vez.

- E por que não contou? – ele pergunta como se tivesse ignorado tudo o que acabei de dizer – Não querendo dizer que você não contou, porque não quis... – tenta, mas me levanto antes que eu acabe falando algo que me trará muitas consequências negativas mais tarde – Any, não devemos conversar sobre isso? – me viro e os dois estão de pé esperando alguma reação da minha parte. Mordo o lábio inferior com força.

- Não – afirmo – Não quero conversar sobre isso. Não quero agir como se estivesse tudo bem o Josh estar indo embora, sendo que nós dois estamos acabados – ai droga. Coloco a mão nas minhas bochechas – Eu estraguei a vida dele assim que permitir que o meu coração fosse entregue inteiramente a ele e nunca vou conseguir superar isso, pai – agora estou chorando como um bebe furioso – Não contei porque parte de mim ainda acredita que poderemos ficar juntos como em toda a história clichê, mas eu sei que isso não é verdade e esconder isso só adiará o que já está acontecendo – falo jogando pra fora tudo que já estava entalado dentro de mim.

Os dois me encaram confusos diante de tudo o que acabei de dizer. Seguro com força a barra de proteção da escada sem saber o que fazer diante de todos aqueles olhares que estavam sendo lançados na minha direção. Penso se seria muito estranho ficar ali parada, acabo concluindo que sim, por isso subo rapidamente os degraus entrando no meu quarto desejando nunca mais sair.

...

Resolvi arrumar algumas coisas que estavam jogadas ao redor do meu quarto. Fico com preguiça na metade do caminho, então me jogo no tapete macio que fica no meio do chão, enquanto toca coldplay na minha caixinha de música como se fosse apenas mais um dia normal que estava sendo contabilizado na minha vida – o que de fato não era e isso fez com que os meus pensamentos rodassem em torno de apenas uma coisa: que citação ele usaria agora?

“Tentar se afastar de mim, não vai fazer diminuir o que eu sinto por você...” foi a primeira frase que acabou passando pela minha cabeça várias e várias vezes. Talvez Hazel Grace estivesse certa ao dizer que o esquecimento é inevitável, mas não importa quantas vezes você tente concordar a ideia de ser esquecido se torna cada vez mais difícil. Talvez eu esquecesse o meu grande professor de literatura Josh Beauchamp em algum momento. Talvez. Mas eu sabia que nunca esqueceria o Josh, loirinho que gostava de bater fotos do pôr-do-sol, além de sempre parecer extremamente voltado a compartilhar citações dos seus livros favoritos e talvez isso eu nunca esqueça.

Fecho os olhos tentando imaginar o inimaginável. O que aconteceria caso eu fosse correndo até o aeroporto usando o meu tênis mais surrado? O que aconteceria caso eu saísse do taxi em cima da hora, ouvindo a última chamada do voo para Toronto que deveria ser dele, mas acabo dando de cara com os seus cachos parados, enquanto o seu dono observa o painel atentamente e tudo seria muito possível em contos de fadas.

Já é outro dia. Acabou de dá meia noite e sinto certa dor nas costas diante da minha posição no chão, no entanto, não me levanto para ir até a cama. Ao invés disso, me viro apenas para o lado encontrando o porta retrato que guarda a minha foto favorita do Josh virado para o Sol. Sem perceber estou sorrindo para a imagem do lençol enrolado ao redor do seu quadril, enquanto ele sorri surpreso ao escutar o “clic” da máquina no silencio do quarto.

Talvez eu saiba exatamente qual seja a nossa citação: “Às vezes, se apaixonar é a atitude mais corajosa que alguém pode ter.” Nos últimos anos, a única coisa que eu queria era ser corajosa a ponto de sentir o coração pulsando de verdade por alguém que me ame e que eu o ame. Eu e o Josh fomos as pessoas mais corajosas que alguém já conheceu. Eu fui uma pessoa corajosa, porque eu o amei de todo coração e talvez isso nunca possa ser explicado corretamente, mas eu o amei.

Ele me salvou mesmo sem saber.

My Teacher - beauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora