🔴 Prólogo 🔴

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Anos atrás...

Nathaniel Moretti

Eu não consigo acreditar que estou cheio dessas malditas espinhas por todo o meu rosto. Mas, enfim, não sou conhecido por ser o garoto mais bonito da família Moretti. Esse título pertence ao meu primo Steve.

Hoje, voltamos para a escola depois de dois anos estudando em casa com professores particulares. Sinceramente, o que eu menos queria era voltar para a escola com essa aparência. Estou usando aparelho nos dentes, preciso usar óculos porque meus olhos estão irritados com as lentes de contato e engordei um pouco. 

Tenho certeza de que a galera da escola vai me fazer bullying. Serei motivo de piada em todos os grupos possíveis. E, para piorar ainda mais a situação, terei que usar o nome Nathan Silveira, pois não podemos divulgar nossas identidades devido ao risco de vida que corremos.

Entro no carro e o motorista nos deixa, a mim e aos meus primos, na escola. Cada um segue para sua sala. Com o coração acelerado, escolho uma carteira próxima à janela, no fundo da sala. Talvez assim eu não seja o centro das atenções de ninguém. 

Enquanto espero os outros alunos chegarem, escuto os xingamentos que cortam o ar, como "baleia-assassina", "quatro olhos", "sorriso de arame farpado". Ignoro os insultos, tentando me concentrar em assuntos mais importantes. 

Afinal, Steve, esta noite será iniciado nos Ristrettos, e está sendo preparado para ser o nosso Don. Depois dele, eu e Donato poderemos nos candidatar a soldados. Sinto uma mistura de ansiedade e empolgação por essa perspectiva.

A aula começa e objetos começam a voar em minha direção: chicletes mascados, bolas de papel, até mesmo borrachas. Fico cada vez mais irritado com essa perseguição constante. Tento me concentrar no professor, mas é difícil quando sou constantemente alvo de brincadeiras cruéis.

Após horas intermináveis de tortura, finalmente o sinal do intervalo soa nos alto-falantes da escola, e todos saem em disparada da sala de aula, ansiosos para a pausa. Observo calado do meu lugar, procurando fugir de todas as brincadeiras malvadas. Decido ficar na sala de aula, pelo menos aqui ninguém irá mexer comigo.

Enquanto me sento no meu lugar, coloco meus fones de ouvido e começo a ouvir música. Observo os adolescentes no pátio, vendo casais namorando, crianças brincando e garotos da minha idade jogando bola. 

Por um momento, permito-me sonhar em ser como eles, uma criança normal. Mas a realidade me atinge novamente, lembrando-me que sou diferente, um garoto fora dos padrões que acaba se afastando de tudo isso.

Meus devaneios são abruptamente interrompidos quando sinto alguém tocando meu braço. Sobressalto-me e viro-me para olhar quem é, meu coração batendo descompassadamente no peito.

— Olá, eu me chamo Anastácia Taylor! — Ela fala com uma voz suave.

— Eu sei quem você é! — Respondo bruscamente, automaticamente assumindo que é mais uma brincadeira cruel dos adolescentes idiotas.

Ela parece surpresa com minha reação e sorri gentilmente.

— Ah, desculpe se pareci invasiva. Só queria conhecê-lo. Qual é o seu nome? — Anastácia pergunta, roubando um dos meus fones de ouvido.

Respiro fundo, tentando me acalmar. Olho diretamente nos olhos dela e decido responder, mesmo que isso me deixe vulnerável.

— Nathan Silveira. — Respondo, deixando escapar um leve tremor em minha voz.

— Posso te chamar de Nath? — Ela pergunta com simpatia.

— Pode, Anastácia! — Respondo, sentindo meu sorriso se alargar involuntariamente. — Então... O que a garota mais popular de Herkimer, líder de torcida, chefe do grupo de debate e candidata a rainha do baile, está fazendo falando com o patinho feio daqui? — Pergunto com um toque de deboche, tentando me proteger.

OS RISTRETTOSOnde histórias criam vida. Descubra agora