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Megan Willians

Chegamos à mansão com um Donato que insiste em se chamar John. Sério, universo? Logo comigo, preciso lidar com algo tão desolador? Eu sei que nem sempre fui uma pessoa exemplar, mas juro que meu coração é repleto de bondade. 

Donato me encara como se eu fosse uma completa lunática, e eu não consigo deixar de olhá-lo da mesma maneira. 

De repente, sou arrancada de meus devaneios quando vejo Steve e Nathaniel correndo em direção a John, abraçando-o efusivamente. Tento sorrir diante disso, mesmo que nada tenha acontecido como eu imaginava. A presença dele aqui já me traz uma alegria efêmera, embora saiba que as sombras do passado nos perseguem implacavelmente.

— Quem são essas pessoas, investigadora? — John pergunta, com os olhos arregalados e as sobrancelhas franzidas. 

Sua expressão denota aflição e curiosidade, mas já não há mais o medo que antes era tão visível em seu rosto.

— Do que ele está falando, Megan? — Nathaniel pergunta, ansioso, enquanto se afasta lentamente.

No entanto, permaneço imóvel, com a resposta presa em minha garganta. Não sei como explicar toda essa situação complexa, como encontrar as palavras adequadas. Sinto uma crise se instaurar dentro de mim, e, por isso, encaro todos sem demonstrar emoção alguma. Engulo em seco, lutando para conter as lágrimas que ameaçam inundar meus olhos. Porém, é Jane quem percebe meu desespero e decide intervir.

— John, peço que se sente, por favor, e tente manter a calma. Vamos esclarecer toda essa situação agora mesmo — diz Jane, apontando para o sofá. 

Observo o homem da minha vida se acomodar com serenidade, mantendo sua aura de elegância inalterada. Enquanto um telefone toca, John o pega em suas mãos trêmulas. Percebo que ele pede permissão para atender a ligação, e Jane acena discretamente com a cabeça. Eu continuo ali, imóvel, apenas uma espectadora nesse cenário desolador e carregado de melancolia.

— Alô? Meu amor, tive um imprevisto. Estou com a polícia. Fique calma, logo estarei de volta em casa. Amo você! — John fala com uma voz suave, e eu engulo em seco, encarando Steve, que parece tão chocado quanto eu.

Nunca palavras dirigidas a outra pessoa doeram tanto. Foram apenas duas, mas elas dilaceraram meu coração em mil pedaços. Faz sentido. Ele mencionou ter uma noiva. Quem eu estou tentando enganar? Um ano se passou, e certamente muitas coisas aconteceram com ele nesse período. Decido agir antes que alguém revele a ele sobre nós. Seria extremamente egoísta explodir essa bomba em sua vida agora. Percebo que Steve e Nathaniel estão imóveis, provavelmente tentando assimilar tudo isso.

— Então, John, meu nome é Megan. Estes são Steve, Nathaniel, Jane e Anastácia. Nós o conhecemos como Donato Moretti — digo, tentando parecer o mais imperturbável possível.

Tenho medo de deixar transparecer minhas emoções e assustá-lo. Para corroborar com minhas palavras, mostro-lhe uma foto de todos nós, tirada na China.

Observo seu rosto empalidecer, ele engole em seco, e sua ansiedade começa a transparecer. Vejo-o passar a mão pelos cabelos, bagunçando-os, um hábito que ele sempre teve. Sorrio, reconhecendo cada uma de suas peculiaridades. Em seguida, respiro fundo para continuar.

— Há um ano atrás, aconteceu um acidente que o deixou inconsciente. Eu estava no hospital quando alguém o sequestrou. Desde então, temos procurado por você incansavelmente — confesso suavemente, observando-o. 

Ele parece completamente devastado. Talvez tenha sido muita informação de uma vez só. Ele se levanta e caminha até uma das janelas da casa, parecendo refletir sobre tudo. Aguardamos alguns minutos até que ele retorne, com o rosto pálido e as mãos trêmulas. Ele umedece os lábios e me encara.

OS RISTRETTOSOnde histórias criam vida. Descubra agora